terça-feira, 30 de setembro de 2014

um quarto de século e as hipóteses.

– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é? 
(LOBATO, Monteiro. Memórias de Emília, 1936)

Começo esse meu post de hoje assim, pensando nas hipóteses. 

Hoje, dia 30 de setembro de 2014, sou uma mulher de 25 anos de idade, tenho um quarto de século vivido. Pensando assim, às vezes me sinto uma velha: já faz 6 anos que tirei CNH (e ainda não pego na direção por medo de seiláoque), espero pra pegar o "próximo" ônibus sentada, recebo ligação da Renner e já acho que é conta atrasada, tenho amigos há mais de 10 anos, a maioria dos meus alunos têm em média 15 anos (socorro!). Por outro lado, me sinto tão próxima dos meus alunos que às vezes acho que não posso ter vivido "tanto", gosto de ver desenhos animados, uso camisetas com estampas da disney ou de super heróis, ainda uso all star, a maioria das roupas no guarda-roupa AINDA é de cor preta (viu, não era uma fase, mãe!) , ainda tenho dúvidas e crises existenciais de quando tinha 15 anos (mas com um pouquinho mais de reflexão teórica, o que não sei se é melhor ou pior), ainda tenho amigos que zoam nos comentários de postagens do facebook (do tipo "a vida me fez rockeira", ou "a Rafa já foi uma gordinha batuta"), ou que postam fotos avacalhadas no dia do meu aniversário, ou que me chamam pra "roubadas"... Por isso, essa citação das "Memórias de Emília" representa bastante do que eu penso da vida. Num piscar de olhos as coisas passam, num piscar de olhos já se passaram 25 anos, num piscar de olhos a gente cresce - ou diminui, num piscar de olhos a vida se vai... Sim, a vida se vai, e a gente tem que ter vivido tudo o que queria - ou o que precisava - pra ela ter valido a pena.
No dia do meu aniversário um tio meu faleceu, passei o dia ao lado da minha família, mas não em clima de festa. Isso me fez refletir sobre muitas coisas que eu acredito, penso, imagino, faço... As pessoas são preparadas para o nascimento, durante 9 meses - tanto os que estão para nascer, quanto os que vão cuidar (ou não) de quem nasce. E para a morte? Nós não nos preparamos devidamente? O que seria nos preparar para a morte? Saber viver a vida? Saber lidar com perdas? São tantas as perguntas que as possíveis respostas são infinitas. Infinitas hipóteses. 
Depois de tudo que passei (com o cushing e etc), comecei a pensar mais no que pode ter "depois" (ou não). As pessoas que nos deixam, que morrem por qualquer motivo que seja, tiveram seu tempo, sua missão, ou seja lá como quiserem chamar. Quem fica sempre vai sentir um vazio enorme, mas quem vai cumpriu o seu tempo. Nunca li muito sobre espiritismo, (sou batizada em igreja católica, fiz 1ª comunhão, nunca mais fui em uma missa) mas acredito que temos um tempo a cumprir e, sim, infelizmente algumas pessoas têm pouco tempo. Infelizmente apenas para quem fica no mundo terreno. Não sei no que eu acredito depois que "saímos daqui", mas me conforta pensar que existe um depois. Depois que morremos, viramos hipótese. Hipóteses infinitas na mente de quem fica. Hipóteses de coisas boas (e ruins) que não aconteceram, hipóteses de um encontro "no além", hipótese de que viraremos energia positiva, hipóteses... Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa religiosa ou coisa do tipo, mas acredito sim num universo de energias e que estamos cercadas por elas. Por isso, nesse meu um quarto de século eu só posso desejar que as hipóteses da vida sejam todas energias positivas.
25 primaveras vividas com quem me ama, com quem eu amo. Sou grata a todos que já passaram pela minha vida, que ainda estão comigo e que ainda vão aparecer, que ainda são hipóteses ou que já foram. Principalmente, grata aos amigos que terei para sempre, sejam amigos de sangue, amigos de escolha, amigos que amarei nesta e em qualquer das estações. 

Se numa vida temos várias piscadas, desejo que todas essas piscadas sejam bem aproveitadas. Por todos nós. Viva a vida.

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