tag:blogger.com,1999:blog-86820505624057606532024-03-20T20:25:04.688-03:00Rafaella com dois L.Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comBlogger70125tag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-21121188467794898592024-03-20T20:24:00.000-03:002024-03-20T20:24:06.216-03:00 virei metáfora<div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">ontem, a casa era grande<br />eu cabia sempre nos mesmos lugares: sentada no mesmo lugar do sofá, deitada no mesmo lugar da cama<br />eu não sentava, ou deitava, ou ficava em pé em outros lugares, não tinha espaço <br />hoje, a casa diminuiu <br />ficou pequenina<br />mas agora tem mais espaço<br />e, curiosamente, eu me expandi<br />abro as portas e caminho por todos os cômodos, eu caibo em todos eles<br />nesse paradoxo de poder se expandir num espaço pequeno...<br />agora, eu me sinto a casa.</div>Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-21073336253762771292024-03-20T12:36:00.005-03:002024-03-20T12:36:41.959-03:00karukasy<div style="text-align: left;"> descobri que aquele sentimento que tenho nos fins de tarde tem um nome específico em tupi. karukasy.<br />mas ainda não sei o nome pra sensação de que tu ainda vai chegar em casa.<br />não sei o nome do sentimento da confusão que tem dentro do meu peito, quando eu te digo não.<br />não sei o nome que se dá pro vazio que eu sinto por saber que a coisa certa é a que dói.<br />às vezes, eu penso que é saudade.<br />às vezes, eu penso que é tristeza.<br />mas eu acho mesmo que a angústia de não saber o nome faz parte do processo que me destroça por dentro.</div><div style="text-align: left;">talvez se eu descobrir é porque não importa mais.</div>Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-12083957534038922712024-03-19T19:23:00.000-03:002024-03-19T19:23:08.702-03:00cheiros<div style="text-align: left;"><br />abri o perfume que quase não foi usado<br />lembrei que esse é cheiro da noite, das noites<br />anoiteceu<br />lavei os cheiros antes de dormir<br />agora, o que mais me falta é o cheiro<br />aquele cheiro, o outro<br />o cheiro do abraço<br />o cheiro do sono<br />o cheiro do cafuné<br />o cheiro da pele<br />adormeço<br />e acordando é que eu vejo o tempo passar<br />o cheiro de choro</div>Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-82096792206921830632024-03-10T14:21:00.003-03:002024-03-19T19:23:27.806-03:00domingo<div style="text-align: left;">segunda-feira, recomeço <br />terça-feira, não lembro das escolhas<br />quarta-feira, as lágrimas lavam a dor<br />quinta-feira, eu esqueço de comer<br />sexta-feira, eu esqueço de pensar<br />sábado, acordo sem ter pra onde olhar<br />domingo... o domingo é o vazio crescendo.</div>Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-58193319370971422542020-04-17T11:15:00.002-03:002020-04-17T14:45:20.138-03:00sentimentos, crises e pandemia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGXlAUg3pV_dUyqv1TFDZVzIA_jgApV2wjV-_LyD7XthC0bwVZGpLdmBLDHmc2eNelvURZnuqj-fw4Wx4qHigUFGtwnSumfHgI4Fx03uP0mzae6XPua2VVpyKa5t2ChDG2SWK1rwa796hl/s1600/pandemia+-+pr%25C3%25A9dio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="689" data-original-width="552" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGXlAUg3pV_dUyqv1TFDZVzIA_jgApV2wjV-_LyD7XthC0bwVZGpLdmBLDHmc2eNelvURZnuqj-fw4Wx4qHigUFGtwnSumfHgI4Fx03uP0mzae6XPua2VVpyKa5t2ChDG2SWK1rwa796hl/s400/pandemia+-+pr%25C3%25A9dio.jpg" width="320" /></a></div>
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Que loucura. Depois de um ano sem escrever, estou eu aqui de volta, em meio a uma pandemia. Muita coisa mudou nesse ínterim: o mundo inteiro está em quarentena, as aulas agora são online, as pessoas vão ao mercado de máscara, os antigos e famosos "motoboys" (que podem ser girls e podem não estar usando moto, e sim bicicleta, carro, a pé...) agora são os mais procurados e, também, explorados por nós e pelo capitalismo. </div>
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Hoje, em uma aula online com oitavos anos, resolvi parar pra conversar com estudantes sobre o que estavam sentindo, pensando, ou como estavam agindo e transformando suas rotinas nesse período. É incrível como a falta de interação presencial afeta a gente e todas as coisas que estávamos acostumados. </div>
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Muita gente afirma que, agora em tempos de isolamento social, as pessoas têm muito mais tempo para fazer coisas que não faziam antes. Temos mesmo? Ou estamos atolados em trabalho, em tarefas, em culpa por não estarmos sendo "produtivos" o suficiente de acordo com... quem? Me incomoda muito esse discurso de "não te faltava tempo, faltava disciplina" bla bla bla bla! Mais uma baboseira capitalista que exige de nós, em meio a uma pandemia, sermos máquinas de produzir conteúdo, máquinas de criação de ideias supostamente geniais, ou até "oportunistas". Estamos em crise. Crise de saúde. Crise emocional. Crise ambiental. São tantas crises que é difícil saber quais crises vêm primeiro. Inclusive, na atualidade, as pessoas podem ser divididas pelas suas prioridades nas crises. Há quem ache que o que vem primeiro é a crise financeira. Esses, normalmente, exigem dos que estão mais preocupados com a crise de fome que eles trabalhem pra manter o capitalismo girando. </div>
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É tanta crise que eu até esqueci da minha antiga crise da escrita e lembrei que esse blog existia.</div>
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Vendo os posts antigos, eu iniciei esse diário virtual em abril de 2010. DEZ anos atrás. É tempo. É mudança. Quem imaginaria que aquela Rafaella isolada em um quarto de hospital, que estava internada fazendo exames e que depois descobriria um tumor no cérebro, iria estar viva e saudável, passando uma crise mundial de saúde pra contar história...</div>
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Quando eu era bem mais nova, lembro de pensar que nada importante ou emocionante acontecia na minha vida. Nunca tinha quebrado um braço. Nunca tinha visto uma revolução. Nunca tinha tido um grande amor. Eis que um tumor no cérebro começou a mudar tudo que eu conhecia e sabia. Depois disso, veio o feminismo. Que baita revolução que o feminismo fez na minha vida! Fez eu entender relações de gênero, fez eu empoderar meninas, fez eu me envolver e me interessar por política. O feminismo fez eu entender que a sociedade é política. Eu me formei. Eu me tornei mestre. Eu descobri que minha mãe tinha uma doença autoimune. Eu casei. Eu trabalhei muito. Eu fui demitida. Eu sofri injustiças. Eu me recuperei. Tudo isso aconteceu pra eu morder a língua da Rafaella do passado que queria emoção. Agora estou eu aqui, há um mês em isolamento social dentro de casa, passando por uma pandemia mundial que daqui a muitos anos estará nos livros de História <span style="color: #cccccc;">(junto com várias análises críticas sobre um líder de Estado completamente incompetente)</span>.</div>
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Lição disso tudo: a gente tem que cuidar com o que deseja. </div>
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Mas a gente tem que aprender a viver, também. Tem que aprender a aproveitar os momentos "pequenos" e ver que isso também importa. Eu tô dentro de casa há um mês, tentando inovar em conteúdos online, morta de dor nas costas de ficar na cadeira em frente ao computador e corrigindo redações. Mas eu também tô vendo minha enteada começar a gostar de ler e ler livros inteiros em pouco tempo, eu tô conseguindo cozinhar com calma, eu não tô perdendo tempo dentro de um ônibus 4 horas por dia, eu tô vivendo bem (dentro do possível e dos meus muitos privilégios, por ter onde morar e ser uma pessoa com emprego) e eu quero lembrar disso daqui uns anos como um aviso pra todos mudarem seus hábitos, sua forma de ver o mundo. </div>
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Acho que, embora eu esteja surtando com pressão psicológica, emocional e tudo o mais por causa de uma pandemia, eu vejo que é o momento da gente refletir, nem que seja 5 minutos, sobre como queremos ser daqui pra frente. Se queremos aceitar toda essa pressão do capitalismo acima de nossa saúde física e mental. Se vamos aceitar tanta gente não podendo escolher entre ficar em casa e correr riscos na rua indo trabalhar. Se vamos tentar mudar. </div>
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Sei que normalmente eu escrevia e sempre finalizava com uma baita reflexão ou tinha um fechamento que me agradava, mas esse texto não tem um fim, porque eu ainda estou no meio de todo esse furacão e não sei quando vai ser o fim. Espero que os livros, ou e-books, de história daqui uns anos falem sobre como essa pandemia foi um divisor de águas.</div>
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Falando em água, é o que eu queria agora: um mergulho na água do mar, bem limpinha, depois de não ter ninguém nas ruas sujando...</div>
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E o que vocês querem agora? E pro futuro?</div>
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Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-83443477354567805422017-11-19T14:56:00.000-02:002017-11-19T14:56:04.315-02:00Sobre distâncias.<div style="text-align: justify;">
A primeira vez, que eu lembro, que tive que lidar com distâncias foi quando eu tinha uns 9 anos de idade e fui morar em Joinville, porque meu pai foi transferido do trabalho. Eu fiquei longe da minha família, dos meus amigos, dos lugares que eu estava acostumada. O pouco tempo, em números, em que fiquei naquela cidade, me pareceu uma eternidade, porque eu estava longe de tudo que - a princípio - me fazia ser eu. A partir daí, eu fui aprendendo a lidar com distâncias do meu jeito: ficando só eu e a escrita, seja lendo ou escrevendo. </div>
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Eu entendi que nada, nem ninguém estava impossibilitado de estar distante. A escrita, sim, poderia não ser distante. Não ser distante de mim.</div>
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<br /></div>
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Depois disso, lembro de ter lidado com distâncias de diversas formas, mas as que mais marcaram foram as distâncias que não eram físicas. Quando eu fiquei internada, eu fiquei longe da minha casa e da minha família de novo, mas não foi só fisicamente. Os relacionamentos não são os mesmos depois que as pessoas passam por problemas que não sabem explicar. A gente fica marcada. As distâncias deixam cicatrizes.</div>
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Conforme o tempo vai passando, a vida adulta vai cada vez mais dando as caras, as distâncias vão se tornando mais frequentes. As amizades vão se distanciando fisicamente, cada um toma um caminho que sonhou, planejou, ou que surgiu. As distâncias físicas, aí, se tornam também emocionais, e a gente vai conhecendo outros tipos de distâncias. </div>
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A gente vai descobrindo que uma pessoa do lado pode estar distante. A gente descobre que pode parecer distante, mesmo sem querer. </div>
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<br /></div>
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A gente descobre que as distâncias deixam tantas marcas que a gente se distancia até de si mesmo.</div>
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<br /></div>
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A gente lê o noticiário, as redes sociais, e tenta se distanciar da realidade. </div>
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A gente se distancia das ideias que um dia passaram na nossa cabeça. </div>
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Eu um dia pensei que se a gente conversasse com qualquer pessoa, as coisas poderiam se resolver.</div>
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As distâncias são tão traiçoeiras que elas não esperam muito tempo pra aparecer. </div>
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<br /></div>
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A gente vive buscando encurtar as distâncias. </div>
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<br /></div>
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Eu vivo tentando encurtar distâncias. Eu vivo querendo o amor do meu lado. </div>
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Por isso eu escrevo.</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-3345461426347472872017-06-21T19:57:00.000-03:002017-06-21T19:58:23.934-03:00Água: remédio pras feridas do corpo e da alma.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKhv_E8M6-xwxSJU0z_ZWQljI3OZ5xuNs0AwSDL-sP-MO2QZXjapWB_SEfTI6ezQk54ZZVl11Wlc9zTX6gZhDaEGBCifZg9OA5obuBQ4IF84oGdf0Ahe2Y7gfthXEcUQvohLGxj0t_iwBU/s1600/SALSICHAS+TATUADAS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKhv_E8M6-xwxSJU0z_ZWQljI3OZ5xuNs0AwSDL-sP-MO2QZXjapWB_SEfTI6ezQk54ZZVl11Wlc9zTX6gZhDaEGBCifZg9OA5obuBQ4IF84oGdf0Ahe2Y7gfthXEcUQvohLGxj0t_iwBU/s400/SALSICHAS+TATUADAS.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
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Feriadão. Uma semana para o inverno. Florianópolis. Praia. Água gelada. Paz.</div>
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<br /></div>
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Desde pequena, sempre gostei de estar perto do mar, o mar me fez e me faz mais forte. Hoje, quando preciso me acalmar, um passeio à beira mar e fones de ouvido são terapêuticos.</div>
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<br /></div>
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Em muitos momentos de crise, daqueles que a gente acha que não tem solução, longe do mar, eu abri a torneira do chuveiro, me joguei debaixo d'água e deixei os pensamentos me banharem, junto com a água corrente e, às vezes, com as lágrimas. </div>
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<br /></div>
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A água lava os sentimentos ruins, a dor e faz a gente enxergar melhor. </div>
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<br /></div>
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Às vezes, um mergulho desobstrui as vias nasais... e os pensamentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Às vezes, a gente preferiria que a água não tivesse nos feito enxergar melhor, porque a realidade talvez não seja o que queremos ver.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí a gente mergulha outra vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aí a água gelada nos lembra que só estando vivo pra sentir o prazer da água tocando no corpo.</div>
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<br /></div>
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Aquela gota deslizante que percorre todas as curvas é o desejo de liberdade.</div>
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<br /></div>
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Água salgada é liberdade.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br />Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-51908437868932571992017-06-13T19:28:00.000-03:002017-06-13T19:54:31.703-03:00Como cheguei até aqui: cushing, gordofobia e feminismo.<div style="text-align: justify;">
Dia desses, saí de casa de manhã cedo. Como manezinha conhecedora do clima de minha cidade, fui encapotada trabalhar, com várias camadas de roupa. Porém, eu não ficaria o dia inteiro fora, então não coloquei nenhuma camiseta de manga curta por baixo, saí com uma blusinha preta do pijama mesmo. À tarde, por um acaso, acabei indo me encontrar com uma amiga e fiquei com calor. Ela insistiu pra eu tirar o casaco, eu disse que não, porque estava com uma blusa do pijama, que era muito apertadinha, e ela soltou a máxima "Nossa, tu era a última pessoa que eu ia pensar que se preocupava com essas coisas...". Fiquei pensativa depois disso... O que era "se preocupar com essas coisas"?</div>
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Eu penso nessas coisas. Eu penso em várias coisas. Eu também penso no que os outros pensam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Me acho bonita? Sim, na maioria das vezes, mas não 24h. Feminista sim. Insegura, às vezes, também. Também nasci nessa sociedade cheia dos padrões de comportamento e beleza, já sofri muito pra chegar até aqui. Já tive épocas de me achar feia 24h por dia. Essa época passou, porque encontrei <strike>Jesus</strike> o feminismo. Mas a gente tem que entender que ninguém é tão desconstruído, tão "superior" a ponto de estar totalmente livre das amarras sociais ou de preocupações diversas... Por que estou falando tudo isso? Pra voltar um pouco no tempo e contar sobre o "chegar até aqui"... Bom, vamos direto ao ponto...</div>
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<br /></div>
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Quem me conhece sabe de toda minha saga contra o cushing e o tumor hipofisário, enfim, passei por muitos procedimentos médicos, por várias mudanças no meu corpo, por muitos problemas hormonais que mudavam meu humor, minha autoestima e, principalmente, meu relacionamento com os outros e comigo mesma. Inicialmente, antes de ter o diagnóstico e perceber visivelmente a mudança que vinha ocorrendo no meu corpo, eu sofria muito. Sofri, dentre muitas outras coisas, preconceito. Esse preconceito me fez, hoje, abrir meus olhos e ter empatia por coisas que eu nunca imaginaria. O preconceito que sofri tem nome e é bem conhecido por aí: GORDOFOBIA.<br />
<br /></div>
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O próprio nome já é bastante sugestivo e dá para ter uma noção do que representa na sociedade dos padrões de beleza. A gordofobia, muitas vezes, vem disfarçada de cuidado com a saúde, ou de "gosto pessoal", ou de "divergências", mas na verdade é puro preconceito... Eu sofri muito por isso, porque eu também acreditava que não era certo ser gorda, que eu estava ficando feia, que pessoas gordas possivelmente não seriam amadas. Isso é muito forte. A gente propaga essas coisas sem nem pensar e ISSO TÁ TUDO ERRADO.<br />
<br /></div>
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Não é certo pensar que alguém é bonito em detrimento de outros apenas pelo peso, ou pela cor da pele, ou pela textura do cabelo, ou pela classe social, ou seja lá quais outros muitos preconceitos que a gente ajuda a propagar, porque aprende desde pequena! </div>
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Eu parei para pensar em tudo isso depois que me curei do cushing, mas se eu tivesse acesso a todas essas discussões maravilhosas sobre feminismo - como tenho hoje - tenho certeza que não teria sofrido nem metade do que sofri... </div>
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<br /></div>
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O problema da gordofobia, no meu caso (e de muita gente, provavelmente), é que aquela frase supostamente inocente que as amigas fala(va)m "ah, tô me sentindo tããão gorda hoje" (pesando 50kg) eram como agulhadas em mim, ou socos no meu estômago. Aquele "me sentindo gorda" soava pra mim como "eu tenho 50kg e me sinto gorda, você está com 80kg e está HORROROSA". Sofri, quando comecei a sentir os sintomas do cushing e fui procurar ajuda médica. Como o cushing faz o organismo aumentar a produção de cortisol no corpo e este hormônio em excesso faz engordar, eu só ouvia dos médicos "você tem que se gostar, precisar emagrecer". Tudo que a gente ouve corrobora com a gordofobia, confirma o medo de ser excluída por mudanças na aparência. Eu estava doente, ser gorda não era minha doença, mas foi o que os médicos até então me faziam acreditar, além de toda a sociedade...</div>
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<br /></div>
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Até meus 16 anos, eu era uma menina bem magra, com 40 e tantos quilos, que tinha problemas de autoestima porque não tinha curvas. Detestava ir à praia, usar roupas curtas, ou qualquer tipo de roupa que mostrasse muito do meu corpo. Depois, com o cushing, meus preconceitos vieram todos à tona e bateram na minha cara pra eu acordar e perceber que todos os corpos são lindos. Feliz ou infelizmente, eu consigo enxergar isso hoje. Infelizmente porque precisei passar por um tumor para ter empatia e para ver como outras pessoas se sentiam. Felizmente porque hoje eu consigo enxergar a beleza com outros olhos (gostaria de já enxergar há tempos...).</div>
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O que tudo isso tem a ver com o início da história? Insegurança faz parte da gente, não está errado ter altos e baixos, a gente se desconstrói e se reconstrói aos poucos... mas a gente precisa se fortalecer, a gente precisa olhar pra quem está do nosso lado e pra nós mesmos. Às vezes, nossos preconceitos estão misturados com medo. Não está certo propagar preconceitos. Não está certo ter medo do que é fora do padrão. Não está certo sofrer para se enquadrar em um padrão que exclui e prejudica a todas e todos. Não está certo julgar os outros pelo que são. </div>
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A gente não nasce desconstruído... a bicha lacradora, a negra tombadora e a feminista empoderada também têm inseguranças e não nasceram "prontas", pelo contrário, todo mundo tem sofrimentos e, como diz um amigo meu, cicatrizes na alma (no meu caso, no corpo também, literalmente)... Esses sofrimentos nos fizeram chegar onde estamos, mas esses sofrimentos não são as únicas coisas que nos definem. Gosto de acreditar que são justamente as conversas positivas acerca dos meus sofrimentos que me fizeram enxergar a beleza das coisas e das pessoas. </div>
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Hoje, me sinto muito mais bonita do que quando pesava os 40 e tantos quilos. Hoje, convivo com minhas estrias, com minhas muitas cicatrizes de muitas cirurgias, com celulite, com uma barriga nada chapada e, sim, eu amo meu corpo. Eu tenho inseguranças, muitas, mas eu tenho consciência de ser quem eu sou. Esse amor, porém, não apareceu da noite pro dia. Esse amor foi construído com muito sofrimento, mas também com muitas alegrias e com a ajuda de muitas mulheres maravilhosas que passaram (muitas ainda estão!) pela minha vida e me fizeram entender que eu sou uma pessoa privilegiada, em todos os sentidos.<br />
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Minha felicidade hoje é ser uma pessoa saudável - que convive com pessoas lindas - que pode contar sua própria história... </div>
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Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-88874840158691608822017-04-23T13:54:00.001-03:002017-06-13T19:42:19.470-03:00Eu, tu, nós: treze razões, nove verdades e baleias coloridas.<div style="text-align: justify;">
Nos últimos dias, a internet foi tomada por treze razões, nove verdades, baleias coloridas, muitas mentiras, vários problemas... Como sempre, sendo professora <span style="color: #999999;">e viciada no mundo virtual, </span>eu reflito sobre as situações e sobre como alguns debates atuais podem contribuir para conscientização e/ou ajudar algum(a) estudante... Pensando nisso tudo, porém, eu voltei alguns anos no tempo e me vi novamente no Ensino Médio. </div>
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Nas redes sociais, tanta gente julga e exige dos outros, mas será que ninguém lembra de como é/foi difícil passar por determinadas fases da vida? </div>
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Eu comecei minha paixão por livros porque, com 8 anos, me sentia sozinha na escola e passava recreios na biblioteca. No Ensino Médio, apesar de não me sentir mais tão sozinha, eu convivia com muitos amigos que se mutilavam; eu chorava sem motivo; eu ficava noites sem dormir pensando que eu deveria ser e fazer tanta coisa e não sabia se valia à pena; eu exigia tanto de mim mesma nos estudos que tinha dores de cabeça intermináveis; eu não admitia que pudesse não passar no vestibular, embora meus pais dissessem que não tinha problema; na minha mente, eu carregava o peso do mundo nas costas; eu odiava que as pessoas dissessem que era "só uma fase"; eu me sentia sozinha mesmo com muitos amigos...<br />
Meu escape sempre foi a escrita e a leitura, comecei a escrever em blog quando eu tinha uns 13 ou 14 anos - antes disso eu já escrevia em diários desde os 8 anos. Também sempre tive apoio dos meus pais, sempre tive alguém para conversar, mas nem sempre isso é possível e tem gente que não dá conta de "sentir demais". Quando estava saindo do Ensino Médio, com crises existenciais <span style="color: #999999;">(que permanecem) </span>, com exigência do vestibular e logo em seguida um tumor como cereja do bolo, eu pensava em tanta coisa ao mesmo tempo que as lágrimas já eram minhas fiéis companheiras... </div>
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Passar no vestibular, superar o tumor e ser professora foram meus objetivos e apenas por um motivo: eu queria, na minha mente de adolescente, ajudar outras pessoas a passarem por essa fase, eu queria que fosse mais fácil para outras pessoas e, se eu pudesse ajudar de alguma forma, essa seria minha "missão". Fazer este blog, inicialmente, por exemplo, era um escape de quando eu estava internada. Hoje, sei que ele ajuda muitas pessoas que passam ou passaram pelo Cushing. Sei, também, que os debates em sala de aula e conversas com estudantes ajudam muitas e muitos deles a passarem por determinadas coisas que não são conteúdos escolares. Eu não sou a Madre Teresa de Calcutá, mas ajudar outras pessoas me ajuda. Ninguém precisa fazer esforços hercúleos para ajudar alguém, ter empatia já é um começo, escutar o outro já é um começo, sorrir para alguém já é um começo...</div>
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Hoje, quando me sinto mal, coloco uma música bem alta, apago a luz e danço sozinha, deixo as lágrimas virem - assim como quando eu era adolescente - porque não preciso me reprimir, sei que colocar pra fora ajuda... mas depois disso, lavo o rosto e me fortaleço, porque sei que lá fora outras pessoas também passam por isso e eu não estou sozinha.</div>
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Pode parecer simplório, pode parecer ridículo, pode parecer insignificante, mas fazer as pazes com o espelho nos ajuda a ser melhor, também. Sejamos melhores, sendo nós mesmos, sendo melhores juntos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAD0n9gcJ_2s6cz6sTvt26kFN7_wWSzFz7BVVNySivulKiGbfqcq1Faxnb4NioM8n1HJYDZ6QoTS4BDhBtW4U-CPcJQFVNdxdpZoKQDELiQPtYgEg-1ba_yolx1PNzA6qpUVqyXdrDmHkk/s1600/espelho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAD0n9gcJ_2s6cz6sTvt26kFN7_wWSzFz7BVVNySivulKiGbfqcq1Faxnb4NioM8n1HJYDZ6QoTS4BDhBtW4U-CPcJQFVNdxdpZoKQDELiQPtYgEg-1ba_yolx1PNzA6qpUVqyXdrDmHkk/s400/espelho.jpg" width="400" /></a></div>
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Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-63445045870950319542017-03-28T10:45:00.000-03:002017-03-30T18:49:36.199-03:00O que eu vou fazer com essa tal liberdade?<div style="text-align: justify;">
No início desse ano, pedi às alunas e alunos dos segundos anos do Ensino Médio, depois de algumas discussões, que escrevessem uma crônica sobre Liberdade. Os textos, dos mais variados pontos de vista, fizeram-me refletir sobre inúmeras coisas e - para variar - estudantes me deram um baile na criatividade e em lições.</div>
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Dentre os textos, um deles foi iniciado com muitos desvios de ortografia e de norma padrão da Língua, discorrendo sobre a liberdade de escrever sendo uma pessoa com problemas sociais e psicológicos; à medida que eu ia lendo - e me surpreendendo com a escrita, pois era de estudante que eu já conhecia, com excelentes notas e que normalmente não cometia equívocos de ortografia - eu refletia sobre o assunto. Ao final do texto, nova surpresa: uma assinatura. Texto em primeira pessoa, como se fosse uma carta de despedida de alguém que sofria preconceitos das mais variadas formas, inclusive linguístico. Porém, o eu lírico era de quem achou a carta e a transcreveu, refletindo sobre a situação da falta de liberdade de "ser". Um soco na minha cara. Outro texto, descrição da aula, desde o momento em que entrei na sala, até a hora da escritura, em que eu - com a ~autoridade~ de ser professora, - solicitei o texto, sem que alunas e alunos pudessem escolher a temática, dentre outras reflexões acerca do sistema de ensino (!!!!). </div>
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Próxima aula. Outro assunto. Outra turma. Primeiros anos do Ensino Médio. Dia oito de março. Igualdade de gêneros. Identidades. Feminismo(s). Debates. Perguntas. "Professora, por que as feministas não gostam de receber parabéns no dia da mulher?"; "Professora, por que existe dia da mulher e não do homem?"; "Professora, por que as feministas não lutam para ter alistamento militar, ou pela licença paternidade?"; "Professora, feminismo é o contrário de machismo?"; "Professora, mas qual é o tipo de feminismo que não pode se depilar?"; "Professora, mas como existem mulheres que não são feministas?"; "Professora, mas a gente não tem espaço para dar nossa opinião"; "Professora, como eu sei que não estou sendo preconceituoso?"; "Professora, como uma mulher pode oprimir outra mulher?". Tudo ecoava na minha cabeça e eu só conseguia pensar nos textos escritos pela outra turma. Comecei do início, contando quem eu era, por que eu estava ali e por que eu pedi para todo mundo sentar no chão e fazer perguntas.</div>
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Ser professora é lidar com pessoas e dúvidas reais, é todo dia ter desafios. Não é como lidar com comentários raivosos de internet, onde as pessoas não estão olhando nos olhos umas das outras. Ser professora é ter consciência de que meus ideais e meus posicionamentos não são a verdade absoluta, é ter o cuidado de responder perguntas refletindo sobre as escolhas das palavras e deixando claro àquelas pessoas que estão na minha frente que elas são livres para criticarem, questionarem ou reformularem certos conhecimentos. Ser professora é saber que estamos em constante formação, é se desconstruir e aprender com as outras pessoas dentro da sala de aula. Ser professora é estar em constante interação. Ser professora é, basicamente, ser uma pessoa. Isso pode parecer redundante, tautologia, mas muita gente não tem consciência disso. Muita gente acha que ser professor é ser doutrinador. Muita gente acha que ser professor é usar sua autoridade para formar um exército de pessoas que pensam igual. Muita gente acha que ser professor é poder limitar os pensamentos de outras pessoas. Muita gente acha que ser professor é ser ditador. Muita gente que acha essas coisas não tem relação nenhuma com Educação, não estudou para ser educador(a) e - na maioria das vezes - nem defende a Educação. De todas as professoras e professores que eu conheço, nenhum deles faz parte dessa gente. </div>
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As respostas das perguntas lá de cima? Foram construídas em conjunto com todas as pessoas que estavam dentro daquele ambiente. Estudantes entenderam que sala de aula é lugar para perguntas. Estudantes entenderam que uma professora pode ter posicionamentos diversos e respeitar opiniões alheias. Estudantes entenderam que Igualdade pode receber vários nomes, alguns chamam de Feminismo (e que não existe só um tipo de feminismo, assim como não existe só um tipo de mulher!). Estudantes entenderam que existem estereótipos sobre inúmeras coisas, sobre feminismo é só mais uma delas. Estudantes entenderam que às vezes somos preconceituosos, mesmo sem perceber. Estudantes entenderam que existem diferenças entre homens e mulheres, mas também existem diferenças entre as próprias mulheres. Estudantes entenderam o que é privilégio. Estudantes entenderam que na minha sala de aula podem questionar, criticar e serem livres para fazerem escolhas, mas que tudo na vida tem consequências. </div>
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Ser uma professora feminista é ter o objetivo de ensinar que sala de aula é lugar de respeitar opiniões, posicionamentos, histórias de vida. Ser professora linguista e feminista é aprender a aceitar que, às vezes, as pessoas têm nomes diferentes para as mesmas coisas e algumas pessoas têm medo de usar certas palavras, porque podem ser socialmente prejudicadas. Ser professora literata e feminista é entender que as subjetividades existem, mas podem ser desconstruídas e, às vezes, isso acontece naturalmente. Ser professora feminista é entender que estudantes são seres em formação, assim como eu. Ser professora feminista é lutar pelos direitos das e dos estudantes serem o que quiserem. Ser professora feminista é vibrar de felicidade quando estudantes querem ser pessoas melhores e lutar do teu lado para que outras pessoas sejam felizes sendo como quiserem.</div>
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P.s. Comecei esse post pensando em falar sobre inúmeros assuntos acumulados, sobre o projeto Marias vão com as outras, sobre eu ser libriana e não saber o que fazer com a tal liberdade, sobre o tumor finalmente estar diminuindo... Mas as palavras saem livremente da minha mente para os meus dedos de forma diferente do que eu planejo, então... o que eu fiz com a liberdade de hoje foi esse post. :)</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-24635473333214204162016-05-07T12:31:00.000-03:002016-05-07T20:06:46.583-03:00Sobre tumor no cérebro, radiocirurgia estereotáxica e paradoxos (ou não).<div style="text-align: justify;">
"Professora, mas a gente sabe que tu tens teus problemas <span style="color: #999999;">(sim, tenho alunos no Facebook)</span> e mesmo assim tu SEMPRE dá aula de bom humor, tu mostra que gosta de dar aula pra gente!"</div>
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E é com essa epígrafe que começo meu texto... </div>
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Toda vez que eu escrevo, não consigo dissociar a "Rafaella ser humano com vida social" da "Rafaella professora", talvez por que maior parte da minha vida - agora - seja dominada pela profissão. Dia desses eu passeava pelo shopping com minha mãe e vi um quiosque de almofadas. Na hora, pensei e falei "deve ser muito deprimente vender almofadas, a vendedora tá ali parada olhando pro além e o tempo não passa", mais rápida ainda, minha mãe responde "mas ela não tem que preparar aulas, não tem que corrigir redações, não leva trabalho pra casa!". Fiquei com isso na cabeça. Pode ser bom que nada aconteça, porque depois nada acontece e tecnicamente se está livre, Mas pode ser bom ter muito o que fazer, porque muito acontece e os dias são mais inspiradores. Parece um paradoxo, não? Mas é simples: algo bom pode ser ruim e algo ruim pode ser bom. <span style="color: #999999;">(Meus alunos responderiam rapidamente essa com "depende do contexto, né profe?")</span></div>
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E esse basicamente é o resumo do que eu quero falar: uma coisa pode ser positiva ou negativa, dependendo do ponto de vista. </div>
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Bom (ou ruim, né?)... Como muita gente já sabe, eu tenho um tumor no cérebro. Inicialmente (lááááá em 2009), quando eu descobri, não havia imagem nos exames, o diagnóstico de Cushing (sobre isso, <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/04/blog-post_16.html" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>) em decorrência do tumor hipofisário veio depois de um cateterismo (sobre isso, <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/05/colheita-do-desprezo.html" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>). Depois de toda a Odisseia de tratamento e cura do Cushing (sobre isso, <span style="color: blue;"><span style="color: blue;"><a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2014/07/sobre-nao-ter-mais-cushing-e-ter.html" style="color: blue;" target="_blank">clique aqui</a>)</span></span>, eu sabia que poderiam ocorrer outros problemas posteriores. </div>
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O tumor no cérebro libera(va ?) um hormônio, o ACTH <span style="color: #999999;">(já falei várias vezes sobre isso em vários posts...)</span>. Esse hormônio, em ordem inversa, controlava a produção de cortisol <span style="color: #999999;">(o famoso hormônio do stress - no caso, ele CONTROLA o stress, quando está em quantidades equilibradas, mas em níveis elevados e descontrolados, obviamente, faz o contrário: estressa muito mais, física ou emocionalmente)</span>. Como eu fiz a adrenalectomia bilateral (sobre isso, <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2012/06/adrenalectomia-videolaparoscopica.html" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>), ou seja, retirei as glândulas que produzem cortisol <span style="color: #999999;">(porque, no meu caso, o hormônio estava descontrolado) </span>, eu não produzo mais cortisol, maaas continuo <span style="color: #999999;">(continuava?)</span> produzindo muito ACTH pelo tumor, porque o tumor continuava lá no cérebro brincando de me deixar bronzeada <span style="color: #999999;">(a melanodermia, que já falei em vários posts)</span>. O "porém" do tumor continuar lá produzindo hormônio e mandando "informação" pra lugar nenhum <span style="color: #999999;">(porque eu não tenho mais as glândulas para quem o tumor mandava informação pra produção de cortisol)</span> é que o tumor poderia crescer, porque estava sendo muito estimulado pela produção hormonal que não era "liberada". A última cirurgia que me curou do Cushing foi em 2012. O tempo passou correndo e não percebi que já se foram 4 anos. Todo ano eu faço ressonância magnética pra controlar o tumor <span style="color: #999999;">(e nunca tinha aparecido nas imagens, porque o tumor era ínfimo, tinha milímetros insignificantemente problemáticos) </span>e ano passado, não sei por que cargas d'água, não fiz ressonância. No começo deste ano, como sempre fazia, retornei à consulta com minha endócrino e fiz a ressonância e... tchanam! Lá estava o diagnóstico: formação neoplásica recidiva de macroadenoma de hipófise, também conhecido como Síndrome de Nelson (sobre isso, <a href="http://www.precepta.com.br/caso-clinico/uma-paciente-com-tumor-hipofisario-e-escurecimento-de-pele/2/" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>). Não me surpreendeu o laudo, eu sabia que ocorreria cedo ou tarde, mas foi muito rápido. Me veio um turbilhão de lembranças sobre todo o tratamento, os exames, as cirurgias e isso me entristeceu. Uma das opções, em 2011, no começo do tratamento e depois da primeira cirurgia, era a radiocirurgia. Naquela época a radio era feita com um arco estereotáxico <span style="color: blue;">(<a href="https://www.google.com.br/search?q=arco+estereot%C3%A1xico&espv=2&biw=1366&bih=643&tbm=isch&imgil=tmwuvvTZJvBL-M%253A%253BQSKP3Z8ve3MroM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fneurocirurgiao.net.br%25252Ftumor-no-cerebro%25252F&source=iu&pf=m&fir=tmwuvvTZJvBL-M%253A%252CQSKP3Z8ve3MroM%252C_&usg=__PYkCvSG9AVFx2dJPCdARXv9X9KU%3D&ved=0ahUKEwir3qmwmMjMAhVIDJAKHSqlBkEQyjcIMA&ei=zv0tV6u_J8iYwASqypqIBA#imgrc=_" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a> </span>para ver imagens do que é isso), e quando vi um paciente com aquilo, apavorei e até escrevi um post sobre o filme de terror que me fez lembrar! (sobre isso, <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2011/08/o-que-te-move.html" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>) Esse ano, quando o tumor estava lá com seus dois centímetros, a única opção seria a radiocirurgia (para explicações sobre isso, <a href="http://www.oncoguia.org.br/conteudo/radiocirurgia-estereotaxica/4646/710/" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>), porque o local do tumor não se chega com cirurgia "normal" (como as outras duas que já fiz, a transesfenoidal - <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2011/11/nota-explicativa-ou-momentos-de-barato.html" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a> sobre isso). Claro que lembrando daquela imagem de 2011, apavorei. Quando fui à consulta com o radiologista, porém, ele me acalmou, pois hoje em dia aquele arco foi "aposentado" e o paciente fica com uma máscara não invasiva (ou seja, que não fura minha cabeça). Fiquei feliz da vida com a notícia... até fazer a máscara (para imagem da máscara <a href="https://www.instagram.com/p/BE6mEXRt21l/?taken-by=ellamachado" target="_blank"><span style="color: blue;">clique aqui</span></a>). Nunca tive problemas com claustrofobia para fazer ressonância magnética, mas naquele dia, quando aquele silicone começou a endurecer no meu rosto, preso à maca... comecei a bater loucamente com a mão na parede e pedir pelamordedeus pra tirar aquilo da minha cara que eu não estava conseguindo respirar. Foi só uma mini-crise-de-pânico. Passou. As enfermeiras tiraram, respirei fundo, colocaram de novo e eu comecei a refletir sobre a vida, o universo e tudo o mais, e esqueci onde estava. Saindo dali, imaginei que demoraria, pelo menos, umas duas semanas pra me chamarem pra radiocirurgia, de fato.<br />
Menos de uma semana, eu nem tinha me preparado psicologicamente pra ter crise claustrofóbica de novo e eu já estava lá (ontem, no caso). Pela manhã, dei aula normalmente, segurando o choro, e ouvi aquela frase lá do começo do texto, sem nem ter mencionado absolutamente nada aos alunos. Me acalmou durante as aulas. Chegando em casa, banho e logo em seguida ia para o procedimento. Tenho certeza que todo mundo sabe o que significa banho em momentos de tristeza/medo: lágrimas e reflexões. Saí do banho e lá vamos nós. O médico me acalmou, depois de ter visto minha cara inchada. O procedimento foi relativamente rápido, demorou mais para as enfermeiras e os médicos encontrarem a posição certa para iniciar a irradiação. </div>
<div style="text-align: justify;">
É apavorante ficar com aquela máscara na cara? É! Mas sabe o que mais apavora? A luta contra a própria mente. O problema maior é controlar a mente e os pensamentos, autocontrole, basicamente. A maior parte do tempo fiquei pensando em coisas do cotidiano e o que eu tinha pra fazer na escola, ou em alguns momentos recentes que foram positivos, enfim, abstraindo a situação. Claro, alguns momentos o pensamento escorregava e eu abria os olhos, começava a prestar atenção na minha respiração, na dor que sentia na testa por causa daquela máscara apertando, aí concentrava e passava. No último momento que eu já estava quase desistindo, comecei a sentir a máscara apertar meu nariz, queria chorar, espirrar... acabou. Ufa. Depois do procedimento, só farei ressonância magnética novamente daqui seis meses, para controle. A dose de irradiação foi única. Deu tudo certo... tirando a dor de cabeça extraordinariamente insuportável que me deu à noite, mas que nada tinha a ver com o procedimento, foi supostamente de tensão, (<span style="color: #999999;">tenho traumas de dor de cabeça, principalmente por causa da última cirurgia)</span> enfim... Acabou. Estou aqui, agora escrevendo este texto sem dor de cabeça. </div>
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E feliz, mesmo na dor (aquela que não dá pra localizar...)</div>
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<br /></div>
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Já devo ter falado sobre isso, todo ano eu escrevo "uma carta para mim mesma", no site "FutureMe.org". Ontem eu recebi uma, e chorei, como sempre... Finalizo como finalizei a carta há um ano:</div>
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<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 17.92px;">
<i>Corte mais os cabelos se der vontade, seja mais você, não se arrependa, não espere nada de ninguém, confie somente nos seus sentimentos. E só.</i></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 17.92px;">
<i><br /></i></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 17.92px;">
<i>Seja feliz em cada momento, mesmo nos ruins.</i></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 17.92px;">
<i><br /></i></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 17.92px;">
<i>Amo você. E eu. E nós.</i></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-10859257236380177742016-05-06T15:11:00.002-03:002016-05-06T15:11:19.010-03:00No banho, suas lágrimas se confundiam com a água corrente.<br />
Não sabia se a vermelhidão dos olhos era resultado da água quente ou do pranto.<br />
A confusão se estendia pela dúvida sobre o motivo da tristeza.<br />
Seria a dor da doença ou da vida?<br />
Seria a lembrança de todo o sofrimento sentido a cada picada de agulha?<br />
Seria a corrida diária contra o tempo?<br />
Seria a pressão de ser?<br />
<br />
Seria a pressão de sentir.<br />
A dor que não é física pelas agulhadas.<br />
A dor de sentir e omitir.<br />
A dor de ser. Ser o que? Quem?<br />
<br />
As lágrimas oscilavam entre os momentos de reflexão.<br />
A batida da música camuflava os soluços estridentes.<br />
O tempo continuava gritando e batendo na porta.<br />
<br />
"Está na hora!" se ouvia ao longe.<br />
<br />
As lágrimas cessavam.<br />
Não por alegria.<br />
<br />
Por necessidade.<br />
<br />
<br />
<br />Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-7373823615260434492016-03-22T19:40:00.002-03:002016-03-22T19:50:41.298-03:00Is it too late now to say sorry? (ou, sobre aprender a perder)<div style="text-align: justify;">
Quem diria que algum dia eu começaria um texto intitulado com a letra de uma música do Justin Bieber? Eu, há uns tempos, nunca diria. Vejam, porém, como isso é possível.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu já falei em algum outro texto sobre minhas fases musicais, não estou na fase belieber, fiquem calmos, <span style="color: #999999;">(a não ser quando toca na balada, ou quando meu irmão coloca pra tocar em casa, porque.. né? quem é que resiste a esse refrão? - E outra: eu diria até que estou numa fase remember-adolescência-punk rock, por influências externas, mas isso é papo pra outro texto. topic: OFF.) </span>mas eu diria que isso serve de exemplo pra analisar a sociedade atual e o quanto as pessoas pré-julgam e "odeiam" sem saber do potencial das coisas (e pessoas). Não queria falar de política, mas nesses tempos sombrios <span style="color: #999999;">(como diria Dumbledore)</span> é inevitável. Meu posicionamento aqui, na verdade, vai soar mais como uma reflexão sobre o ensino e sobre a vida <span style="color: #999999;">(e o universo e tudo o mais, como sempre)</span>.</div>
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Nos últimos meses aconteceram muitas coisas na minha vida, inclusive perdas. Perdas de gente querida, perdas de certezas e seguranças, muitas perdas. Cada uma delas veio com uma dor, mas também com um ensinamento <span style="color: #999999;">(nem que fosse o de "toma na cara, levanta e continua andando). </span>Eu já escrevi alguma vez que eu detesto aquele papo de auto-ajuda sobre "só dar valor quando se perde", mas sabe que isso começa a fazer um pouco de sentido? Primeira vez que essa frase fez "plim" na minha cabeça foi num dia que me olhei no espelho: eu usava um short e um top, dentro de casa. Parei e pensei "preciso fazer academia", depois eu pensei "não necessariamente para emagrecer, tô bem assim, afinal já estive com 80 kg, né?" E nisso me veio à mente tudo que eu passei até o momento, agora com meus 60 kg e sem Cushing. Nesse caso, passei por um bocado de coisas ruins e inseguranças e bad-vibes pra poder me sentir bem com meu corpo. Esse exemplo fez eu repensar meus pensamentos, consequentemente, meu olhar sobre o que se passa em minha volta. Minha primeira conclusão foi: a gente não sabe perder. "Perder? Como assim?" É, perder, em todos os âmbitos da vida...</div>
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Somos preparados desde o nascimento, durante nove meses, para "Ganhar a vida" e, quem está esperando do lado de fora, também é preparado. Quando alguém morre, porém, ninguém está preparado, não importa o tempo que se passe ao lado da pessoa. Viram? Essa é a perda mais clássica que todos sabem que vão passar e nós não aprendemos a lidar com ela. </div>
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Um adolescente sai do Ensino Médio, estudou bastante, fez vestibular, não passou. Ele se preparou por muito tempo para "ganhar" aquela vaga, mas ele perdeu (porque ficou nervoso, porque não deu tempo, por qualquer motivo). Ninguém sabe o que dizer nesta hora, ninguém consegue tirar o sentimento de fracasso daquela pessoa. </div>
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Traduzindo: nós não somos preparados para perder. </div>
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Essa conclusão reflete no atual quadro político que o nosso país passa, muita gente não sabe "perder", toda e qualquer discussão acaba se transformando numa guerra e não há consenso. Há muito tempo eu não me abro publicamente sobre certos posicionamentos e opiniões minhas por pura preguiça e, também, por prezar pela minha sanidade e integridade física. Já passei por tanta coisa que não vou dar "sorte pro azar". Porém, "ficar quieta" me deixa tão mal quanto "vomitar" tudo que eu gostaria e ser "massacrada" pelos "opositores". </div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim... toda essa grande "introdução" sobre esse papo de "não saber perder" veio na minha cabeça quando fui na minha última consulta de rotina com a endocrinologista. Ela pediu exames, como de costume, os de sangue todos OK, mas o resultado da ressonância magnética veio com um "plus a mais" que nunca esteve nas ressonâncias anteriores: formação neoplásica recidiva de macroadenoma de hipófise, com 2cm. </div>
<div style="text-align: justify;">
Há alguns anos, desde a última cirurgia em 2012, eu tinha colocado na minha cabeça que a minha novela em hospitais havia acabado. Aí esse resultado trouxe várias lembranças e isso me botou pra baixo. Aquele sentimento de "estou curada" deu lugar ao "PERDI", de novo. Dessa vez, porém, eu sei o que está acontecendo comigo, confio nos médicos, no diagnóstico e em mim mesma. Infelizmente, a cirurgia transesfenoidal (como as anteriores) não pode ser feita, pois o local que o tumor se encontra não é adequado para isso, mas existe outra possibilidade: a radiocirurgia. Inclusive, eu já falei sobre essa possibilidade (em 2011, vejam só), falei de um jeito meio assustador, mas quem sabe agora eu mude meu olhar (assim como eu mudei em relação ao Bieber, né? VAI QUE) - o link pro post de quando eu já falei sobre o procedimento é: <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2011/08/o-que-te-move.html" target="_blank">HELLRAISER</a>. Resumindo: o tumor, que antigamente era "invisível", agora cresceu. Isso aconteceu porque esse tumor produz o hormônio ACTH (que já falei algumas vezes, é o responsável por me deixar com esse bronzeado invejável - sqn), que manda(va) "informações" para as adrenais produzirem o cortisol. Como eu tinha o Cushing e meus níveis de cortisol estavam descontrolados, fiz a última cirurgia para a retirada das adrenais e hoje tomo o cortisol em comprimidos (com hormônios sintéticos, obviamente). PORÉM, o tumor continua mandando "informação" para as adrenais, mas elas não estão mais lá, portanto o nível de ACTH sobe exorbitantemente (porque ele era regulado em contraste com a minha produção de cortisol, que agora é inexistente) e esse nível exorbitante de ACTH faz com que o tumor cresça, isso se chama Síndrome de Nelson (e, sim, dá pra perceber que tenho um probleminha com as síndromes raras: Cushing, Addison, Nelson...)</div>
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Eu já sabia que isso aconteceria em algum momento, mas o tempo passa tão rápido que eu nem vi que já se passaram quatro anos da última cirurgia e esse tempo se perdeu e eu nem vi... O que eu vi, agora, depois de ter parado pra colocar a cabeça no lugar e "digerir" esse novo diagnóstico, é que eu sou outra pessoa completamente diferente - desde 2009, quando descobri o Cushing, ou 2012 quando fui curada do Cushing e, ser uma nova pessoa, coloca-me em outro posicionamento em relação às doenças e minha vida.</div>
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Já que não dá pra gente fugir do destino e das reviravoltas que a vida dá, com essas tragédias dignas da Antiguidade Clássica, nada melhor que escrever, como forma de catarse e isso continuar me dando forças pra lidar com as perdas e enfrentando novas batalhas...<br />Ah, e sobre aquele papo de política? Ou a gente pede desculpas, ou a gente lida com as perdas, né?</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-74837302837974080282016-01-25T23:24:00.003-02:002016-01-28T00:32:29.172-02:00Diálogos em família: também precisamos falar sobre o que não tá bem.<div style="text-align: justify;">
Quem conhece a minha família, convive com a gente, ou tem um de nós adicionado no Facebook sabe que volta e meia eu compartilho pequenas anedotas que surgem em diálogos rotineiros entre meus familiares e, às vezes, amigos mais próximos. Não é querer me gabar, mas somos ótimos nas tiradas e zoeiras <span style="color: #999999;">(não é à toa que nosso grupo do Whatsapp, aqui de casa, é intitulado "Casa da Zoeira")</span>. Porém, é claro, que nem tudo são flores - até porque se fosse, coitados de nós, as flores aqui em casa sempre morrem secas ou o Abreu (nosso gato) come, então não seria uma boa coisa. A gente quase sempre grita um com outro, briga, se desentende, fala bastante palavrão, mas estamos aí, vivos, inteiros, aprendendo com a vida e com nossos diálogos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nossos diálogos nem sempre são essas anedotas curtas e divertidas, muitas vezes temos discussões intermináveis e filosóficas sobre a vida, o universo e tudo o mais; um pouco disso é porque temos um administrador na área de engenharia, um administrador na área ambiental e indígena, uma assistente social, uma professora na área de Línguas e um publicitário, então pensem, nada aqui fica só no senso comum, a gente bate o pé, a gente fundamenta discussão até sobre baixar a temperatura do ar condicionado ou aumentar <span style="color: #999999;">(quem quiser as referências dos dois argumentos é só me avisar, tenho ambos salvos!). </span>Mas<span style="color: #999999;">, </span>às vezes, a gente desiste da argumentação, abre uma cerveja e pede uma pizza, porque acabar em pizza nem sempre é uma coisa ruim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas eu comecei a falar tudo isso pra publicizar um diálogo importante que tivemos aqui em casa. Nós sempre pensamos num momento "certo", ou se estamos "prontos" pra falar sobre isso, ou sobre qualquer outra coisa, mas talvez estejamos muito mais preocupados se os outros estão prontos pra saber de alguma coisa e julgar se é certo ou não. E, nesse caso, se alguém não está pronto pra saber, deveria começar a pensar sobre si mesmo, sobre a vida, o universo e tudo o mais e, principalmente, sobre preconceito, sobre respeito, tolerância e AMOR.</div>
<div style="text-align: justify;">
Todo mundo que me conhece há um tempo sabe que passei por poucas e boas e que eu sempre falei do apoio da minha família e dos amigos e isso foi o que me ajudou. Depois da minha última cirurgia e do cortisol controlado eu sou só sorrisos. E foi num dia de sorrisos, no carnaval de 2015 (um ano já!) saindo com meu irmão mais novo, que me pus a refletir, a observar o que eu tinha em minha volta, no caso, ele mesmo: meu irmão caçula. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sou daquelas que me preocupo exageradamente com as pessoas que gosto e tenho pavor só de pensar (e imaginar) em alguma coisa de ruim que possa acontecer. Digamos que eu seja uma ~bigsisterzilla~, ou qualquer termo que se encaixe nesse contexto. Dito isso, voltando para o carnaval, depois de uma conversa com uma amiga e depois de cair a ficha, cheguei em casa e conversei com a minha mãe, que, no dia seguinte, conversou com meu irmão mais novo, junto do meu pai. E, sim, meu irmão é gay. Já tinha passado pela nossa cabeça, mas como ele nunca tinha falado nada, a gente leva com a barriga e acha que tá tudo bem, mas não tá tudo bem. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não tá tudo bem porque ele não contou com medo de represália, não tá tudo bem porque mesmo conhecendo a gente ele achou que a gente poderia ter lidado diferente, não tá tudo bem porque ele ainda tem que se "achar pronto" pra falar sobre isso com as pessoas, não tá tudo bem porque ele tem dúvida se pode postar foto com o namorado, não tá tudo bem porque tem gente que não entende que ninguém tem nada com isso. Só ele. E nós, porque nós fazemos parte da mesma família e se ele tiver qualquer dúvida, ou problema, a gente tá aqui pra ele. A gente tá longe de ser uma família perfeita <span style="color: #cccccc;">(põe longe nisso, senhor!) </span>, mas a gente se transforma juntos, a gente aprende juntos, a gente cresce juntos e a gente tenta quebrar barreiras juntos, a gente conversa. Muito. </div>
<div style="text-align: justify;">
Falando sobre isso com um amigo meu, que me conhece há anos, ele me surpreendeu com uma frase dizendo "Ah, Rafa, eu imagino que seja difícil porque nenhuma mãe quer que seu filho faça parte de uma minoria". Quando ele concluiu, logo depois de "quer que seu filho", eu percebi que nós somos cercados de gente querida. Mas nem todos são assim. Quem não está no nosso dia a dia é quem nos preocupa, e até nos dá medo. <br />
Porém, não importa o que aconteça, nossa família exala coisas boas, ou pelo menos a gente tenta. E os diálogos nos ajudam com isso. Os diálogos nos ajudam a nos manter juntos, a nos aceitar, a nos fazer repensar algumas coisas que tínhamos por certo, ou por normal. </div>
<div style="text-align: justify;">
