quarta-feira, 10 de novembro de 2010

filosofia do improviso - ou, comentários (im)pertinentes

O estágio de docência acabou. Quer dizer, as aulas acabaram, porque o semestre ainda está aí e tenho zilhões de coisas relacionadas ao estágio para fazer. Mas, assim como meus alunos tiveram que escrever um texto de memórias sobre algo que ainda não tinha acabado, aqui estou eu fazendo (quase) a mesma coisa.
Confesso que estou com uma preguicinha aguda, parece que quanto mais tempo livre temos, mais preguiça dá. Não que eu tenha tanto tempo livre assim, mas já tive meus dias mais atolados...
A questão é: me forcei a escrever novamente para não perder a força do hábito.
Nesses últimos dias eu estava mais para "revisora" do que "escritora", e não é fácil não, quem é que disse que professor vai para sala de aula por que não gosta de revisão? Professor é revisor! (e também decifrador, porque tem cada hieróglifo, inacreditável!)
Foi uma tarefa árdua e satisfatória. Foi maravilhoso, na verdade, acho que devo ter uma pontinha de masoquista... Mentira. Não sofri com a tarefa de revisão, sofri com qualquer outra coisa que não é explicável em palavras educadas.
Bom (esse "bom" me lembra o início dos textos de um aluno #nostalgia), uma coisa que trabalhamos (é, "trabalhamos", porque meu estágio não fiz sozinha, foi com uma dupla de três, mas enfim, foi em DUPLA.) com os alunos foram "as dificuldades do começo", do começo de escrever, escrever sobre memórias... discutimos horrores, e quando começaram a escrever, adivinhem o que eles mais falavam "não sei começar!" É, a orientação aconteceu continuamente, e depois eles conseguiram começar (e continuar e acabar e ficou lindo!)
O que esses relatos tem a ver com o título? Então... por aqui, por mais que não pareça, tudo tem embasamento!

