O ato da escritura sempre pressupõe uma interação, entre o que sai da nossa cabeça (da minha, no caso), com a lingua(gem) que a gente usa e as coisas que a pessoa que ler já tiver na cabeça...
Escrever no blog é uma coisa um pouco complexa porque a gente não sabe quem vai ler, então não sabe se a pessoa têm coisas na cabeça que vão proporcionar a interação que a gente deseja...
Mas eu não me importo muito com isso, porque não estou sendo avaliada e não tenho um propósito muito definido aqui mesmo... mas claro que a gente sempre tem um propósito quando expõe alguma coisa, tudo que a gente "põe pra fora" tem um motivo (mesmo que a gente não tenha consciência, Freud explica, ou não).
Eu já percebi que os posts que mais tenho visualizações são os que eu descrevo situações dramáticas, misturadas com alguma pontinha de tragicomédia ou alguma observação aleatória que eu faço sobre um fato cotidiano, mas quando eu fico assim, divagando, geralmente os posts não têm muitas visualizações... por que?
Consequência da interação, óbvio. Primeiro porque divagações sem pé nem cabeça as pessoas não vão estabelecer relações e aí não vai ser interessante, porque a gente sempre procura alguma relação, pra poder interagir.
Eis que se conclui que a palavra da moda é: INTERAÇÃO.
Nas aulas do mestrado em Educação essa palavra é mencionada o tempo inteiro, às vezes eu nem quero interagir porque fico com dor de cabeça de tanta interação! Mas não tem como fugir, estamos em meio a interações sociais, por meio de relações, redes... Tanto é que estou aqui interagindo com o meu computador e, pela internet, ao mesmo tempo, com várias pessoas, no momento em que eu clicar em "publicar postagem" tudo que eu "coloquei pra fora" estará disponível para mais interação...
Como estou num processo "dissertativo" da minha vida - tudo gira em torno da minha dissertação de mestrado - eu só penso nisso, só falo disso, só respiro isso... então pode ser que eu não esteja muito interessante, aí deixo o blog às moscas, até porque eu não tenho nenhuma notícia sobre o cushing e consultas médicas (que é o que mais dá ibope aqui!).
Só que às vezes a gente tem necessidade de parar e pensar no que está fazendo, e eu penso escrevendo.
Eu fico pensando no tema do meu trabalho, pra que aquilo vai servir, se vai contribuir com a sociedade, se o que eu escrevo tem relevância, se eu vou mudar alguma coisa no mundo, ou se eu sou só mais uma reclamona...
Mais uma vez me peguei pensando nas facilidades da internet e na genialidade dessa ferramenta... numa de minhas aulas surgiu uma discussão sobre os grandes pensadores e teóricos da história, que nós temos que ter conhecimento pra, a partir deles, fazer novas descobertas - e não apenas inventar a roda novamente - e aí a grande questão: nós estudamos muitos pensadores, filósofos da antiguidade etc e tal, mas e nós? Quem somos? Onde estão os gênios? Que legado a nossa era vai deixar pras próximas gerações? O mais comum dos discursos é aquela suposta nostalgia de "antes as pessoas lutavam por mudanças, revolução, conhecimentos" e agora?
Posso estar viajando, mas eu acho que os grandes gênios da "nossa era" são os Steve Jobs e Mark Zuckemberg's da vida! (não me vem à cabeça nenhum outro nome famoso ligado a essas áreas, tipo o criador da Microsoft ou de algum outro sistema operacional, ou algum programador que fez alguma coisa que eu provavelmente utilizo e não faço nem ideia, porque eu não sou uma sumidade da nerdice e porque eu não estudei eles na aula de história... mas quem sabe eles não estarão nos livros - ou disponíveis na web, para consulta em tablets didáticos, ou seja lá o que for - daqui uns anos?)
A expressão da moda não é "interação social"?
Pra que melhor exemplo que uma rede social na web?
As épocas são marcadas por "novos termos", "novos conceitos", "novas expressões".
Às vezes apenas o entendimento de uma expressão é o que muda todas as atitudes de uma sociedade.
A invenção do termo "web 2.0" (pra diferenciar de apenas "web", como se alguém chamasse de "web 1.0", mas tudo bem... é tipo falar da "pós-modernidade", só foi denominada assim porque existiu a modernidade, mas na verdade quem determinou que a modernidade acabou? tá, mas isso é outra história....) pra denominar a mudança das tecnologias, que permitem a interação dos usuários... No caso de "wikis" (sim, tipo a wikipedia!), por exemplo, um site antigamente era feito por programadores e os usuários utilizavam de forma estática o que era colocado lá, agora, com a possibilidade de interação, os próprios usuários podem atualizar informações das páginas que acessam, podem fazer um rebuliço, uma espécie de permissão pra construir nova informação (resumindo: wikipedia = enciclopédia dinâmica).
A interação é instantânea, os compartilhamentos, as reações, as repercussões... vivemos sob o poder de um click! Isso é genial!
Minha dissertação não tem nada a ver com o tema "internet" ou "redes sociais", mas como eu passo a maior parte do dia no computador digitando, navegando, lendo, compartilhando angústias e etc, eu não tenho como não estabelecer relações com a minha realidade.
Que realidade? A da interação!
A partir do momento que leio o Bakhtin lá na sala do mestrado, que diz que nossos discursos sempre serão "infectados" por outros discursos, que ninguém NUNCA falou uma coisa que não foi falada antes, que nós somos constituídos por várias falas que nos precederam - e nem nos damos conta - e que nós interagimos com os discursos que estão em nossa volta e blablabla whiskas sachet... o que eu vejo? Que a internet é isso. Compartilhamentos de discursos, muitas vezes nem sabemos de onde vem, mas nos identificamos e tomamos aquele discurso como nosso, absorvemos, reconstruímos e "colocamos pra fora".
Essa busca por identificação e a necessidade de compartilhar é o que faz de nós seres humanos. E geralmente nos identificamos com as angústias dos outros, com emoções, com qualquer coisa que nos faça lembrar que somos humanos.
Li um artigo esses dias, (desses que foram compartilhados por tanta gente que a gente já nem se lembra onde leu e de quem era - ótimo exemplo bakhtiniano do famoso discurso perpassado por outros discursos que a gente não sabe mais nem a origem) que falava sobre a inteligência e sobre quem determina os níveis de inteligência das pessoas, aí citava o exemplo da pessoa considerada muito inteligente, mas quando ela precisava que arrumassem o seu carro ela recorria a um mecânico e aí fica a questão: quem é mais inteligente nessa situação?
Sem entrar no mérito de diferenciação entre termos, (inteligência ou conhecimento ou capacidade) a questão é: por que aquela "pessoa inteligente" foi buscar ajuda de outra pessoa pra consertar seu carro? Porque essa outra pessoa teve a oportunidade de interagir com discursos que indicaram a maneira certa de consertar o carro!
Interagiu, consertou, ok, acabaram-se os problemas. Não! Outros problemas vão surgir, que vão necessitar de novas interações... e assim sucessivamente.
Aí vêm aquele outro assunto polêmico da internet: exposição. Exposição de problemas, compartilhamento de problemas, bla bla bla problemas... salvem os psicólogos, terapeutas e psicanalistas! Quem mais precisará deles se sua metodologia de resolução de problemas por meio da linguagem (sessões de terapia, contando neuras ou felicidades ou angústias ou qualquer coisa) pode ser substituída por narrativas em redes sociais, blogs, mídia, etc?
Os próprios leitores dão conselhos, ou xingam, ou elogiam... e a resposta é mais rápida!
Essa era da interatividade faz de todos profissionais em qualquer área. Todos se sentem aptos a opinarem em qualquer área, educação, linguagem, psicologia... afinal, somos humanos, Ciências Humanas é nossa especialidade, certo? Não.
Cada um estuda e tem mais aptidão para lidar com determinado assunto. Isso quer dizer que não é qualquer um que possa opinar sobre qualquer coisa, ainda mais acreditando que seu discurso é único e verdadeiro, desconsiderando o que outras pessoas já falaram e pesquisaram sobre o assunto.
"Ah! Mas eu não estudo ciências humanas, minha área é exatas" Ah, sim, e você faz todas as suas pesquisas pra que mesmo? Pra se trancar no armário e nunca compartilhar com nenhum outro ser humano porque você nunca vai interagir com ninguém de nenhuma forma, né? Precisamos ser lembrados que somos humanos.
Acho que ser humano é essa constante tentativa de não esquecer que somos humanos. Deve ser por isso que atribui-se à interação social a resolução dos problemas ("problemas", no sentido mais amplo do termo, porque ultimamente é tudo assim, relativamente falando).
Eu não resolvi meus problemas. Pensar numa coisa óbvia: "somos seres sociais, interagimos socialmente e devemos interagir com outros seres sociais" pra mim não resolve nada.
Mas se eu quisesse resolver talvez eu teria procurado um psicólogo, ao invés de vir escrever no blog, não? Daí vem a questão: será que eu quero mesmo resolver problemas?
Daí me falam (e todos os pós-graduandos já ouviram isso) "ainda bem que tens tempo pra pensar nisso tudo e não trabalhas, né?" e eu respondo mentalmente "imagina se eu NÃO trabalhasse, né?" porque eu só penso nisso tudo porque fico com a mente trabalhando o tempo inteiro... e como eu disse, eu penso escrevendo e, é claro, escrevo pensando.
E se eu resolver todos (meus) problemas, vou escrever sobre o que, né?
Quem sabe no meu próximo post eu resolva um problema e escreva sobre adrenalectomia videolaparoscópica... mas o que é que você, ou, alguém tem a ver com isso tudo? não sei, culpem a interação.