Meus pais nos educaram (eu e meus irmãos) pra sermos pessoas críticas (algumas vezes eles se arrependem disso), seres pensantes e independentes. Por esse motivo, a cada dia nós todos nos "reformulamos". Talvez há um tempo eu não pensasse assim, há um tempo nós lidaríamos diferente com certas situações, mas a gente vai tentando fazer dar certo, ou se der errado, a gente volta lá pra parte de abrir uma cerveja e comer uma pizza e tentamos de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, eu luto por um mundo em que o diálogo seja normal, seja corriqueiro, seja fundamentado, seja causa e consequência de pessoas mais felizes. Hoje, eu luto para que outros gays, bi, lésbicas, trans, ou qualquer outra minoria não precisem mais se preocupar em "terem que assumir" qualquer coisa sobre sua vida pessoal. Hoje, eu luto para que as pessoas sejam mais tolerantes com diferenças, e que SIM, recebam tratamentos diferenciados, porque cada um precisa de uma coisa diferente, mas que essa diferença seja adequada, que essa diferença seja o respeito, que essa diferença seja resultado de uma pessoa crítica e que também lute por um mundo melhor.</div>
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Por esses e tantos motivos, talvez, eu tenha escolhido minha área de atuação - com a Linguagem -, porque, pra mim, os diálogos são fundamentais na convivência social. Os diálogos devem acontecer quando tudo vai bem e quando não tá tudo bem. </div>
<div style="text-align: justify;">
Precisamos de diálogos porque precisamos de amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
E eu sei que aqui em casa temos muito dos dois.</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-43850614175274149602015-11-16T14:51:00.004-02:002015-11-17T19:13:10.499-02:00sobre ser mulher, andar de ônibus e o medo - não necessariamente nesta ordem.<div style="text-align: justify;">
Eu já tinha planejando há dias (ou talvez meses e até anos) escrever sobre isso, mas a rotina e a falta de motivação estavam me impedindo de tirar um tempo para isso. </div>
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Nos últimos meses, as redes sociais e outras mídias estão bastante lotados de lutas, discussões, reivindicações e divergências. Desde um reboliço após um reality show em que uma menina de doze anos de idade foi assediada virtualmente e a criação da hashtag #MeuPrimeiroAssedio, a guerra dos sexos vem se acirrando cada vez mais. Apesar de eu concordar que tudo na nossa vida faz parte da formação do nosso ser, caráter, personalidade, enfim, falar em "meu" - ou seja, posse de uma coisa negativa - sempre me deixa com um pé atrás. Procuro tentar não carregar carga negativa para que isso não me transforme em alguém desacreditada na bondade das pessoas. Apesar disso, ler a <i>timeline</i> e as notícias não trazem coisas muito positivas. Tudo que me acontece, ou ao meu redor, me instiga a fazer uma anamnese e refletir...</div>
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<br /></div>
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Quando eu tinha - provavelmente - 11 ou 12 anos, estava na sexta série do Ensino Fundamental II, era um dia de sol e fui, como vários outros dias, de bermuda (do uniforme!) para a escola. Estava sentada fazendo atividade em dupla, lembro como se fosse hoje, e de repente... quando sentei e um colega sentou do meu lado, no meio das risadas entre a feitura do exercício pedido, ele deixa cair algo no chão e quando abaixa para buscar, olha para minha coxa e diz: credo, Rafa! Tu não depila a coxa? Eu, com doze anos de idade, que nunca tinha pensado nisso, fiquei quieta, dei risada. A risada pode ter sido uma defesa de uma menina que não sabia lidar com algo que ela não tinha noção que existia até então. Essa menina foi para casa; quando tomou banho, pegou a lâmina da mãe escondida e tirou aqueles pelos que foram motivo de risada e os tira até hoje, porque não se sente bem com eles.</div>
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Quando eu tinha 15 anos, estava no segundo ano do Ensino Médio, estudava no Colégio Militar, ficava o dia inteiro no colégio - tinha aulas de reforço, teatro, fazia trabalhos, exercícios de Química infinitos - e voltava tarde para casa. Num desses dias, eu, com sono, sentada no banco do ônibus próximo à janela, olhava as paisagens, enquanto quase dormia e acordava a cada lombada. Passei o percurso todo olhando pela janela. Próximo do ponto que eu ia descer do ônibus, me ajeito para levantar e o homem que estava no meu lado me pede desculpas e para de se masturbar e fecha a calça. Levantei, sem reação, fiquei alguns segundos olhando para todos no ônibus, que pareciam já estar me olhando há tempos, mas não falaram e não fizeram nada. Desci do ônibus chorando, sem saber o que fazer. Cheguei em casa e pedi para minha mãe me trocar de colégio, pois não queria pegar ônibus nunca mais.</div>
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Quando eu estava no cursinho pré-vestibular, conversava com um amigo (e ex vizinho do <3), de repente, durante a feitura de exercícios, uma moça levanta a mão para tirar uma dúvida com o professor. Embaixo do seu braço: pelos, muitos pelos. Minha reação foi de surpresa, susto, digo que talvez até repulsa. "Como uma mulher podia ter pelos? Que nojo!". Depois voltamos aos exercícios e nada foi falado.</div>
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Entrei na universidade. </div>
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Ia ter que pegar ônibus todos os dias novamente, mas agora eu não sentava do lado de nenhum homem (e costumo ainda evitar isso). Aprendi maneiras de evitar isso: às vezes, colocando a bolsa no banco do lado, nunca fazer contato visual quando um homem entra no ônibus, procurar um assento que já tenha uma mulher do lado, sentar no banco do corredor para dificultar a passagem para o banco da janela, ou até mesmo ficar em pé - mas evitando contato com homens que param do lado, no corredor, e que parecem não ter nenhuma noção de espaço e ficam esfregando as partes íntimas na gente.</div>
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Encontrei a menina do cursinho num círculo de amigos anos depois. Ela ainda tinha seus pelos. Eu passei a entender que isso não tinha problema nenhum, que isso é uma opção pessoal e que isso é saudável. Apesar disso, não gosto deles em mim. Se foi um trauma, ainda não superei. Admiro as mulheres fortes o suficiente que combatem essas amarras todos os dias. </div>
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<br /></div>
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Hoje, sou professora, ainda evito sentar perto de homem no ônibus, ainda atravesso a rua quando vejo homens ao longe, em locais não muito movimentados, ainda sofro periodicamente com depilação com cera quente e lâminas, ainda fico sem reação quando alguma coisa me acontece, como um homem tenta forçar beijo na balada, ou quando eu ando pela calçada e homens nos seguem com o olhar, ou infinitas outras coisas que chamam de "brincadeiras", ou dizem que "o mundo está muito chato, reclamam de tudo agora".</div>
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Ontem, uma ex-aluna, que tem doze anos e está no oitavo ano do Ensino Fundamental II, compartilhou no Facebook uma foto da sua coxa com uma marca de mão vermelha, explicando que aquilo era resultado de estar andando na calçada, usando short, e dois caras de moto passarem e darem um tapa e saírem correndo. E ela ficou sem reação imediata, depois apenas chorou, e xingou, sem mudar a situação que ocorreu. E ela conheceu o que eu conheci também há anos, e todas as mulheres conhecem um dia, muitas sem saberem o nome, mas sabem que acontece.</div>
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<br /></div>
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O nome disso é MACHISMO. Isso é resultado histórico de uma sociedade que sempre colocou as mulheres em segundo plano. Eu sempre evito compartilhar coisas polêmicas nas minhas redes sociais por querer evitar discussões que não vão dar em lugar nenhum, mas isso me mata (e mata várias mulheres) aos poucos. Ficar calada quando devia estar gritando. Viver como se estivesse tudo bem, quando na verdade estamos em constantes lutas. Lutas diárias pelo direito de ter direitos. Meus pais sempre me falaram, desde pequena: "Rafa, estuda, luta pelo que tu quer, pra nunca precisar depender de ninguém, principalmente de homem. Tu és capaz!" Levo isso comigo no subconsciente, consciente, ego, superego, etc... assim como tudo que a vida me fez passar. E, como dizem que tudo que passamos é parte de nós, tento ser uma professora que faz muitas perguntas e tenta desestabilizar os conceitos de tudo que os estudantes pensam que é "fixo". Se até a Química afirma que as coisas se transformam, eu, como professora de Linguagens - considerando-me também das Humanas <3 - preciso fazer meu papel pra tentar de alguma forma parar esse ciclo de sofrimento, que meninas de doze anos são iniciadas, sem nem saberem o que é.</div>
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<br /></div>
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Por favor, se for comentar ou querer se defender, antes reflita, coloque-se no lugar das mulheres. Você não vai conseguir sentir nem por um momento o que sentimos todos os dias - o medo de ser mulher - mas podes tentar ajudar a diminuir esse medo. Obrigada por fazer o mínimo.</div>
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Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-52044402277993599742015-06-24T17:45:00.002-03:002015-06-24T17:45:50.263-03:00sobretudo as pretas.<div style="text-align: justify;">
Não, não enlouqueci. <span style="color: #cccccc;">Acho que ainda não, pelo menos.</span> O título desse texto poderia ser vários, mas eu achei que esse caberia. </div>
<div style="text-align: justify;">
Há dias (ou meses, sendo sincera) que eu quero escrever sobre uma infinidade de coisas que me vem à cabeça, mas, como eu estou tomada pela rotina, sempre acabo deixando pra depois e esse depois nunca chega. Geralmente, as coisas que vão surgindo na minha cabeça eu anoto em palavras-chave num bloco de notas do celular e depois de um tempo não faço a miníma ideia do que eu queria dizer com aquilo. Nesse momento o que tenho no bloco de notas é: "sobre as cores que vemos o mundo"; auto sabotagem da felicidade"; "filme doador de memórias"; "jogo detetive"; "Schopenhauer sobre amor e as vontades"; "astigmatismo - se meus olhos tirassem fotos" e pra finalizar: uma lista de nomes próprios que me vêm à mente de vez em quando e eu anoto (não faço ideia do porquê, mas é mania, vai entender...). </div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim... voltando ao texto e ao título. Esse título foi uma pergunta que um aluno me fez hoje na sala de aula. Sim, isso mesmo, eu cheguei em sala e ele disse "Profe, o que significa "sobretudo as pretas?" e eu fiquei com cara de "Oi?", mas o contexto é que em outra aula ele perguntou a outro professor se ele gostava de azeitonas e o professor respondeu "sobretudo as pretas", o guri ficou intrigado porque não entendeu a resposta e emudeceu e me solta essa no meio da minha explanação sobre o gênero Crônica. Depois de todo contexto explicado e eu ter explicado que "sobretudo" tem papel de advérbio (matéria que eu já tinha dado anteriormente!), pedi que eles escrevessem uma crônica e o menino escreveu sobre o que? Isso mesmo, sobre o "sobretudo as pretas". Isso me faz refletir sobre a forma como vemos o cotidiano, eu sempre tento observar os detalhes, os diálogos, as atitudes das pessoas como se o tempo parasse pra eu ficar vendo o mundo como numa galeria de arte. Pena que não é e o tempo não para pra gente ficar observando. Há uns anos, quando eu estava nas primeiras fases da graduação, lembro de uma discussão sobre o flâneur e sobre a alma das ruas, é mais ou menos isso que sinto quando o mundo passa rápido pela gente, eu paro. Parece paradoxal, e pode até ser que seja, mas é uma espécie de terapia. Observar o tempo passar, as pessoas passarem, o mundo acontecer e você só existir. Esse aluno, quando me fez essa pergunta no meio da aula de outro assunto completamente diverso, fez-me refletir sobre como a gente faz tudo passar correndo e não para um pouco pra pensar nas palavras, pra refletir, pra questionar... "Sobretudo as pretas" poderia ser uma metáfora da vida, "sobretudo" é uma palavra utilizada como advérbio, ou seja, está junto de um verbo, uma ação, modifica uma ação; pode não ter significado dentro de um contexto, mas quando vêm junto de uma especificação, te dá um significado... ou seja, a ação do aluno trouxe uma reflexão, veio junto uma pausa, um momento pra observar. E pensar. A ironia de tudo isso é justamente que o gênero textual de que falávamos em sala tem como ponto de partida assuntos do cotidiano. E não é que gerou pano pra manga? </div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre as outras anotações do bloco de notas, lembrei de outro "acontecimento letivo". Dia desses, coincidentemente na mesma turma, ao término da leitura de uma crônica sobre uma "mãe de família" que parecia ter enlouquecido pois todos os produtos que utilizava em casa, ela virava pra uma câmera imaginária e falava sozinha, como em uma propaganda, discutíamos sobre manipulação e consumismo e eu lancei a pergunta "Vocês já jogaram The Sims?", a galera em coro respondeu positivamente e eu "vocês nunca pensaram que podem estar sendo comandados, como os Sims? Que tudo em volta é uma ilusão?". Pronto. Provoquei os pesadelos das crianças. Já começaram a xingar seus supostos "comandantes", outros diziam que seus "players" estavam de sacanagem porque cancelavam a ação de estudar minutos antes da prova etc etc até que um, especial, solta "Profe, tu deveria ser professora de filosofia! Fica fazendo a gente pensar nessas coisas sem resposta". Aí eu fiquei satisfeita. </div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, lendo o bloco de notas e observando a janela do ônibus quando voltei da aula do "sobretudo as pretas", lembrei de uma aula de Filosofia que tive no Ensino Médio, não lembro exatamente em qual ano. Eu costumava adorar as aulas de Filosofia (sim, MUITO mais que de Português), principalmente porque eu poderia colocar pra fora os meus questionamentos sem resposta que eu ficava martelando na minha cabeça olhando pro céu à noite. Numa das aulas, o professor (que eu não lembro nome e se eu ver na rua, não faço ideia de quem seja) falava sobre Schopenhauer; ele sentou em cima da mesa e falava e falava e falava - a turma talvez nem estivesse prestando atenção, porque o pessoal não era muito disso na escola estadual que eu estudava, mas até que eles eram controlados, mas isso é outra história - e ao final da aula ele pediu que, em dupla ou grupo, escrevêssemos um pequeno texto das nossas impressões sobre o filósofo. Eu, como geralmente fazia, escrevi tudo e botei nome dos meus colegas (ou colega, aquele que odiava escrever e eu não me importava de botar o nome dele, porque ele era bom na hora de apresentar trabalho). Lembro até hoje do que pesquisei, da aula, do que li e mais ou menos do que escrevi... resumindo, o filósofo fala sobre as vontades humanas, sobre do que somos movidos, na minha opinião, nossas fraquezas... As vontades são como as expectativas, precisamos supri-las, satisfaze-las, pra poder alcançar a tão desejada felicidade, que é momentânea, mas se isso passar não seríamos mais felizes. É meio profundo pensar que uma aula de ensino médio me fez pensar e escrever um texto constatando que um filósofo disse que a moral da vida é a gente ser frustrado e por alguns momentos sermos felizes. Por que eu tô falando isso tudo? Porque hoje, nessa altura do campeonato, que eu não sou mais aquela aluna de ensino médio, mas sim professora Ensino Fundamental II, eu preciso pensar nessas expectativas e vontades que tenho e que deixo na mente dos alunos... Hoje, eu acredito que Schopenhauer me ajudou a ver que a vida é movida pelas nossas vontades e, às vezes, por algumas frustrações, mas a felicidade almejada não pode ser plena, porque assim não há o contraste e a sensação de objetivo alcançado. Felicidade contínua é apenas estabilidade, é monotonia, é meio tedioso. <span style="color: #cccccc;">(não que eu queira levar na cara o tempo todo pra ~~contrastar~~ com a felicidade, né?)</span>, enfim... um pouco disso, pode ser ilustrado no filme "O doador de memórias" (é a tradução, não sei o nome original/que citei lá em cima, do bloco de notas), nesse filme as pessoas injetam toda manhã uma droga que as faz esquecer de todas as coisas ruins do mundo, todas as emoções, violência, tudo, eles vivem constantemente na "Paz" (se é que se pode dizer que existe paz, se não há violência pra contrastar) e [ALERT SPOILER] ao final um senhorzinho doa suas memórias do passado e um menino começa a ter emoções novamente, ter tristezas, alegrias, vontades, VONTADES. Essas vontades que me fazem parar e observar o mundo de vez em quando, que me fazem chorar de vez em <span style="color: #999999;">(sempre)</span> quando , que me fazem rir... Sim, as vontades, a que nos dão frustrações, aquelas lá que movem montanhas (ou talvez o ditado não seja bem assim...) No fim, a filosofia é tanta na minha cabeça que talvez seja só questão de explicar que "sobretudo as pretas" é só um advérbio numa frase com elipse do verbo, ao invés de inspirar o menino a escrever uma crônica sobre isso...</div>
<div style="text-align: justify;">
Ou talvez não. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-36913599995325101432015-02-27T20:53:00.001-03:002015-02-27T21:06:33.675-03:00Primeiro dia de aula: uma história sem fim.<div style="text-align: justify;">
2015 e o primeiro dia de aula dos alunos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Novo colégio pra mim, nova professora pra eles. </div>
<div style="text-align: justify;">
Novas turmas, novos alunos, novo programa de ensino. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo novo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, algumas coisas continuam iguais: o novo sempre dá aquele friozinho na barriga, aquele "medinho" do desconhecido, aquela ansiedade... </div>
<div style="text-align: justify;">
Volta de férias em plena quinta-feira pós-carnaval nem é bem uma volta de férias, é mais um reencontro dos amigos/colegas que qualquer coisa - pros alunos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os alunos ainda estão naquele alvoroço, eu só dou uma aula em cada turma e, como desta vez eles são <span style="color: #999999;">(em média)</span> 40 ao invés de 25, estranhei um pouco este "mísero" detalhe... </div>
<div style="text-align: justify;">
De início, aqueles 40 parecem uma "coisa" só, aqueles rostinhos ainda não foram assimilados pelo meu cérebro, os nomes, então, muito menos; eles juntos parecem um único som: o da bagunça. </div>
<div style="text-align: justify;">
Aí aquele meu frio na barriga foi se transformando em calor no momento em que eu abri e boca e disse: bom dia. <span style="color: #999999;">(aqueles rostinhos me diziam "bom dia pra quem, cara pálida?")</span> </div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela resposta em uníssono me fez pensar nos Iskalnari, da "História sem fim" - os marinheiros da névoa, que viviam em conjunto, sempre juntos, eram iguais; mas por serem iguais não sentiam falta de um "indivíduo", a unidade não era importante. Isso me incomodou. </div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de uma breve dinâmica <span style="color: #cccccc;">(quem diria, heim? eu fazendo dinâmicas...)</span> pedi que eles escrevessem um pequeno texto, motivados pelo diálogo entre a Lagarta e a Alice <span style="color: #999999;">(previsível...)</span>, respondendo à pergunta "Quem és tu?" Aula terminada, textos escritos. Voltei pra casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cheguei em casa e fui ler os textos... cada texto, uma letra diferente, uma quantidade de linhas diferente, um nome, uma identidade, algumas risadas, algumas emoções... Aquela unidade do primeiro dia de aula foi se transformando. O "uníssono" agora era "Vários". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Segundo dia de aula.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os alunos agora não eram apenas um som, eles eram diferentes rostos que respondiam à chamada pelos diferentes nomes que lhe foram "determinados", mas que não os definem simplesmente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma semana de aula.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aqueles rostinhos nomeados já tem idiossincrasias perceptíveis e já me fazem sorrir há alguns dias. Os pequenos seres, que têm entre 12 e 13 anos, já fazem parte dos pensamentos de uma professora motivada por eles e para eles. E isso me faz lembrar que eu sou alguém também porque eles existem. E isso me deixa feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No fim de cada dia de aula, ele sempre é o primeiro, o único, mas não por ser igual aos outros, mas porque fez parte da vida de cada um daqueles indivíduos que estão lá me olhando na frente da sala... E eles, com seus olhares curiosos, fazem eu ter vontade de continuar as aulas, essa história sem fim, sorrindo.</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-64987051029440429542014-09-30T12:12:00.001-03:002014-10-01T20:13:32.800-03:00um quarto de século e as hipóteses.<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é? </span><br />
<blockquote>
(LOBATO, Monteiro.<i> Memórias de Emília</i>, 1936)</blockquote>
</blockquote>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">Começo esse meu post de hoje assim, pensando nas hipóteses. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">Hoje, dia 30 de setembro de 2014, sou uma mulher de 25 anos de idade, tenho um quarto de século vivido. Pensando assim, às vezes me sinto uma velha: já faz 6 anos que tirei CNH <span style="color: #666666;">(e ainda não pego na direção por medo de seiláoque)</span>, espero pra pegar o "próximo" ônibus sentada, recebo ligação da Renner e já acho que é conta atrasada, tenho amigos há mais de 10 anos, a maioria dos meus alunos têm em média 15 anos <span style="color: #666666;">(socorro!)</span>. Por outro lado, me sinto tão próxima dos meus alunos que às vezes acho que não posso ter vivido "tanto", gosto de ver desenhos animados, uso camisetas com estampas da disney ou de super heróis, ainda uso all star, a maioria das roupas no guarda-roupa AINDA é de cor preta <span style="color: #666666;">(viu, não era uma fase, mãe!) </span>, ainda tenho dúvidas e crises existenciais de quando tinha 15 anos <span style="color: #666666;">(mas com um pouquinho mais de reflexão teórica, o que não sei se é melhor ou pior)</span>, ainda tenho amigos que zoam nos comentários de postagens do facebook <span style="color: #666666;">(do tipo "a vida me fez rockeira", ou "a Rafa já foi uma gordinha batuta")</span>, ou que postam fotos avacalhadas no dia do meu aniversário, ou que me chamam pra "roubadas"... Por isso, essa citação das "Memórias de Emília" representa bastante do que eu penso da vida. Num piscar de olhos as coisas passam, num piscar de olhos já se passaram 25 anos, num piscar de olhos a gente cresce - ou diminui, num piscar de olhos a vida se vai... Sim, a vida se vai, e a gente tem que ter vivido tudo o que queria - ou o que precisava - pra ela ter valido a pena.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">No dia do meu aniversário um tio meu faleceu, passei o dia ao lado da minha família, mas não em clima de festa. Isso me fez refletir sobre muitas coisas que eu acredito, penso, imagino, faço... As pessoas são preparadas para o nascimento, durante 9 meses - tanto os que estão para nascer, quanto os que vão cuidar (ou não) de quem nasce. E para a morte? Nós não nos preparamos devidamente? O que seria nos preparar para a morte? Saber viver a vida? Saber lidar com perdas? São tantas as perguntas que as possíveis respostas são infinitas. Infinitas hipóteses. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">Depois de tudo que passei (com o cushing e etc), comecei a pensar mais no que pode ter "depois" (ou não). As pessoas que nos deixam, que morrem por qualquer motivo que seja, tiveram seu tempo, sua missão, ou seja lá como quiserem chamar. Quem fica sempre vai sentir um vazio enorme, mas quem vai cumpriu o seu tempo. Nunca li muito sobre espiritismo, <span style="color: #666666;">(sou batizada em igreja católica, fiz 1ª comunhão, nunca mais fui em uma missa) </span>mas acredito que temos um tempo a cumprir e, sim, infelizmente algumas pessoas têm pouco tempo. Infelizmente apenas para quem fica no mundo terreno. Não sei no que eu acredito depois que "saímos daqui", mas me conforta pensar que existe um depois. Depois que morremos, viramos hipótese. Hipóteses infinitas na mente de quem fica. Hipóteses de coisas boas (e ruins) que não aconteceram, hipóteses de um encontro "no além", hipótese de que viraremos energia positiva, hipóteses... Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa religiosa ou coisa do tipo, mas acredito sim num universo de energias e que estamos cercadas por elas. Por isso, nesse meu um quarto de século eu só posso desejar que as hipóteses da vida sejam todas energias positivas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;">25 primaveras vividas com quem me ama, com quem eu amo. Sou grata a todos que já passaram pela minha vida, que ainda estão comigo e que ainda vão aparecer, que ainda são hipóteses ou que já foram. Principalmente, grata aos amigos que terei para sempre, sejam amigos de sangue, amigos de escolha, amigos que amarei nesta e em qualquer das estações. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 15px;">Se numa vida temos várias piscadas, desejo que todas essas piscadas sejam bem aproveitadas. Por todos nós. Viva a vida.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 15px;"><br /></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204727834706590&set=a.1769776935067.96888.1558531080&type=1&theater" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" target="_blank"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjewX5aT12Nx-DjXMngD2woKdJHaC-7MOHIJBNcPkrBL-2PffFuoGQD7HEpjPWSvqU2HOpNscSR1PwdmXNZzniNHxZiYeBCKmzCKuXgsz2j3THw3xdNoNBNPRjWO38ulLeLk6Aof8VzPDJw/s1600/Rafa+bigode.jpg" height="320" width="201" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Clique na foto para abrir</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-33205014371165709152014-08-12T10:06:00.001-03:002014-08-12T10:39:27.013-03:00Run to the hills, run for your lives!<div style="text-align: justify;">
Braço de criança arrancado por um tigre. Assalto à mão armada. Acidente de carro, com morte. Depressão e suicídio. Guerra por territórios. Guerra por religião. Essas foram algumas notícias que recebi nos últimos dias. Quem é o culpado por isso tudo? O ser humano.<br />
Não, eu não tenho vergonha de ser uma "pessoa", mas fico bastante triste por me sentir inútil em tantos momentos, em saber que não há o que fazer, simplesmente certas coisas acontecem. Há uns 4 meses, fui assaltada, à mão armada, saí viva, graças a Deus, a um anjo da guarda, ao acaso, a qualquer coisa maior que eu. Esta semana, meu irmão levou um soco pois o assaltante não conseguiu pegar nada dele e tinha muita gente na rua. Percebam: MUI-TA GEN-TE NA RUA! Exato. Não há o que impeça alguma ação dessas. Ninguém faz nada, pois têm medo justamente de "sobrar pra eles". O que há para fazer? Em qualquer momento que me pego pensando em como a vida é curta e pode nos ser tirada de uma hora pra outra, eu choro, sim. O que fazer para confortar meu irmão e infinitas outras pessoas? Não sei.<br />
Não sei, porque sei que a vida é incerta. Já passei por problemas de saúde que deixaram isso bem claro, mas agora, a preocupação é outra e envolve muitas pessoas, no mundo inteiro.<br />
Lembrei de uma frase que define exatamente a situação: "O homem é o lobo do homem", que foi falada originalmente por Plauto (na Antiguidade Clássica), e posteriormente por Hobbes (na Idade Moderna). E não é que continua fazendo sentido? Não é à toa que clássico é clássico. Nesse caso, infelizmente. Sobre essa frase, o que se diz é que os homens "num estado natural", o que prevalecia era a lei dos mais fortes, ou seja, uma briga constante por sobrevivência. Posteriormente, o que se disse é que deveria haver um Estado que regulasse essa suposta "briga constante". Fica a reflexão: regula? Essa briga constante acabou?<br />
O homem cria máquinas que trazem facilidades e ao mesmo tempo perigo pra si mesmo, cria produtos e novas necessidades que despertam no outro uma vontade de consumo e desencadeia uma briga para conseguir este produto, ou território, ou "a mulher do próximo". Pode parecer ridículo colocar esses exemplos no mesmo patamar, mas "Helena, de Troia" não foi o motivo de uma guerra? Pois é, a História se repete ao longo dos anos, nós damos continuidade sem refletir sobre isso. E aquela coisa de que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar é mentira, já foi comprovado cientificamente <span style="color: #cccccc;">(não me pergunte de onde eu sei, porque eu li em algum lugar) </span>, então, a metáfora segue o mesmo princípio. Meu irmão foi assaltado duas vezes, eu não quero que aconteça a terceira. Eu fui assaltada duas vezes (sim, a primeira vez quando eu estava na 6ª série do ensino fundamental, também na rua da minha casa!) e não quero que aconteça a terceira. Tenho algum controle sobre isso? Não. Vou parar de viver e me entocar em casa? Não. Até porque se isso acontecer, posso fazer mal a mim mesma e esse é o <span style="color: #cccccc;">(novo ?)</span> mal do século. Então o que fazer? Sair correndo para as colinas pra se salvar?<br />
Não, eu não sei a solução pra isso, a vida não é uma redação do ENEM que temos que sugerir solução, mas é também uma questão de "manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo" e seguir em frente.</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-68805375954102830692014-07-29T16:33:00.000-03:002014-07-31T10:03:21.756-03:00Sobre não ter mais cushing e ter insuficiência adrenal<div style="text-align: justify;">
O primeiro objetivo deste blog era registrar minha rotina, quando eu estava no hospital em São Paulo, há uns 4 anos. Depois, fui me empolgando, já que gosto de escrever, e fui escrevendo sobre várias coisas. Quando me livrei do cushing, tinha dito pra mim mesma que não falaria mais sobre isso, porém, toda semana recebo e-mails e mensagens de pessoas que passam ou passaram pela mesma situação que eu, ou que têm a doença, ou que gostariam de saber mais sobre as cirurgias e os sintomas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não sou médica, nem psicóloga, mas gosto de ajudar as pessoas e quando eu tinha recebido o diagnóstico a primeira coisa que fiz foi ir atrás de informações e também queria saber de outras pessoas com a doença. Infelizmente os primeiros blogs que li, sobre o assunto, eram de pessoas deprimidas que ficavam em casa se lamentando e chorando e brigando consigo mesmo. A parte de brigar consigo mesmo (e com os outros) fiz muito (e ainda faço), mas acho que não tem nada a ver com o cushing. </div>
<div style="text-align: justify;">
Anyway, o motivo de eu estar escrevendo este post agora é justamente para esclarecer algumas decisões que tomei e também alguns procedimentos médicos que fiz. Sobre o cushing, o básico da história - quando descobri - já escrevi <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/04/blog-post_16.html" target="_blank">neste link</a>. Como na ressonância magnética não apareceu imagem do tumor hiposifário, fiz cateterismo e expliquei <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/05/colheita-do-desprezo.html" target="_blank">neste link</a>. Assim que saiu o resultado do cateterismo, fiz duas cirurgias transesfenoidais, uma em junho de 2010 e outra em novembro de 2011, que expliquei <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/06/amigos-da-lavinia.html" target="_blank">neste link </a>e <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2011/11/nota-explicativa-ou-momentos-de-barato.html" target="_blank">neste link</a>. Depois disso, não houve resultado e o cortisol continuava aumentando, minha endocrinologista não quis retirar minha hipófise por completo, pois a glândula controla muitos hormônios e eu teria que fazer reposição de todos eles e correria outros riscos. A primeira opção para não comprometer a hipófise completamente seria a radioterapia, que eu teria que fazer um procedimento bastante assustador e acordada e eu já estava ficando traumatizada com essas coisas, expliquei <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2011/08/o-que-te-move.html" target="_blank">neste link</a>. Portanto, decidimos que eu faria a adrenalectomia bilateral, que expliquei <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2012/06/adrenalectomia-videolaparoscopica.html" target="_blank">neste link</a>. Demorou um pouco pra fazer resultado, como expliquei <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2012/08/o-que-sera-que-sera.html" target="_blank">neste link</a>, mas depois de um ano, comecei a emagrecer, fazer reposição hormonal com 5 mg de prednisona e 0,2 mg de fludrocortisona, minha hipófise deixou minha tireóide um pouco louca e agora tenho que tomar 50 mg de levotiroxina também, mas nada muito extraordinário que eu já não estivesse acostumada. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mês passado fez dois anos da minha última cirurgia, de 82 kg passei a 54 kg, sem nenhum esforço (tirando as milhões de cirurgias, pós-operatório, essas coisas todas). Como retirei as duas adrenais que produziam o cortisol, agora tenho insuficiência adrenal primária e ando com uma pulseirinha avisando que, em caso de emergência, eu preciso fazer reposição. </div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje em dia a única coisa que tenho de sintoma da insuficiência adrenal é estar mais morena, e acho que devo ter falado sobre isso em algum post também. O tumor hipofisário é secretor de ACTH, que mandava informação para as adrenais (que agora não existem mais), portanto o nível do hormônio ACTH continua aumentando infinitamente e isso provoca melanodermia, que é o escurecimento da pele. Ou seja, o que tenho que lidar é com pessoas perguntando do meu bronzeado (cof cof) em pleno inverno. Agora sou magra e bronzeada, ó a ironia do destino.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para os que me perguntam se eu recomendo tal e tal cirurgia, eu digo: cada organismo responde de uma maneira diferente, eu, por exemplo, fiz exames de imagem em que não havia imagem, portanto o cateterismo apontou o tumor, não deu certo do mesmo jeito. Fazer o que? O lance é confiar no médico/médica. Demorei bastante para encontrar uma endocrinologista em que eu confiei, e olha que passei por, pelo menos, 15 médicos diferentes até descobrir o cushing. Não sou médica, não fiz nenhum curso na área da saúde, mas se me perguntarem, já sei até diagnosticar cushing de tanto artigos que li (não só por recomendação do Dr. Google, mas por recomendação da minha médica também), e de tantas aulas presenciais que tive no Hospital das Clínicas (que é hospital escola e eu era a cobaia). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não me arrependo de ter feito todos esses procedimentos, aprendi bastante coisa em todos esses anos, principalmente a viver a vida, e não a viver a doença. Das pessoas que conheci com o cushing, duas me fizeram muito bem, porque eram/são muito felizes e me fizeram rir muito junto com elas, Jaque e Luci. Elas sorriam o tempo inteiro e isso me fez ver que o importante é procurar pessoas felizes para se relacionar e tirar dúvidas, hoje nós três não temos mais cushing, somos lindas, felizes e saudáveis (na maioria do tempo, claro). </div>
<div style="text-align: justify;">
Então, o que eu recomendo? Encontre um médico em quem confiar, viva a vida e não a doença e boa sorte! </div>
<div>
<br /></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-77389014530519654952014-07-13T22:08:00.001-03:002014-07-13T22:08:37.951-03:00Topo! Por que não?<div style="text-align: justify;">
"Topa? Topo!" </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E esse é o diálogo mais ouvido nos últimos dias, por mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
Esse diálogo resume um pouco de uma vida corrida de alguém que agora "se permite". Se permitir, pra mim, significa arriscar, não ter medo de agir, não ter medo de dizer não, ou de dizer sim. </div>
<div style="text-align: justify;">
Insegurança era um sentimento muito presente em mim, quando eu ainda tinha cushing e estava na graduação... Não sei se isso teve alguma relação com minha mudança de estado de espírito, mas sinto-me mais segura de mim, mais segura pra dizer sim às mudanças, sim aos desapegos, sim às festas, sim às alegrias, sim aos desafios; e pra dizer não ao trabalho excessivo, não ao estresse...</div>
<div style="text-align: justify;">
Às vezes a gente acha que a vida não pode mudar muito, mas qualquer decisão tomada muda o nosso ser, a nossa rotina, a nossa vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse último final de semana fui viajar, fui convidada num dia, no outro partiríamos. Não pensei muito, só "topei". Sempre fui uma pessoa super responsável, que pensava mil vezes antes de fazer alguma coisa. Por esse motivo, nunca fazia muita coisa. Já me arrependi de não ter feito certas coisas, nunca me arrependi de algo que fiz. Tudo que foi feito, que "aconteceu", serviu de aprendizagem sejaláparaque. </div>
<div style="text-align: justify;">
As decisões tomadas de súbito às vezes fazem bem, fazem a gente apreciar a paisagem, fazem a gente viver. </div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje posso dizer que sou uma pessoa que aceita desafios e aproveita tudo que pode.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há alguns dias li uns textos falando sobre "mulheres independentes" (e mais um monte de coisas) e sobre como as pessoas supostamente não sabem lidar com isso. Já falei um pouco sobre "independência" uma vez, <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2012/07/agora-e-oficial-vou-mudar-ou-mudei.html" target="_blank">aqui</a>, hoje acredito que minha noção mudou. Aprendi a não depender de sentimentos que me derrubam, a não depender do que não tenho, a não depender de resultados "medíocres", mas ainda dependo de mim, das minhas decisões, da minha família, dos meus amigos e das oportunidades da vida. Por que estou falando isso? Porque pra alguém poder dizer "Topo!" sem ter medo, tem que saber do que sua vida depende e o que não se quer depender. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu dependo de amizades, de paisagens lindas, de um céu azul, de um arco-íris, de felicidade... Pra isso, eu digo: Topo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/ADP65wbBUpc?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-63940690602539392502014-05-15T16:21:00.002-03:002014-05-15T16:44:35.085-03:00Sobre gostar de Madonna, ou, a aluna que se tornou, também, professora.<div style="text-align: justify;">
Hoje, enquanto voltava para casa de ônibus, do trabalho, escutava música no celular. Ultimamente esse momento é o único em que posso "pensar na vida", porque é o único momento em que não tenho como fazer alguma coisa relativa às aulas, então eu fico viajando nos pensamentos. Por mais incrível que pareça, apesar de eu assumir que andando de ônibus nós perdemos metade do dia sentados circulando pela cidade, é um momento produtivo. Não sei se já comentei isso, mas a ideia para o prólogo da minha dissertação do Mestrado foi toda elaborada num trajeto de ônibus. </div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, enquanto eu escutava a rádio Itapema FM <span style="color: #999999;">(porque é a única coisa que consigo escutar, já que, depois do assalto, estou com um celular nokia que parece um controle remoto e não dá pra colocar músicas de minha escolha) </span>começou a tocar "Secret", da Madonna, e eu lembrei de quando eu tinhas uns 5 ou 6 anos e estava no Jardim de Infância ou Pré-escola, nessa época eu estudava no colégio "Ursinhos Carinhosos" <span style="color: #999999;">(que agora nem existe mais e deu lugar a um condomínio residencial). </span>Então, nessa época, lembro que eu adorava escutar e dançar sozinha, no quarto da minha mãe, o cd "Bed Time Stories", da Madonna.<span style="color: #999999;"> (um nome muito adequado para uma criança de 5 ou 6 anos, diga-se de passagem)</span>. Num desses surtos de dançarina, eu decidi que faria uma apresentação para os colegas da escola, mas queria que todos eles participassem, tinha toda a imagem da apresentação na cabeça (lembro até hoje dessa "imagem", coisa mais ridícula da vida), contei para as professoras, ou minha mãe contou, não lembro. Num belo dia, tudo estava esquematizado para a apresentação, mas... eu não dancei, óbvio, morri de vergonha e nem fiz nada. Por que eu estou falando tudo isso? Sei lá, acho que eu estava com vontade de compartilhar um mico de quando eu era criança. Mentira, não é só por isso. É que conforme eu escutava a música no ônibus, eu ia lembrando dessa situação e me perguntando "que outra pessoa deixaria e incentivaria uma criança a dançar e ser criativa no seu próprio ambiente de trabalho?" Só uma professora, mesmo. Ainda bem que eu não virei dançarina, porque imagina que desastre treinar no quarto e depois morrer de vergonha para apresentar. <span style="color: #999999;">(deixo essa veia de dançarina pra minha prima que faz isso muito bem)</span> </div>
<div style="text-align: justify;">
Então, pensando em tudo isso, lembrei da orientação de TCC que dei ontem, para uma aluna da pedagogia, e pensei em como a educação infantil é uma coisa significativa na nossa vida e a gente nem se dá conta... Não sei como funciona o inconsciente, mas vai saber se isso também não influenciou minha escolha de carreira. Lembro como se fosse hoje que a minha professora da época não me podou, não impediu de eu me expressar e nem me repreendeu depois que eu disse que não ia mais dançar, ou seja, de uma forma ou de outra eu teria apoio dela. </div>
<div style="text-align: justify;">
Claro que, com todas essas reflexões, pensei também na minha atuação como professora. É muito recente a minha relação com os alunos, afinal, sou professora há pouco tempo, mas acredito que eu levo um pouco de todas as professoras que passaram por mim (seja para concordar e seguir exemplos, ou para ser BEM diferente). Hoje eu vejo como a rotina de um professor é cansativa e consigo entender o porquê "daquele" professor não ter respondido e-mail no dia seguinte, ou "daquela" professora não ter corrigido as provas depois de uma semana, ou "daquele" professor que esqueceu de enviar o material para aula seguinte, ou "daquela" professora que não entregou o plano de ensino ainda... entre várias outras situações que ocorrem frequentemente e nós, como alunos, reclamamos e fazemos pouco caso. Não estou defendendo minha profissão, apenas querendo refletir sobre uma situação. Essa situação pode acontecer em diferentes casos, não só com professores, como por exemplo quando os nossos pais dizem "quando você for mãe você vai entender" <span style="color: #999999;">(espero que isso demore um pouco para acontecer, mas imagino que vou lembrar dessa frase)</span>. A questão é: a gente deveria se colocar no lugar dos outros, porque um dia podemos passar por algo semelhante e vamos desejar que as outras pessoas sejam compreensivas. Parece simples, mas na prática, talvez não seja tão fácil. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei que não sou uma pessoa muito fácil, mas eu tento. <span style="color: #999999;">(juro!) </span>O mais engraçado é quando vejo os alunos fazendo perguntas, ou tentando me explicar sobre o motivo de não ter entregado um trabalho no dia, ou pedindo para estender algum prazo, ou fingindo que está lendo o texto que eu dei, mas na verdade está com celular escondido, ou qualquer situação típica de aluno... e, tchanam! Me vem aquelas dúvidas: Será que eu pensava, na minha época de aluna, que eu conseguia enganar o professor? Ou será que eu achava que estava convencendo o professor? Porque eu ouço tudo isso e é tão estereótipo de aluno que dá vontade de rir, mas eu me controlo <span style="color: #999999;">(às vezes)</span>. Porém, tive várias situações específicas com alunos, que não foram tão previsíveis assim, mas a gente, como professor, aprende a lidar e <a href="http://rafaellacomdoisl.blogspot.com.br/2010/11/filosofia-do-improviso-ou-comentarios.html" target="_blank">aprende a improvisar</a> e se aperfeiçoa nisso. Talvez o que me encante todos os dias na vida de professora seja justamente isso, o que parece ser um trabalho rotineiro, nunca é a mesma coisa, por mais previsível que seja. Quem sabe algum aluno me surpreenda querendo "dançar Madonna" <span style="color: #999999;">(metaforicamente, gente, por favor)</span> e eu apoie, porque meu trabalho é esse: incentivar, instigar, ajudar os alunos a ter iniciativa e, talvez apoiando, coloco-os em dúvida, e acabo fazendo eles tomarem decisões... Como diz o meu irmão, "a vida é cheia de mistérios".</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim... várias fases da minha vida eu lembro quando escuto alguma música e, pensando nisso, acho que a trilha sonora da minha vida é meio esquizofrênica... Quando eu era bebê, dormia com música peruana; quando tinha 5 anos dançava Madonna no quarto (sozinha) sem medo de ser feliz; quando tinha 10 anos escutava Leila Pinheiro e chorava horrores porque morava em Joinville e queria voltar para Floripa; com 15 anos ouvia Slipknot e Kittie (rebelde, ui); com 20, Beatles e hoje... Bom, posso dizer que sou/escuto muita coisa, porque passei por muita coisa e, apesar dos grandes micos da vida, não me arrependo de ter "escutado todos esses tipos de música", porque esse meu 1/4 de século já tem história e ainda está tentando compreender tantas outras coisas...</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-11237075332781584892014-04-06T16:06:00.002-03:002014-04-07T15:54:35.496-03:00O dia em que fui assaltada e ganhei uma flor.<div style="text-align: justify;">
Sim. Fui assaltada, à mão armada. </div>
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Apesar da pessoa ter me levado celular e dinheiro, não me levou nada, absolutamente nada além disso, aliás, até me deu uma coisa... Deu uma reflexão. Vou parar de ser obscura e vou explicar...</div>
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Eram 23 horas de uma sexta-feira, eu estava no ponto de ônibus esperando para, tradicionalmente, me encontrar com amigos e relaxar no fim da minha semana atribulada. A rua estava movimentada, carros e pessoas apressados, pois acabava de começar a chover. Em algum momento da minha espera, vem em minha direção um homem de bicicleta. Não me preocupei, aliás, nem pensei em nada, até que ele sobe de bicicleta na calçada, pensei, então: serei assaltada. Tinha absoluta certeza disso, não me pergunte como. Apesar disso, permaneci parada, sem reagir, sem pensar, sem sentir medo. Sim, nada de medo, permaneci calma, consciente da situação, mas surpreendentemente calma. O homem, de boné e moletom - não estava bem vestido, mas também não parecia um morador de rua -, tirou de uma pochete, um revólver e soltou os dizeres: "me dá o dinheiro da tua carteira e o teu celular, e não grita senão estouro tua cabeça". Tranquilamente, eu abri minha bolsa, tirei o celular, abri minha carteira, tirei o dinheiro de dentro dela, fechei a carteira. Entreguei celular e dinheiro, continuei com minha carteira, bolsa, e tudo que tinha. Inclusive com minha tranquilidade. Aliás, tranquilidade que até agora não sei se era minha mesmo.</div>
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Fiquei alguns segundos sentada ainda, sem saber o que fazer. Levantei, e voltei para meu prédio, parei na portaria e disse ao porteiro que tinha sido assaltada, ele, muito solícito, perguntou se eu estava bem e me deu um copo d'água. Subi, meus pais não estavam em casa, comuniquei meus amigos, que me levaram para fazer um B.O. </div>
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Depois disso, saímos da delegacia e fomos fazer um lanche. Sim. Eu continuava tranquila, não queria voltar pra casa e perder minha noite. Já no lugar, um (suposto) morador de rua aparece perto da gente, com uma caixa e uma flor e diz: "Boa noite... " e eu, mais do que rapidamente, respondo sem dar tempo de ele completar a frase: "não queremos nada, obrigada." e ele: "Vim te dar essa flor (uma rosa), não precisa pagar nada...". Naquele momento, eu paralisei, pensando no que acabara de me acontecer. Duas situações opostas, na mesma noite, que me disseram: você está bem, não importa o que tenha acontecido, você só ganhou, basta identificar o que, e não olhar para o pontinho colorido no papel branco.</div>
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Imagino que, os que lerem isso, pensem "Mas que síndrome de Polyanna! A Rafa ficou maluca!" Talvez eu até tenha ficado, mas não foi só agora. </div>
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Essas situações só me fizeram refletir sobre o <i>status quo</i> da sociedade, refletir que não posso generalizar as pessoas que, supostamente, estão nas mesmas condições. Que eu, por mais que tenha "perdido" celular e dinheiro, estou bem, ótima, não perdi nada de significativo. Simbolicamente, apenas ganhei, uma flor, como um gesto de quem não me pedia nada em troca, uma bondade pra quem precisava dela. E eu não julguei depois disso, apesar do preconceito inicial, eu apenas aceitei a bondade. Porque a gente precisa, todo mundo precisa. Até mesmo o homem que me assaltou precisa. E ele, ainda mais do que eu.</div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-28536482203693689182014-03-09T21:00:00.003-03:002014-03-09T21:08:52.148-03:00Crise existencial, só que não.<div style="text-align: justify;">
Essa semana estava eu fazendo "aquela" limpa no meu quarto, no meio de uma big-bagunça, e me deparei com duas agendas antigas, cheias de folhas em branco. Não quis jogar fora. Eu sou meio "acumuladora" e costumo guardar várias tralhas que não servem pra nada, mas têm valor sentimental, mesmo que esse sentimento seja meio insignificante. </div>
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O caso da agenda é meio metafórico, não quis me desfazer porque ainda havia muitas folhas em branco e eu tenho fetiche por folhas em branco, mesmo que eu nem vá usá-las, vai que um dia eu use, né? <span style="color: #999999;">Sim, tipo aquela do unicórnio, vai que precisa..</span>. As folhas em branco da agenda, no caso, representam dias que se passaram e eu não registrei nada, ou não lembrei de registrar, aí fico pensando: será que eu aproveitei esses dias e não tive tempo de escrever nada? Ou será que eu nem tive nenhum compromisso? Ou será que eu esqueci? Geralmente a gente lembra só de coisas mais marcantes, até já falei sobre isso, ou são coisas muito boas ou muito ruins. Aí pensando nisso eu lembrei que deveria registrar mais uma etapa da minha vida, pra posteridade...</div>
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A etapa que eu quero registrar hoje é o início da minha vida como <b>Professora</b>, porque é assim que sou chamada durante a semana, de segunda a sexta eu não tenho nome próprio. E sim, estou adorando. Sou praticamente um zumbi, acordo às 5h30, dou aula até as 22h, mas me sinto leve, satisfeita. Mais uma vez não me imagino fazendo outra coisa. </div>
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No início do ano eu ainda não sabia o que seria de 2014, fiz algumas entrevistas, enviei currículos para inúmeras escolas e fiz duas seleções para professor. Passei nas duas seleções, no Colégio de Aplicação da UFSC e no Centro universitário de São José. Confesso que não acreditava muito que ia passar nem em um e nem em outro, mas passei e serviu para eu confiar mais em mim mesma. Mesmo sendo para professora substituta nos dois casos, a sensação de conquista é muito boa. Passada a euforia da contratação, vieram as aulas: Ensino Médio - 1ºs e 3º ano -, Graduação - Administração e Pedagogia. A primeira semana era tudo novidade, tanto pra mim quanto pros alunos, uns até mais velhos que eu. A frase mais ouvida foi: "Você é a professora? Pensei que era aluna". <span style="color: #999999;">(inclusive no primeiro ano do ensino médio!) </span>Depois da surpresa da minha cara de novinha (ui!), percebi o respeito pelas minhas aulas e fiquei satisfeita que minha escolha foi a certa. Saio flutuando de cada aula. Claro, sempre há aquelas bagunças, umas chamadas de atenção, mas até isso dá uma certa satisfação, porque faz eu me lembrar que isso é o mundo real e eu tenho que aprender junto com os alunos. Já se passou mais de uma semana de aula e o saldo até agora é bem positivo: fui convidada para participar de uma banca de TCC, para ser orientadora de um TCC e para ser madrinha da turma do 1º ano nas Olimpíadas do colégio. Pra quem não vive a profissão, talvez não saiba o que é a satisfação de fazer o que gosta, mas vou contar um segredo: é muito bom, todos deviam tentar!</div>
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Ainda falta muito pro término do ano letivo, mas espero que todos os dias me façam flutuar de alegria e satisfação e também que meus alunos possam sentir isso um dia, na profissão que escolherem.<br />
Faz bem pra alma. <span style="background-color: white; color: #202020; font-family: Verdana, Tahoma, Arial, sans-serif; font-size: 20px; line-height: 16.799999237060547px;">❤</span></div>
Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8682050562405760653.post-24748763082265459772014-01-05T13:53:00.004-02:002014-01-05T14:34:13.335-02:002014, o ano das mudanças (ou, o dia do desmaio irritado)<div style="text-align: justify;">
Pois então, a primeira escritura do ano... Não quis fazer uma retrospectiva do ano que passou, porque o que passou, passou <span style="color: #999999;">(tautologia é amor, -sqn)</span>. Portanto, prefiro falar de abstração, do que ainda não foi, do que é só fluxo de consciência <span style="color: #999999;">(por enquanto).</span></div>
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Dizem que esse ano será de mudanças <span style="color: #999999;">(tomara que sejam pra melhor!)</span>, pois eu, moça observadora que sou, já percebi mudanças <span style="color: #999999;">(in)</span>significantes na minha vida. A primeira delas: minha compulsão por controle, planejamento e metas se foi por água abaixo... Pela primeira vez na minha vida eu não sei o que eu quero fazer, não estou preocupada em cumprir algum prazo, ou preocupada com saúde <span style="color: #999999;">(não como nos últimos anos).</span> É uma sensação estranha, de alívio e ao mesmo tempo de ansiedade por não saber o que o mundo me reserva. Nunca fui do tipo "deixe a vida me levar", mas essas "férias" <span style="color: #999999;">(leia-se: desempregada no momento) </span>estão me ensinando a ver as coisas com outros olhos. Esse olhar diferente <span style="color: #999999;">PASMEM </span>me faz "aproveitar" até os segundos, sem ficar pensando no que pode acontecer. Alguns chamariam de inconsequência, eu não sei ainda do que chamar, porque é algo novo pra mim. </div>
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Conheci muitas pessoas nesse ano que passou, tive muitas experiências gratificantes, mas essa expectativa pela novidade é tão misteriosa que, às vezes, apaga alguns fatos antigos. Eu prefiro pensar que daqui pra frente vão me surgir oportunidades que me situem nessa passagem louca que é a vida, porque até agora eu estou meio desnorteada. Quem sabe todas essas "loucuragens" <span style="color: #999999;">(vide todos os outros posts do blog)</span> sirvam de lição pras minhas decisões, ou de exemplos em novas situações. Esse ano pra mim é bastante incerto e comecei a achar que o incerto pode ser bom, mesmo com os percalços...</div>
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Um dos percalços já se apresentou, esse não tão bom assim. Um pseudo-desmaio <span style="color: #999999;">(porque eu não sei se foi bem um desmaio, nunca desmaiei antes)</span>, pura e simplesmente porque eu fiquei IRRITADA <span style="color: #999999;">(sim, eu irritada não é novidade)</span>. É <span style="color: #999999;">(pros que sabem da saga do cushing - insuficiência adrenal)</span>, faltou cortisol pra controlar o estresse e comecei a ver tudo branco, ficar tonta e o corpo pesar e.... meu pai me segurou e enfiou 2 comprimidos goela abaixo e PLIM, Rafaella nova em folha. Nunca tinha acontecido nada tão extremo assim ainda, por culpa da insuficiência adrenal, mas pelo menos agora já sei como é e já sei quando é hora de tomar outra dose de prednisona. Claro que todos os presentes no momento se assustaram, mas, como sempre, depois nós damos risadas e tá tudo certo.</div>
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Tirando essa nova doideira, eu passei UMA SEMANA na PRAIA. Coisa que também nunca fiz na vida. E ainda pra complementar: fiquei bronzeada. Sim, bronzeado com colaboração do tumor ~querido~ produtor de ACTH <span style="color: #999999;">(sim, esse continua lá em algum lugar da minha grande hipófise de 3mm)</span>, que provoca hiperpigmentação, logo, pego sol e fico da cor do pecado (ui!). Claro que no meio dessa semana aconteceram alguns episódios bizarros, tipo ataque de pânico por causa de uma aranha e coisas do tipo, mas nada muito extraordinário vindo de minha parte. </div>
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Enfim... quem sabe as novas peripécias de Rafaella esse ano sejam menos "irritadas", pra não ocorrer muitos desmaios, e que as mudanças venham em doses homeopáticas, mas sempre positivas. </div>
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Um feliz início de ano pra todos. ;)</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-MwgL0R0q-VjBQrdmJ0YhcvBkIfW45GrpwIMzlH0tZBmTxBqYiCNUxQ7cOX85U_YpZ_GD_IE53VkUVd9ArZR9brNe3slLjyohdDxiELPjqRxaf5eaYEnWgQBt8HyjFPBpu2nYBXOGnGnI/s1600/RAFA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-MwgL0R0q-VjBQrdmJ0YhcvBkIfW45GrpwIMzlH0tZBmTxBqYiCNUxQ7cOX85U_YpZ_GD_IE53VkUVd9ArZR9brNe3slLjyohdDxiELPjqRxaf5eaYEnWgQBt8HyjFPBpu2nYBXOGnGnI/s320/RAFA.jpg" width="320" /></a></div>
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Rafaella Machadohttp://www.blogger.com/profile/13153051385662923141noreply@blogger.com