Conversando com uma (am)Ada amiga, cheguei a conclusão que improvisos são muito bem fundamentados. No meio do nervosismo de ministração de aulas também participei da ministração de um minicurso de Direito e Literatura, e pra que melhor do que usar o mesmo texto que foi usado na oitava série, mas com estudantes de Direito? Sim, texto sobre as memórias da Emília.
Minutos antes de iniciarmos o minicurso, conversavamos sobre a possibilidade de surgir perguntas absurdas e/ou incabíveis (ou que não soubessemos a resposta! hahaha), cada um reagiu de um jeito e no fim combinamos uma espécie de "saída de fininho", caso ficassemos em uma situação não muito agradável o jargão seria: "convidamos para participar das reuniões e discutirmos melhor essas questões, pois o minicurso tem outro foco".
No meio das apresentações das minhas colegas de minicurso, eis que surge uma pergunta, pronto, comecei a gelar (e acredito que as outras colegas também), não lembro qual era o teor da pergunta, a única coisa que eu lembro é que desatei a falar e minhas colegas acompanharam o raciocínio, numa espécie de improviso ensaiado... e desenvolvemos maravilhosamente a discussão! Apesar do pouco público e de nossa preparação ter sido às cegas, conseguimos dar conta...
O que mais foi maravilhoso - para mim, é claro - foi justamente a situação em que "tudo" se encaixa... um ser com cara de pré-adolescente, mas que pelo que parecia estava na graduação de direito, prestava atenção às nossas exposições/discussões sobre a Linguagem, e sobre discursos que teriam a pretensão de serem neutros e blablabla e, então solta um comentário "ah, mas meus amigos que fazem Letras dizem que os professores falam que uma poesia, por exemplo, TEM que ter aquela interpretação, senão tá errado"
Lógico que esse ser não sabia com quem estava falando e como pisou no meu calo eu não fiquei quieta... "Olha, eu faço Letras e não é bem assim" e aí a discussão desenrolou e foi muito produtiva!
Todas as minhas queridas colegas citaram (devidamente) Roland Barthes e por dentro eu chorava de felicidade! E Roland Barthes ao mesmo tempo em que era citado, fundamentava minha análise sobre o "improviso"...
A questão é: soubemos "improvisar" porque estavamos bem preparadas, não foi um comentário ao acaso, não eram simples enrolações... e o comentário (im)pertinente do serzinho foi o que suscitou a discussão que fez o minicurso render... Essas coisas (im)pertinentes é que dão mote às melhores conversas, pois ao invés de simplesmente ignorar um comentário, tranforma o comentário em algo produtivo!
No estágio aconteceu algo parecido... uma aula específica foi salva por causa de um comentário de uma aluna "não tô entendendo o que isso tem a ver com Português", pronto! Foi a minha deixa... ao invés de me apavorar terrivelmente, desenvolvi essa questão com eles...
Barthes também fala de repulsa (da leitura) e desejo (da escritura)... a Repulsa em relação à leitura acontece quando alguma coisa é imposta (no caso da discussão do minicurso, seria a tal interpretação que o ser disse que os professores de Letras impunham aos alunos, o que não procede, tanto é que estou aqui expondo meu ponto de vista sem impor nada a ninguém, mas sempre lembrando: nada é neutro, haha) e aí o leitor não vê possibilidades de estabelecer relações com determinado texto, e acaba fazendo daquela leitura algo insignificante (ou, pior, acaba detestando um texto só por causa da maneira como ele foi tratado)
No caso da aula, talvez a forma como as informações estavam sendo tratadas (não, não foi por mim - posso parecer tendenciosa ou o que for, mas é fato) naquela hora estavam parecendo imposições e isso assusta, obviamente.
Não é por nada, mas, por exemplo, a maneira como tratei os textos no estágio foi tão linda, que até eu gostei mais deles! haha
Com certeza, depois de algumas ressalvas, suscitamos o desejo da escritura nos alunos... Esse desejo é a vontade de falar alguma coisa sobre o que se leu, é algum comentário específico que foi ponto de partida para discussões e para se estabelecer relações com outras coisas...
Minhas divagações podem parecer bastante abstratas, mas as minhas aulas foram bastante ilustrativas... O segredo: (que nem é segredo, é só uma habilidade que as pessoas deveriam ter) estabelecer relações.
Preciso até fazer uma confissão, acho que fui bastante "didática"! Não que didatismo seja uma coisa ruim, mas apenas gostaria de retratar alguns comentários antigos sobre "Didática", na realidade, acho que tive traumas com essa disciplina na universidade, e tenho minhas rixas com "pedagogia", talvez eu apenas não tive uma experiência muito boa, não é preconceito, é conceito formado, infelizmente.
Voltando ao tópico, nem sei mais qual era o tópico exatamente, mas tudo bem, memórias são assim, vêm fora de ordem e não são muito claras... Ah! repulsa, desejo, relações... Vou justificar minha retratação sobre a crítica à didática...
Para "ilustrar" um texto em sala, fiz uma dinâmica, é, pasmem! Eu tive ideia de envolver os alunos em uma dinâmica de grupo! Euzinha... e deu certo! Ah, e pior (ou, melhor, na verdade...) não foi apenas uma aula, a maioria das aulas foram interativas!
Eu, que sempre tive pé atrás, quando estava na escola, com essas atividades que os professores faziam os alunos participarem em sala... Acho que eu tinha razão de não gostar, porque as atividades pareciam sem sentido e ninguém me explicava nada...
Nossos alunos tiveram explicações dos objetivos das aulas! E... tchanan! Como mágica, todos gostaram! Todos participaram!
Não falo isso sem embasamento, eles avaliaram! Ouvimos críticas e elogios deles... e nunca tive melhor avaliação na minha vida! Como diria Barthes (novamente), nossa orientação para leitura não foi imposta, fez eles participarem, por isso ao invés de repulsa, eles desejaram relacionar a leitura com críticas maravilhosas, e ao longo do estágio escreveram textos dignos de serem publicados!
Ainda vou publicar em algum lugar, acho que vou abrir uma editora só pra mostrar como os alunos são geniais! Isso que foi só a minha primeira experiência como professora, só tive 25 alunos!
Claro que as aulas não acabaram simplesmente quando acabaram (?!)
É, eu tive a brilhante ideia de fazer uma colcha de retalhos com as memórias deles... Pois, falamos sobre a etimologia da palavra "texto", que vem do verbo latino "tecere", e então nós íamos "tecer os textos" deles, cada aluno = um retalho, todos os retalhos juntos = colcha = texto. Foi lindo, maravilhoso, todos trabalharam em seus retalhos, mas... e depois quem costurou todos os retalhos? eu e minha dupla, LÓGICO! Quem tinha inventado isso mesmo? me diz quem! Porque eu ia matar!
Literalmente, dei meu sangue para costurar essa colcha! Sim, me cortei... e por pouco não manchei um retalho com um retalho do meu dedo! Mas como disse uma aluna "até as rosas tem espinhos, ou seja, tudo na vida tem as rosas e os espinhos."
Não seria tão perfeito se não tivesse imperfeições!
Os alunos escreveram suas avaliações, alguns colocaram nome, outros não (mas, segredinho... nós conhecemos as letras e sabemos quem escreveu o que!)
O que constatei... Nós sabemos os nomes deles, mas eles confudem nossos nomes, recebi uma crítica maravilhosa, mas não em meu nome.
Na verdade fiquei até me perguntando se era pra mim mesmo, senti que eu estava convencida demais, mas todos os indícios apontam para uma simples troca de nomes, condenem-me, fiquei martelando isso o dia inteiro e resolvi me conformar com a troca de nomes...
Como diz a Emília (que eu já citei no post anterior), o escrevedor de memórias coloca as memórias de jeito que o leitor fique fazendo uma alta ideia dele, então eu posso dizer aqui que foi tudo lindo, porque da forma como eu lembro e coloco, eu faço uma alta ideia das minhas memórias, afinal, elas são minhas... e segundo algumas alunas as aulas foram muito "glamurosas", porque eu sou muito "IXperta e fashion" e tudo porque eu sigo a minha filosofia de vida, a filosofia do improviso...



sábado, 18 de setembro de 2010

Feliz desaniversário!

É. Mudei.

Não por algum motivo especial e nem por que algum milagre aconteceu. Só acho que preciso fazer algumas mudanças nos "layouts" da minha vida de vez enquando...
Em relação ao cushing, nem sei mais o que as pessoas sabem. Acho que precisam saber apenas que eu optei por abandonar a doença, não, não achei uma cura milagrosa e muito menos abandonei o tratamento, pelo contrário... Viajei novamente para São Paulo - pela última vez com esse propósito - fui a nova consulta e me deram o resultado dos exames da cirurgia: foram retirados dois fragmentos tumorais (!?), porém, não foi o suficiente, alguma coisa restou lá (lá = minha hipófise) e continuei produzindo o inconveniente cortisol. Os próximos encaminhamentos se restringiram a poucas opções... Decidi continuar o tratamento com medicamentos na minha cidadezinha maravilhosa - que não é o Rio de Janeiro e muito menos São Paulo! - Essa MINHA opção está resultando no controle do nível de cortisol, vejam só! Não me importo de ter que tomar o cetoconazol (que é o remédio que controla o cortisol) até não sei quando, um comprimido é muito menos estressante do que viagens!
Defini o cetoconazol como meu antidepressivo. Não preciso de uma data específica ou de algum acontecimento marcante pra lembrar que estou bem, os dias estão mais bonitos e por incrível que pareça, estou mais tranquila, MESMO. É mais ou menos como quando Alice conversa com Humpty Dumpt e ele diz que gosta de ganhar presentes de desaniversário, porque todos os dias do ano - tirando um - são desaniversários, então seria muito melhor se comemorassemos todos os dias...
Pode ser que eu adore viver num conto-de-fadas, mas é porque não consigo conter o meu encantamento quando faço relações "teoria-prática".
Junto com minhas decisões e resultados positivos de exames de cortisol, vieram as aulas. Sim, estou no estágio de docência! Darei aula para uma turma de oitava série do ensino fundamental. A escola é boa, os alunos são bons, a professora da turma é boa, é uma situação ideal, no sentido estrito do termo! E o tema que nos ficou designado para trabalhar com eles, também não poderia ser mais perfeito: "memória"! Posso relacionar experiências com a teoria, colocar em prática o que eu idealizo, utilizar exemplos... memórias!
O início do estágio começou com uma oportunidade de irmos (eu e minha dupla de três) para Minas Gerais visitar as cidades históricas junto com os alunos do colégio. Fomos pedir auxílio financeiro e etc, mas... como num Processo Kafkiano, por impedimentos burocráticos não fomos viajar - a Universidade tinha o dinheiro mas não tinha como repassar a verba (????) - é, não conseguimos entrar n"O Castelo". Acompanhamos as atividades dos alunos que não foram viajar e tivemos mais tempo para nos organizar por aqui... Como eu tive um estágio de ouvinte enquanto estava no hospital, aprendi a lidar com a necessidade dos outros de contar histórias, ou seja, agreguei à minha experiência vivida as experiências narradas por outras pessoas - desde que entrei na faculdade Walter Benjamin está sempre presente me fazendo relacionar teoria-prática! - por isso, não foi tão frustrante... A ironia é que eu deveria fazer relatórios diários sobre as observações das atividades da escola, mas eu, como boa procrastinadora que sou, acabei deixando e deixando e deixando... e quando percebi, os relatórios pareciam Gremlins quando se deixa pingar uma gota de água! Multiplicaram-se! Apesar dos pesares e reclamações típicas (porque mesmo ficando encantada com tudo, como eu já disse, não aconteceu um milagre) parei para escrever meus relatórios e depois juntei com os das minhas colegas e fui ler (todos), conclusão? fiquei mais encantada! É absolutamente incrível como três pessoas escrevem coisas muito diferente observando a mesma situação! E aí vem teoria de novo: como a narração das pessoas constroem a história, como as coisas vão se costurando e se relacionando se forem bem analisadas, bem aproveitadas...
Os alunos da oitava série tinham como tema norteador da viagem para MG: Inconfidência Mineira (óh!!!) e o Arcadismo... partindo, então, dos princípios Clássicos "carpe diem" relacionando memórias, experiências vividas, narradas, concluí que não preciso ser fiel aos fatos (e somente aos fatos!), pois como diria a Emília, de Monteiro Lobato: "quem escreve memórias arruma as coisas de jeito que o leitor fique fazendo uma alta ideia do escrevedor. Senão o leitor fica vendo que era um homem igual aos outros." Por isso mudei... de "cortISOLADA" para "(in)confidente".

domingo, 8 de agosto de 2010

Em contrapartida... a recíproca é verdadeira.

Nada pode ser tão (ruim ou) perfeito; tudo pode melhorar!

sábado, 31 de julho de 2010



Nada, nada é tão ruim que não possa piorar.


♫ let it be...

domingo, 4 de julho de 2010

quase-título

Esse novo capítulo era pra ser intitulado alguma coisa do tipo “sem gosto, sem cheiro e sem cushing”, mas feliz ou infelizmente (ou as duas coisas) não será esse o título. Por quê?
Talvez eu já tenha comentado, mas eu simplesmente não entendo o que as pessoas pensam quando nos dizem “é, a gente só dá valor pras coisas depois que perdemos ou quando existe algum problema” Isso não é verdade! Ok, pra algumas situações pode ser, não serei radical... A questão é...
Depois da cirurgia, fiquei mais ou menos umas duas semanas sem sentir cheiro, nem gosto... A sensação é muito estranha, você sente fome, sente vontade de comer, mas come como se fosse uma obrigação e sem sentir prazer nenhum! É frustrante! Confesso que não escrevi antes sobre isso, porque estava morrendo de medo de não sentir mais cheiro/gosto nunca mais na vida! Aí que se encaixa a frase citada anteriormente... Quando eu dizia que a minha recuperação estava boa, vários “alguéns” repetiam "mas pelo menos depois disso se sabe o quanto era bom e não se dava valor" - acho que ninguém pensa muito quando fala isso.. Parece que seria como se eu antes não desse valor pra isso, mas eu, mais do que ninguém, sei muito bem que eu SEMPRE valorizei um cheirinho de perfume, ou de café recém passado de manhã cedo, do gosto da pizza da minha tia, do bolo de maçã feito pela minha vó... é quase como o episódio de Proust com o cheiro de Madelaine – um bolinho que ele sentiu o aroma e fez lembrar da infância - , são coisas que ativam a memória e mandam alguma informação pro cérebro dizendo “isso é maravilhoso, aproveite”. Antes da cirurgia meu cérebro estava perfeito e recebia essas informações, não vou receber melhor essas informações só porque fiquei um tempo sem elas. Essa mania de achar que precisamos sempre passar por um problema pra depois dar valor a alguma coisa específica, isso está errado! Cheguei a cogitar a possibilidade de tanto ouvir isso, pensei “mas eu achava que dava valor pra sentir gosto; adoro cheiro, gosto, comida, perfume... o que eu precisava fazer pra provar isso? tenho que fazer outdoors descrevendo todo o prazer que sinto quando tomo uma xícara de café?” Não, não é assim. Fiquem tranqüilas, pessoas. As coisas não acontecem simplesmente para nos castigar, ou para “nos dar uma lição”, as coisas acontecem, porque acontecem, oras. Claro que não tem problema sair contando pra todo mundo o quanto você gostou de alguma coisa, as pessoas gostam de sugestões e dicas de coisas boas, mas não precisamos ficar esperando acontecer um problema pra só aí começar a falar do que se gosta.
Por exemplo, podem me chamar de maluca, mas eu gosto do meu nariz, acho lindo. É, isso mesmo.
No meio dessas intempéries, cheguei a sonhar com isso no hospital, um pesadelo na verdade, que tinha acordado como o personagem do Gogol, sem nariz! Mas aí acordei e me olhei no espelho... Depois de ter ficado com dois cones dentro dele, inchado, pingando e descascando, parecendo o Rudolf (aquela rena do papai Noel que tem uma lâmpada vermelha como fucinho) ele voltou ao normal, fazendo parte novamente do meu rosto, como deveria ser (mesmo eu parecendo o piu-piu, com as bochechas crescendo desenfreadamente e a boca sumindo no meio da face), meu nariz voltou a ser lindo, até achei que ele ficaria bem sozinho (fora do meu rosto) porque parece que não se encaixa um nariz “normal” -que eu ainda reconheço como “o meu nariz” - no meio de um rosto de uma estranha, mas percebi que cada um tem o nariz que combina consigo, sempre há quem possivelmente não goste, mas aí tem opções - na maioria das vezes corre-se o risco de ficar parecendo o Michael Jackson (R.I.P.), eu não recomendaria, acho que seria mais legal se fizessem como o dentista do Veríssimo, que resolveu usar um nariz de mentirinha e provocou maior polêmica, se a intenção é chocar, vamos fazer direito!
Bom, mas voltando à explicação do ex-título... Não poderia utilizá-lo pelo simples fato de que já voltei a sentir cheiros, gostos e o principal... não estou livre do cushing. Deve ser porque sou uma pessoa muito cativante. À primeira vista, na maioria das vezes, começam me achando muito quieta, metida, tende-se a me detestar, mas aí me conhecem, continuam me achando metida, mas se passaram do primeiro estágio e não me detestaram aí é porque são guerreiros mesmo e não vão conseguir se desapegar de mim tão cedo. O cushing provavelmente foi parecido, no começo eu era metida e estava quieta (nem sabia que tinha), agora não estou mais quieta (porque sei que tenho) e continuo metida, mas ele não me deixou depois da primeira cirurgia. A doença não conhece o ditado “quando um não quer, dois não brigam”. Na realidade acho que eu fui muito boazinha, aceitei cirurgia sem revoltas, estava indo tudo muito bem, eu estava agüentando esses processos “tranquilamente” (seja lá o que isso queira dizer) e isso foi um problema.
Depois de 10 dias de cirurgia, cheguei na consulta de retorno me recuperando maravilhosamente. - nem parecia que eu tinha passado por um procedimento que envolvesse meu cérebro, todos achando isso uma coisa muito boa, de certa forma até eu (mesmo que eu não estivesse notando NENHUMA diferença de antes da cirurgia e essa indiferença estivesse martelando na minha cabeça) – e vendo essa recuperação muito rápida, a médica da endocrinologia diz “isso não é bom, você está muito bem, era pra você estar muito mal!” e as marteladinhas na minha cabeça viraram um bate estaca daqueles de início de construção de um super Shopping Center.
A cirurgia não teve o efeito esperado. Eu tive certeza que não estava curada minutos antes de me encontrar com a médica. Dessa vez, fomos somente eu e meu pai para SP, chegamos +/- 6h40 no HC para conversar com a endócrino antes de ir na neuropsiquiatria – que eu tinha consulta as 7h30, pergunto para o recepcionista sobre a médica e ele responde que ela ainda não chegou, soltei um palavrão tão automaticamente - por ter ficado irritada que poderia chegar atrasada na consulta na neuro – que até meu pai ficou com pena do recepcionista que não tinha culpa de NADA, percebi que com certeza o nível do meu cortisol não poderia ter baixado pra eu ter ficado tão irritada com uma coisa tão pequena e ter forças para ter sido tão mal-educada.
Com a retirada do tumor, era pra eu ter tonturas, náuseas, anorexia e vários outros tipos de mal-estar, pois o nível do meu cortisol era pra ter baixado muito repentinamente e meu organismo teria que se readaptar, porém, o nível de cortisol não baixou e meu organismo continuou o “mesmo”. A cirurgia na realidade serviu para a raspagem da sinusite. O resultado da biópsia, do que eles supostamente achavam que pudesse ser o tumor, ainda não saiu, mas já era pra eu sentir a diferença (que infelizmente não sei qual é). Nunca quis tanto me sentir mal na vida. Dizem que mulher complica as coisas, só que a opção que me oferecem é de se sentir mal para estar bem e eu estou me sentindo bem, mas estou mal (????) e o pior (ou melhor, já nem sei mais) é que estou bem! Ok, é confuso, muito. Saí de lá sem saber quais os próximos passos, já que essa primeira cirurgia não foi eficaz. Já sabia que existia a possibilidade de isso acontecer, tem casos de pessoas que fizeram 3 cirurgias na hipófise, pois a retirada do tumor não foi completa, ou o tumor não foi encontrado. Tem outros casos que se retiram as adrenais (as glândulas produtoras do cortisol), porque a hipófise é a comandante, ela manda informação pras glândulas produzirem, se não se encontra a falha na gerência o que temos que fazer? Mandar embora os funcionários, porque se não tem pra quem mandar informação aí ela não pode fazer nada, certo? Mas eu ainda não sei o que será feito, não tive mais notícias. Ainda não decidiram o que me dizer e o que fazer... A coisa mais frustrante pra uma pessoa controladora é saber que você não controla coisa alguma - o pior, você não consegue nem controlar a si mesmo.
Por enquanto... continua ressoando na minha cabeça “você tem que ter paciência”, a frase mãe das frases mais chatas do (meu) universo.

sábado, 19 de junho de 2010

amigos da Lavínia

Da primeira vez que fiquei internada, os primeiros pensamentos que me vieram à cabeça eram “aimeudeus, vou sair daqui pra psiquiatria!” Adivinhem só onde estou nesse exato momento!? Pois é! Sim, na psiquiatria... Não é pior que a endocrinologia, tirando alguns detalhes da limpeza e das partes administrativas, o que em tese não era pra amedrontar, porque a princípio todos pensam que na psiquiatria só tem gente doida (pacientes), não, absolutamente. Acho que tirando eu, a maioria são pessoas lúcidas, mas estão aqui por problemas de comunicação, com seu próprio cérebro. São coisas complicadas, nosso organismo é muito complexo e eu acho isso alucinante! O problema daqui é que nem todos os quartos têm banheiro e os banheiros são mistos e a limpeza não é “aquelas coisas” e aí eu entendo porque várias pessoas vão tratar uma simples unha encravada e saem com uma infecção hospitalar... mas vou deixar os detalhes sórdidos para depois... Então, agora estou supostamente “descunshingada”, como diria uma amiga minha... Estou na reta final da novela, bem mais pra uma epopéia, na verdade.

Depois que voltei do cateterismo pra casa, esperei um mês e voltei para consulta, dessa vez meu irmão mais novo também foi, viagem dele de avião pela primeira vez, legal ver os olhinhos dele brilhando e não sentir apenas “estou indo para consulta médica”, parecia que o motivo da viagem não era eu, estava me sentindo secundária e não “a paciente”, nessas horas que percebemos os trocentos papéis em que atuamos... Por exemplo, eu fui tão insignificante nesse dia, que quando chegamos em SP, fui entrar no táxi e o motorista tocou o carro fechando a porta na minha cabeça e aí minha mãe gritou “pára, a minha filha não entrou ainda” olha, que agradável, essa foi a mensagem de “bem-vinda de volta”, percebi que o taxista ficou super sem graça, baixou minha pressão, mas tudo ficou bem. Como não precisei ficar internada, podíamos passear, porém, nada muito longe do hotel, porque eu tinha que fazer xixi no pote (pra variar!), ou seja, meu irmão conheceu o shopping. Mas era longe de casa então é tudo festa... até com o café da manhã se fazia piada... descemos de manhã cedo, cada um se serviu e quando ele foi tomar o suco que tinha pegado “ah, não vou tomar esse suco, porque (...)” e a mãe “que???” É, a besteira era tanta que a frase “não gosto dos gominhos da laranja” virou “não gosto dos amigos da Lavínia” mas enfim, no outro dia fui para a consulta saber do resultado do cateterismo, esperando respostas e etc... e... bom... o propósito do cateterismo era medir os níveis de hormônio de cada lado para saber onde a produção era maior e então localizar o tumor, chegando lá... “É, não deu muita diferença, então deve ser central” ÓÓÓÓÓH! O que isso quer dizer? Que o cateterismo só serviu pra confirmar novamente que eu tenho (ou tinha, seilá) cushing! mas não deu a localização exata, só com a cirurgia pra saber então... é! A notícia foi: seu nome está na lista de espera da cirurgia, pode ser que demore de dois a três meses, continue tomando cetoconazol, porque teu organismo está respondendo bem ao remédio que nós vamos te ligar pra avisar a data certa.

Voltei pra casa, tentei organizar a maioria dos meus trabalhos da faculdade, apresentação para a Semana de Letras, organização do Simpósio de Direito e Literatura, colocar leituras em dia, maior correria, semana apertada e eu torcendo para que me chamassem para cirurgia antes do próximo semestre, porque afinal, o próximo semestre é estágio e não poderei faltar... passaram-se duas semanas, terminou semana de Letras, terminou Simpósio, organizei metade dos trabalhos e... o telefone toca numa quinta-feira “Rafaella? Então, sua cirurgia está marcada para próxima quarta-feira, você tem que se internar no domingo” Perfeito! Super dentro dos meus planos. Semestre que vem meu estágio não estará comprometido! Correria pra comprar passagem, friozinho na barriga, dessa vez o pai veio junto também... Últimas palavras no aeroporto “quem/como será a Rafaella sem cushing?” Dessa vez, empresa aérea diferente das anteriores, não sei se era efeito da “anestesia” da notícia, mas pareceu um vôo mais tranqüilo... Chegamos, friozinho, tempo legal, fomos jantar num buffet de sopas... última vez com cushing, que eu sentia gosto...

Manhã seguinte: vou me internar. Chegando na psiquiatria, setor de neurocirurgias, encontramos o médico residente – enfatizando o sentido do termo “residente”, nunca vi igual, ele está a noite e o dia inteiros no hospital!! – Fui para um quarto com um caso de Parkinson, um de Alzheimer e um de cirurgia de reconstituição do maxilar, nos quartos próximos a maioria das pessoas com cortes e costuras na cabeça e afins... tremedeiras, perda de controle motor, e deficiências físicas decorrentes de choques traumáticos não são sinônimos de sintomas de pessoas loucas, muito pelo contrário, admito ter entrado aqui extremamente preconceituosa, e o mais incrível foi ver que essas pessoas, infelizmente, são extremamente lúcidas, porque ver as coisas tremendo, se ver no espelho e não se reconhecer e ter consciência de que aquilo você não pode controlar é uma sensação muito ruim. Mas foi muito legal ver pacientes que tinham Parkinson desde criança, e com 30 e tantos anos, depois da cirurgia saíram andando como se nada tivesse acontecido, um outro paciente que num dia teve a notícia que podia perder o olho por falta de lubrificaçao e que talvez não conseguisse andar por causa do tamanho do tumor na cabeça que prejudicou o labirinto, no outro dia chorando e indo embora caminhando equilibrado, por mais que seja um ambiente terrível e amedrontador, acho que esses detalhes é que prendem alguns médicos, como esse residente... Já percebi que os verdadeiros profissionais não consideram a profissão como apenas um detalhe na vida, mas sim como alguma coisa que faça grande parte de sua vida, apesar de algumas decepções, sei que existem alguns profissionais que se destacam, porque mostram que gostam do que fazem, tenho alguns professores maravilhosos, que me inspiram a continuar e ainda bem que pra cada área existe alguém assim...

Voltando à descrição do meu processo cushiniano...

Minha cirurgia foi antecipada para terça-feira, dia do jogo do Brasil na copa do mundo, ainda bem que o jogo era à tarde e a cirurgia de manhã, porque sabem como são brasileiros na copa do mundo, né... Assisti o jogo na UTI, ou melhor, ouvi o jogo, porque meus olhos estavam tão inchados e lacrimejando que eu não enxergava nada. Foi a pior noite da minha vida. Bom, a cirurgia foi transfenoidal, não tenho cicatriz nenhuma, é feita uma abertura dentro do meu nariz abrindo um caminho pra chegar até o cérebro e retirar o tumor, no meio desse caminho eles detectaram que eu estava com um quadro de sinusite muito forte, ou seja, meu rosto estava cheinho de pus – o que explicava as minhas crises terríveis de dor de cabeça, porque o meu tumor é micro e a principio não é motivo para dar dores de cabeça – aí tiveram que fazer uma raspagem antes da retirada do tumor. Saí bem da cirurgia, acho que o efeito da anestesia não foi tão alucinante, lembro de como eu saí do centro cirúrgico e tudo o mais... e infelizmente lembro da noite turbulenta da UTI, não preguei o olho nenhum segundo, estava com um cateter no pescoço, sonda (pra fazer xixi, porque eu não podia levantar e cumadre, nem pensar!), e dois cones dentro do nariz fazendo uma pressão significativa... foi traumatizante, eu tinha que respirar pela boca e a minha boca estava extremamente seca e se quebrando e meu rosto machucado dos curativos e esparadrapos aí quando lacrimejava escorria e ardia muito e a minha garganta também doía porque fui intubada na cirurgia... os enfermeiros sumíam e não tinha quem me desse água, eu não conseguia falar... 24h de sufoco, mas passou.

No outro dia vim pra outro quarto, com banheiro! A noite ainda foi ruim porque o nariz não para de escorrer, mas nada se compara a UTI, isso que a minha cirurgia nem foi tão invasiva assim... não desejo essas coisas pra ninguém, mas se é preciso, “é só ter paciência”, os dias vão passando e cada dia é melhor que o outro – voltei pra literatura de auto-ajuda – No primeiro dia ainda tive uma crisezinha, mas foi coisa rápida, a gente fica mole quando os pais estão perto, sabe como é, nessas horas quando a gente tá no papel de filho... às vezes a gente derrete um pouquinho demais quando sabe que tem alguém pra cuidar e ainda bem que dessa vez tinha dois alguém comigo, porque eles se cuidam mutuamente também...

Hoje é o quarto dia após a cirurgia, estou ótima, amanhã tenho alta. Nem parece que fiz nada, parece que tive um resfriado,não sinto gosto das coisas e estou que nem criança ranhenta que não limpa o nariz. Se a cirurgia for bem sucedida, o que me parece que foi, a problemática é a da cicatrização. Quando se abre o tal caminho no nariz, para fechar não é tão simples, eles colam com uma espécie de cola biológica, torcendo para que não se descole, para que eu não desenvolva uma fístula. Um sintoma de que teria ocorrido fístula, seria que eu ficaria com um líquido parecido com água escorrendo freqüentemente pelo nariz, que teria que ser drenado, para poder secar a cicatrização e não deixar o canal aberto pra infecções como meningite e doenças oportunistas do gênero... O cirurgião me disse que encontraram um (suposto) micro-adenoma e que foi retirado com sucesso e enviado para análise pra ter certeza do que era e etc, no mais, estou fazendo exames periódicos de sangue e estou tomando acetato de cortisona pra fazer meu organismo ir se acostumando aos poucos com a queda da produção do hormônio, cortisol. Ah! Outros efeitos colaterais possíveis (que me foram informados) seria uma tal de Diabetes Insipidus, que é uma retenção e perda grande de líquido, ou seja, sinto muita sede e faço muito xixi, por isso nesses primeiros dias tem que medir a quantidade de xixi e de liquidos que tomo, na primeira noite tive D.I., medicaram-me com uma injeção de DDAVP e ficou normalizado. Farei ainda mais exames pra saber os próximos passos do tratamento.

Ainda não estou num estágio muito poético da minha recuperação, talvez amanhã quando eu sair do hospital eu seja inspirada pelas musas... afinal, não sei ainda o que é (ter e) não ter cushing... mas uma coisa eu tenho certeza, sei que eu não sou eu, eu sou várias.

terça-feira, 18 de maio de 2010

a colheita do desprezo

Então, o que é arte? Não tenho pretensão nenhuma de achar uma definição, mas tenho a prepotência de fazer arte significar alguma coisa pra mim. E o que isso tem a ver com minhas divagações e relatos? Oras, tudo a ver. Primeiro porque voltei às aulas e a todo momento me vêm questionamentos do tipo “isso tem alguma utilidade? mas quem deu valor pra isso?” E é esse mesmo questionamento que todo mundo faz quando vê algum quadro de pintura abstrata, por exemplo. Arte não precisa ter utilidade, mas tem valor sim. Valor de culto? Talvez. O que eu acredito é que arte seja uma questão de ponto de vista. Pode ser que pareça relativismo, mas é só o que EU vejo como arte, que vai ser arte pra mim. Eu penso que a todo momento estamos valorando (e não valorizando) as coisas a nossa volta, buscamos classificar essas tais coisas e é isso que abre uma espécie de buraco negro no mundo real, porque não se consegue explicar as classificações feitas pelo MEU ponto de vista... É engraçado como costumamos buscar sentido nas coisas e se não encontramos acabamos desmotivados ou menosprezando tal objeto. Quando, por exemplo, encontramos uma poesia aparentemente babaca e dizemos “isso é poesia? isso até eu posso fazer! mas se fosse eu com certeza não teria o mesmo valor” Claro que pode fazer e realmente não teria o mesmo valor, primeiro porque você é uma pessoa diferente e não sabe as condições em que aquela poesia foi feita. Não que precisamos entrar na mente do poeta, mas devemos fazer as coisas significarem pra nós, mesmo que seja “isso são várias palavras jogadas ao acaso que não fazem o menor sentido”. Acho que o que é feito sem obrigação de ser alguma coisa determinada é arte a partir do momento que alguma coisa intuitivamente me diz que aquilo é arte.

Não sei se essas viagens fizeram bem pro meu senso crítico, porque ultimamente eu vejo arte em tudo. Da última vez que fui pra SP, por exemplo, no táxi indo para a pousada fui observando a rua, os prédios pixados desde o primeiro até o vigésimo andar, construções abandonadas, shoppings, hotéis, zilhões de carros em fila no trânsito... tudo aquilo formava imagens diversas e representavam alguma coisa pra mim e me perguntei “por que isso não pode ser arte?” Afinal, o Coliseu pela metade é arte, a Torre torta de Pisa é arte, pinturas encontradas nas cavernas são consideradas feitos incríveis... quem sabe daqui uns anos essas pixações não sejam veneradas? Eu, particularmente, deixando de lado todo o discurso das boas maneiras, admiro não só as pixações, mas todo o processo que as envolve, a vontade de transgressão e a originalidade daquele feito; nessa Era da reprodutibilidade técnica um prédio de vinte andares TODO pixado é uma coisa única, impossível de se reproduzir, mesmo que se fotografe, serão diversos ângulos e pontos de vista de fotógrafos diferentes, a fotografia é uma arte oportunista, ela captura uma parte da arte e se vale dela... Agora o que eu capturo das coisas é arte completa. Parece um pouco da idéia de dadaísmo, de tirar algum utilitário do seu contexto original e passar a venerá-lo como arte, mas pra mim não é questão de tirar um mictório do banheiro e colocar no museu e dizer que é arte, a questão é fazer significar. Pode ser uma visão muito subjetivista das coisas, mas e daí? Eu não consigo ver o mundo com os olhos dos outros, eu enxergo com os meus olhos e só posso saber das coisas partindo da minha visão (e audição e tato e etc)...

