sábado, 31 de julho de 2010



Nada, nada é tão ruim que não possa piorar.


♫ let it be...

domingo, 4 de julho de 2010

quase-título

Esse novo capítulo era pra ser intitulado alguma coisa do tipo “sem gosto, sem cheiro e sem cushing”, mas feliz ou infelizmente (ou as duas coisas) não será esse o título. Por quê?
Talvez eu já tenha comentado, mas eu simplesmente não entendo o que as pessoas pensam quando nos dizem “é, a gente só dá valor pras coisas depois que perdemos ou quando existe algum problema” Isso não é verdade! Ok, pra algumas situações pode ser, não serei radical... A questão é...
Depois da cirurgia, fiquei mais ou menos umas duas semanas sem sentir cheiro, nem gosto... A sensação é muito estranha, você sente fome, sente vontade de comer, mas come como se fosse uma obrigação e sem sentir prazer nenhum! É frustrante! Confesso que não escrevi antes sobre isso, porque estava morrendo de medo de não sentir mais cheiro/gosto nunca mais na vida! Aí que se encaixa a frase citada anteriormente... Quando eu dizia que a minha recuperação estava boa, vários “alguéns” repetiam "mas pelo menos depois disso se sabe o quanto era bom e não se dava valor" - acho que ninguém pensa muito quando fala isso.. Parece que seria como se eu antes não desse valor pra isso, mas eu, mais do que ninguém, sei muito bem que eu SEMPRE valorizei um cheirinho de perfume, ou de café recém passado de manhã cedo, do gosto da pizza da minha tia, do bolo de maçã feito pela minha vó... é quase como o episódio de Proust com o cheiro de Madelaine – um bolinho que ele sentiu o aroma e fez lembrar da infância - , são coisas que ativam a memória e mandam alguma informação pro cérebro dizendo “isso é maravilhoso, aproveite”. Antes da cirurgia meu cérebro estava perfeito e recebia essas informações, não vou receber melhor essas informações só porque fiquei um tempo sem elas. Essa mania de achar que precisamos sempre passar por um problema pra depois dar valor a alguma coisa específica, isso está errado! Cheguei a cogitar a possibilidade de tanto ouvir isso, pensei “mas eu achava que dava valor pra sentir gosto; adoro cheiro, gosto, comida, perfume... o que eu precisava fazer pra provar isso? tenho que fazer outdoors descrevendo todo o prazer que sinto quando tomo uma xícara de café?” Não, não é assim. Fiquem tranqüilas, pessoas. As coisas não acontecem simplesmente para nos castigar, ou para “nos dar uma lição”, as coisas acontecem, porque acontecem, oras. Claro que não tem problema sair contando pra todo mundo o quanto você gostou de alguma coisa, as pessoas gostam de sugestões e dicas de coisas boas, mas não precisamos ficar esperando acontecer um problema pra só aí começar a falar do que se gosta.
Por exemplo, podem me chamar de maluca, mas eu gosto do meu nariz, acho lindo. É, isso mesmo.
No meio dessas intempéries, cheguei a sonhar com isso no hospital, um pesadelo na verdade, que tinha acordado como o personagem do Gogol, sem nariz! Mas aí acordei e me olhei no espelho... Depois de ter ficado com dois cones dentro dele, inchado, pingando e descascando, parecendo o Rudolf (aquela rena do papai Noel que tem uma lâmpada vermelha como fucinho) ele voltou ao normal, fazendo parte novamente do meu rosto, como deveria ser (mesmo eu parecendo o piu-piu, com as bochechas crescendo desenfreadamente e a boca sumindo no meio da face), meu nariz voltou a ser lindo, até achei que ele ficaria bem sozinho (fora do meu rosto) porque parece que não se encaixa um nariz “normal” -que eu ainda reconheço como “o meu nariz” - no meio de um rosto de uma estranha, mas percebi que cada um tem o nariz que combina consigo, sempre há quem possivelmente não goste, mas aí tem opções - na maioria das vezes corre-se o risco de ficar parecendo o Michael Jackson (R.I.P.), eu não recomendaria, acho que seria mais legal se fizessem como o dentista do Veríssimo, que resolveu usar um nariz de mentirinha e provocou maior polêmica, se a intenção é chocar, vamos fazer direito!
Bom, mas voltando à explicação do ex-título... Não poderia utilizá-lo pelo simples fato de que já voltei a sentir cheiros, gostos e o principal... não estou livre do cushing. Deve ser porque sou uma pessoa muito cativante. À primeira vista, na maioria das vezes, começam me achando muito quieta, metida, tende-se a me detestar, mas aí me conhecem, continuam me achando metida, mas se passaram do primeiro estágio e não me detestaram aí é porque são guerreiros mesmo e não vão conseguir se desapegar de mim tão cedo. O cushing provavelmente foi parecido, no começo eu era metida e estava quieta (nem sabia que tinha), agora não estou mais quieta (porque sei que tenho) e continuo metida, mas ele não me deixou depois da primeira cirurgia. A doença não conhece o ditado “quando um não quer, dois não brigam”. Na realidade acho que eu fui muito boazinha, aceitei cirurgia sem revoltas, estava indo tudo muito bem, eu estava agüentando esses processos “tranquilamente” (seja lá o que isso queira dizer) e isso foi um problema.
Depois de 10 dias de cirurgia, cheguei na consulta de retorno me recuperando maravilhosamente. - nem parecia que eu tinha passado por um procedimento que envolvesse meu cérebro, todos achando isso uma coisa muito boa, de certa forma até eu (mesmo que eu não estivesse notando NENHUMA diferença de antes da cirurgia e essa indiferença estivesse martelando na minha cabeça) – e vendo essa recuperação muito rápida, a médica da endocrinologia diz “isso não é bom, você está muito bem, era pra você estar muito mal!” e as marteladinhas na minha cabeça viraram um bate estaca daqueles de início de construção de um super Shopping Center.
A cirurgia não teve o efeito esperado. Eu tive certeza que não estava curada minutos antes de me encontrar com a médica. Dessa vez, fomos somente eu e meu pai para SP, chegamos +/- 6h40 no HC para conversar com a endócrino antes de ir na neuropsiquiatria – que eu tinha consulta as 7h30, pergunto para o recepcionista sobre a médica e ele responde que ela ainda não chegou, soltei um palavrão tão automaticamente - por ter ficado irritada que poderia chegar atrasada na consulta na neuro – que até meu pai ficou com pena do recepcionista que não tinha culpa de NADA, percebi que com certeza o nível do meu cortisol não poderia ter baixado pra eu ter ficado tão irritada com uma coisa tão pequena e ter forças para ter sido tão mal-educada.
Com a retirada do tumor, era pra eu ter tonturas, náuseas, anorexia e vários outros tipos de mal-estar, pois o nível do meu cortisol era pra ter baixado muito repentinamente e meu organismo teria que se readaptar, porém, o nível de cortisol não baixou e meu organismo continuou o “mesmo”. A cirurgia na realidade serviu para a raspagem da sinusite. O resultado da biópsia, do que eles supostamente achavam que pudesse ser o tumor, ainda não saiu, mas já era pra eu sentir a diferença (que infelizmente não sei qual é). Nunca quis tanto me sentir mal na vida. Dizem que mulher complica as coisas, só que a opção que me oferecem é de se sentir mal para estar bem e eu estou me sentindo bem, mas estou mal (????) e o pior (ou melhor, já nem sei mais) é que estou bem! Ok, é confuso, muito. Saí de lá sem saber quais os próximos passos, já que essa primeira cirurgia não foi eficaz. Já sabia que existia a possibilidade de isso acontecer, tem casos de pessoas que fizeram 3 cirurgias na hipófise, pois a retirada do tumor não foi completa, ou o tumor não foi encontrado. Tem outros casos que se retiram as adrenais (as glândulas produtoras do cortisol), porque a hipófise é a comandante, ela manda informação pras glândulas produzirem, se não se encontra a falha na gerência o que temos que fazer? Mandar embora os funcionários, porque se não tem pra quem mandar informação aí ela não pode fazer nada, certo? Mas eu ainda não sei o que será feito, não tive mais notícias. Ainda não decidiram o que me dizer e o que fazer... A coisa mais frustrante pra uma pessoa controladora é saber que você não controla coisa alguma - o pior, você não consegue nem controlar a si mesmo.
Por enquanto... continua ressoando na minha cabeça “você tem que ter paciência”, a frase mãe das frases mais chatas do (meu) universo.