sábado, 4 de fevereiro de 2012

manifesto literófago, ou, sem manifestações aparentes

Normalmente eu escreveria aqui sobre o cushing, ou manifestaria qualquer coisa relativa à minha pessoa, mas meu corpo não se manifestou positivamente em relação ao cushing, portanto, minhas manifestações estão limitadas... Em meio a esse clima de férias, preciso que minha mente se manifeste pra eu voltar à rotina da escritura, mas por enquanto, só me vem coisas supostamente sem propósito. E dentro das coisas sem propósito, surgem manifestos...


MANIFESTO LITERÓFAGO

Só a LITERATURA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão desmascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as regiões. De todos os tratados de guerra.

To read, or not to read that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra o pai dos burros.

Só interessa o que se leu. Lei do leitor. Lei do Literófago.

Estamos fatigados de todos os fanáticos que compartilham drama. Facebook e Twitter acabaram com a catarse e com as surpresas da literatura impressa.

O que atropelava a verdade era a mídia, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o leitor enrustido. Qualquer site de busca informará.

Filhos do fator 50, mãe dos memes. Manipulados e alienados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos publicitários. No país da bunda grande.

Foi porque nós só temos gramáticas, e discussões de problemas estruturais. E nunca soubemos o que era contexto, diferenciar texto verídico ou ficcional. Preguiçosos no dicionário do Brasil.

Uma consciência ignorante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os postadores de consciência compartilhada. A existência lastimável da inclusão digital. E a mentalidade pré-lógica para o Dr. Drauzio Varella explicar.

Queremos a Revolução do Sofá. Maior que a revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção da web. Sem nós a mídia não teria sequer a declaração de seu ibope.

A idade da wireless anunciada pela América. A idade de ouro. E todos os smartphones. As mina pira.

Filiação. O contato com o Brasil Zumbi. Incolores idéias verdes dormem furiosamente. Chomsky. Signo, significado, significante. Saussure. A unidade do texto não está em sua origem, mas em seu destino. Barthes. Linguagem: da Linguística à Literatura, do estruturalismo ao socioculturalismo. Caminhamos.

Nunca fomos literarizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Clarice Lispector virar auto-ajuda. Ou Caio Fernando Abreu.

E nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.

Contra o Paulo Coelho. Autor de infinitos livros, para ganhar comissão. O mago (?) dissera-lhe: ponha isso no papel mas com muita lábia. Fez-se o bestseller. Gravou-se o escritor brasileiro. Coelho ganhou o dinheiro em diversos lugares e nos deixou sem lábia.

O livro recusa-se a conceber o livro sem o leitor. O livromofismo. Necessidade da vacina literofágica. Para o equilíbrio contra os fanatismos do cotidiano. E as inquisições exteriores.

Só podemos atender ao mundo virtual.

Tínhamos a loucura codificação da imaginação. A leitura codificação do ócio. Literofagia. A transformação permanente da citação em lição.

Contra o mundo irreversível e as ideias infundadas. Compartilhadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima da tecnologia. Fonte da ignorância clássica. Da ignorância das massas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Ponteiros. Ponteiros. Ponteiros. Ponteiros. Ponteiros. Ponteiros. Ponteiros.

O instinto internauta.

Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte da Web ao axioma Web parte do eu. Subsistência.

Conhecimento. Literofagia.

Contra as mídias digitais. Em comunicação com os ignorantes.

Nunca fomos literarizados. Fizemos foi o Carnaval. A mulher vestida de... ou não. Fingindo de feliz o ano inteiro. Ou figurando nos sambas-enredo cheios de bons sentimentos (?).

Já temos o consumismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade da web.

Ai se eu te pego

Ai, ai, ai

Se eu te pego

A magia e a vida. Temos relação com a distribuição dos bens físicos, mas dos bens morais não sei se somos dignos. Sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Agora, corrão para as colinas.

Perguntei o que era a liberdade de expressão. Alguém me respondeu pra ir à merda. Deletei-o.

Só há determinismo e mistério. Mas que temos nós com isso?

Contra as histórias do homem que começam no Big Brother. O mundo não dotado. Não rubricado.

Sem Napoleão. Sem César. Até sem tu, Brutus.

A fixação do progresso por meio de catálogos, aparelhos de televisão e computadores. Só a maquinaria. E os transfusores de hormônios.

Contra as sublimações anta(gônica)s. Trazidas nas novelas.

Contra a verdade dos povos milionários, definida pela sagacidade de um literófago, o Visconde de Sabugosa: - Ma-ma-mas Marquesa...

Mas não foram estudiosos que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos lendo, porque somos críticos e coerentes como o Pitbull.

Se Google é a consciência do universo virtual, Youtube é a mãe dos videntes. Facebook é a mãe dos sociais.

Não temos educação. Mas temos burocratização. Temos Política que é a ciência da má-distribuição. E um sistema social-planetário, ou globalizado, ou cibernético.

Os compartilhamentos. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.

De Paulo Freire e Saviani. A transfiguração da citação em lição. Literofagia.

A mídia e a criação da Moral das massas: Ignorância real das coisas + fala (sic.) de imaginação + sentimento de autoridade ante as mentes cansadas.

É preciso partir de um profundo abismo para se chegar à ideia de criticismo. Mas o internauta não precisava. Porque tinha o Google.

O objetivo criado reage como soldados da Al Qaeda. Depois o Twitter divaga. Que temos nós com isso?

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Antes dos brasileiros descobrirem a internet, deveriam descobrir os livros.

Contra a mãe enfermeira, salve os yorkshires.

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos imediatistas. As ideias tomam conta, reagem, queimam gente nas páginas públicas.Suprimamos as ideias e as outras paralisias. Pelos ponteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e no número de likes.

A alegria é a prova dos nove.

A luta entre o que se chamaria Curtido e Compartilhado - ilustrada pela contradição permanente do dizer e o fazer. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Literofagia. Absorção da informação macro. Para transformá-la em meme. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a literofagia real, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por antivírus, males tradicionalistas. O que se dá não é a catarse da leitura ficcional. É a frustração do instinto literofágico. Se real, ele se torna eletivo e cria a literaridade. Eletivo, leitor. Manipulativa, a mídia. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa literofagia aglomerada nos pecados televisivos - a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos brutos e/ou marginalizados, é contra ela que estamos agindo. Literófagos.

Contra o Michel cantando onze mil vezes o mesmo refrão, - ou à Luiza, que já voltou, mas deveria ter ficado por lá.

A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase de Monteiro Lobato: um país se faz com homens e livros. Colocamos palhaços analfabetos na política. Jogadores de futebol na Academia de Letras.

Alguém está vendo um país por aí?

Contra a realidade social, contra a realidade virtual, contra a realidade. Literariedade.


Rafaella Machado

Em Desterro

Ano X≠Y da Deglutição de Z

(Re-vista à Literofagia, Ano 0, No. 0, 2012.)



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p.s. Sim, esse texto é uma paródia de uma paródia, os erros ortográficos são propositais e coisas que aparentemente não têm sentido, fazem sentido se forem entendidas dentro de um determinado contexto. Não era pra eu explicar esse tipo de coisa, mas, como dizem "quando os outros não entendem a ironia, quem passa por ininteligível é você", enfim... aos interessados: http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf