quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sobre gostar de Madonna, ou, a aluna que se tornou, também, professora.

Hoje, enquanto voltava para casa de ônibus, do trabalho, escutava música no celular. Ultimamente esse momento é o único em que posso "pensar na vida", porque é o único momento em que não tenho como fazer alguma coisa relativa às aulas, então eu fico viajando nos pensamentos. Por mais incrível que pareça, apesar de eu assumir que andando de ônibus nós perdemos metade do dia sentados circulando pela cidade, é um momento produtivo. Não sei se já comentei isso, mas a ideia para o prólogo da minha dissertação do Mestrado foi toda elaborada num trajeto de ônibus. 
Enfim, enquanto eu escutava a rádio Itapema FM (porque é a única coisa que consigo escutar, já que, depois do assalto, estou com um celular nokia que parece um controle remoto e não dá pra colocar músicas de minha escolha) começou a tocar "Secret", da Madonna, e eu lembrei de quando eu tinhas uns 5 ou 6 anos e estava no Jardim de Infância ou Pré-escola, nessa época eu estudava no colégio "Ursinhos Carinhosos" (que agora nem existe mais e deu lugar a um condomínio residencial). Então, nessa época, lembro que eu adorava escutar e dançar sozinha, no quarto da minha mãe, o cd "Bed Time Stories", da Madonna. (um nome muito adequado para uma criança de 5 ou 6 anos, diga-se de passagem). Num desses surtos de dançarina, eu decidi que faria uma apresentação para os colegas da escola, mas queria que todos eles participassem, tinha toda a imagem da apresentação na cabeça (lembro até hoje dessa "imagem", coisa mais ridícula da vida), contei para as professoras, ou minha mãe contou, não lembro. Num belo dia, tudo estava esquematizado para a apresentação, mas... eu não dancei, óbvio, morri de vergonha e nem fiz nada. Por que eu estou falando tudo isso? Sei lá, acho que eu estava com vontade de compartilhar um mico de quando eu era criança. Mentira, não é só por isso. É que conforme eu escutava a música no ônibus, eu ia lembrando dessa situação e me perguntando "que outra pessoa deixaria e incentivaria uma criança a dançar e ser criativa no seu próprio ambiente de trabalho?" Só uma professora, mesmo. Ainda bem que eu não virei dançarina, porque imagina que desastre treinar no quarto e depois morrer de vergonha para apresentar. (deixo essa veia de dançarina pra minha prima que faz isso muito bem) 
Então, pensando em tudo isso, lembrei da orientação de TCC que dei ontem, para uma aluna da pedagogia, e pensei em como a educação infantil é uma coisa significativa na nossa vida e a gente nem se dá conta... Não sei como funciona o inconsciente, mas vai saber se isso também não influenciou minha escolha de carreira. Lembro como se fosse hoje que a minha professora da época não me podou, não impediu de eu me expressar e nem me repreendeu depois que eu disse que não ia mais dançar, ou seja, de uma forma ou de outra eu teria apoio dela. 
Claro que, com todas essas reflexões, pensei também na minha atuação como professora. É muito recente a minha relação com os alunos, afinal, sou professora há pouco tempo, mas acredito que eu levo um pouco de todas as professoras que passaram por mim (seja para concordar e seguir exemplos, ou para ser BEM diferente). Hoje eu vejo como a rotina de um professor é cansativa e consigo entender o porquê "daquele" professor não ter respondido e-mail no dia seguinte, ou "daquela" professora não ter corrigido as provas depois de uma semana, ou "daquele" professor que esqueceu de enviar o material para aula seguinte, ou "daquela" professora que não entregou o plano de ensino ainda... entre várias outras situações que ocorrem frequentemente e nós, como alunos, reclamamos e fazemos pouco caso. Não estou defendendo minha profissão, apenas querendo refletir sobre uma situação. Essa situação pode acontecer em diferentes casos, não só com professores, como por exemplo quando os nossos pais dizem "quando você for mãe você vai entender" (espero que isso demore um pouco para acontecer, mas imagino que vou lembrar dessa frase). A questão é: a gente deveria se colocar no lugar dos outros, porque um dia podemos passar por algo semelhante e vamos desejar que as outras pessoas sejam compreensivas. Parece simples, mas na prática, talvez não seja tão fácil. 
Eu sei que não sou uma pessoa muito fácil, mas eu tento. (juro!) O mais engraçado é quando vejo os alunos fazendo perguntas, ou tentando me explicar sobre o motivo de não ter entregado um trabalho no dia, ou pedindo para estender algum prazo, ou fingindo que está lendo o texto que eu dei, mas na verdade está com celular escondido, ou qualquer situação típica de aluno... e, tchanam! Me vem aquelas dúvidas: Será que eu pensava, na minha época de aluna, que eu conseguia enganar o professor? Ou será que eu achava que estava convencendo o professor? Porque eu ouço tudo isso e é tão estereótipo de aluno que dá vontade de rir, mas eu me controlo (às vezes). Porém, tive várias situações específicas com alunos, que não foram tão previsíveis assim, mas a gente, como professor, aprende a lidar e aprende a improvisar e se aperfeiçoa nisso. Talvez o que me encante todos os dias na vida de professora seja justamente isso, o que parece ser um trabalho rotineiro, nunca é a mesma coisa, por mais previsível que seja. Quem sabe algum aluno me surpreenda querendo "dançar Madonna" (metaforicamente, gente, por favor) e eu apoie, porque meu trabalho é esse: incentivar, instigar, ajudar os alunos a ter iniciativa e, talvez apoiando, coloco-os em dúvida, e acabo fazendo eles tomarem decisões... Como diz o meu irmão, "a vida é cheia de mistérios".
Enfim... várias fases da minha vida eu lembro quando escuto alguma música e, pensando nisso, acho que a trilha sonora da minha vida é meio esquizofrênica... Quando eu era bebê, dormia com música peruana; quando tinha 5 anos dançava Madonna no quarto (sozinha) sem medo de ser feliz; quando tinha 10 anos escutava Leila Pinheiro e chorava horrores porque morava em Joinville e queria voltar para Floripa; com 15 anos ouvia Slipknot  e Kittie (rebelde, ui); com 20, Beatles e hoje... Bom, posso dizer que sou/escuto muita coisa, porque passei por muita coisa e, apesar dos grandes micos da vida, não me arrependo de ter "escutado todos esses tipos de música", porque esse meu 1/4 de século já tem história e ainda está tentando compreender tantas outras coisas...