Nessa de enxergar arte em tudo, no dia do cateterismo tive minha última visão artística dos momentos no hospital e fiz minha constatação: Médicos, sem saber, podem ser poetas! (ah! e comediantes também...)

Última semana no hospital, ansiosíssima... sou avisada para estar pronta as 7 horas da manhã pra me preparar pro exame, sou chamada as 10h30, desço na maca para a sala dos cateterismos e espero até as 14h, lógico. A princípio tinham me colocado numa sala de espera junto com outras pessoas, não sei por qual motivo uma enfermeira resolveu me colocar numa sala sozinha do lado do local de exame, ouvindo tudo que os médicos falavam durante o exame de outro paciente. Eu estava tranqüila, já estava esperando há tanto tempo que a minha noção de tempo já estava meio defeituosa... já tinha até abstraído a idéia de estar com aquela famosa camisolinha aberta nas costas e que dentro de alguns minutos eu seria furada (e estaria acordada!) em local nada confortável... Enquanto o meu tempo defeituoso passava eu ouvia a conversa dos médicos “ah, nem terminei de fazer meu imposto de renda ainda”, “é, eu faço horas lá na tomografia também, tenho que ver como vai ficar isso”, “falando nisso, semana passada peguei um caso bizarro do P.S.” várias conversas aleatórias que me alienavam da minha situação e ao mesmo tempo me traziam pensamentos meio apavorantes... coisas do tipo “é, eles estão falando coisas do cotidiano então quer dizer que o exame é fácil, tranqüilo” e logo em seguida “ai, senhor, eles não estão prestando atenção no que estão fazendo, nem ligam pro paciente, vai que fazem alguma coisa errada” Enfim... contando por cima, o caso bizarro do P.S. foi a radiografia de um objeto não identificado dentro de um orifício que não deveria ter nada dentro. Sim, bem lá. Chutem só o que foi encontrado... dou cem reais pra quem acertar... Tudo bem, eu conto, só porque eu sei que ninguém acertaria mesmo... Pois é, por algum motivo que não consigo imaginar, uma criatura, supostamente um ser humano, inseriu uma berinjela dentro de si mesma, não conseguiu tirar e teve que ir para o Pronto Socorro e virou motivo de piada! Pelo menos sua identidade permaneceu obscura... os comentários foram vários “mentira! será que ele não tinha dinheiro pra um vibrador?”, “vai ver era naturalista, vegetariano”, “será que ele incorporou aquele macaco da piada? tava medindo pra ver se saía depois de comer e não saiu” e por aí vai...

Voltando para o meu contexto, depois de muito esperar, vieram me chamar para entrar na sala de cirurgia para o exame... ar condicionado ligado, eu tremia horrores, mas não era só de frio, comecei a ficar apavorada, porém, fingi que estava muito tudo bem, não podia fazer feio, afinal, eu queria ir embora o mais rápido possível. Sala com no mínimo uns 7 médicos, mais umas 3 enfermeiras, mais os médicos (não sei quantos eram) que ficavam na sala ao lado, monitorando as imagens no computador. Primeira etapa: anestesia local; eu pensava que iria dormir e só acordaria depois que tudo terminasse, doce ilusão. Lá estava eu, nua, com frio e apavorada... Deito na maca, eles prendem minha cabeça com fita crepe pra eu não mexer (afinal das contas, meu exame era na cabeça) e eu vejo o humilde tamanho da agulha da anestesia. Tudo bem, eu nunca tive problemas com agulhas mesmo, depois nem vou sentir mais nada. Ah, eu senti sim e dói... Já tinham me contado como era o procedimento do cateterismo, mas sentir e vivenciar aquilo é, no sentido benjaminiano , de fato, uma experiência única. Para amenizar o constrangimento e a tremedeira, fui coberta com vários panos que só deixavam duas aberturas na minha virilha, como se fosse um alvo (e era!), jogaram um líquido super gelado que deixou minha perna dormente pra poder aplicar a anestesia (que doeu do mesmo jeito), tudo suportavelmente dolorido, mas apavorante. Grudei minhas mãos e pernas na maca; de tão tensa que eu estava ficaram roxas. Depois da anestesia começou a novela pra encontrar o local certo que deveria ser colocado o introdutor (um instrumento que provavelmente parece uma caneta bic, porque, analogicamente, foi a grossura dos buracos que ficaram na minha virilha, dos dois lados). Pensem numa enfermeira inexperiente tentando encontrar a veia de um paciente que tem as veias bem fininhas que quase não aparecem e ela não pode errar porque essa veia não pode estourar de jeito nenhum, é mais ou menos isso, só que são médicos, e eles estão procurando a veia que vai levar o catetér (uma mangueira bem comprida que passa por dentro de mim pra chegar no objetivo, tipo a carga da caneta bic, só que bem mais comprida) até o meu cérebro pra poder fazer a coleta de sangue. Conseguiram do lado direito suficientemente rápido, mas do lado esquerdo... não sei dizer quanto tempo levaram, porque como eu já disse, minha noção de tempo estava meio afetada... só sei que em um determinado momento se ouve “olha, tá difícil, posso ficar o dia inteiro aqui e não vou conseguir, ou a gente marca pra outro dia ou vai direto” (direto, quer dizer, “vamos direto na jugular, chame o anestesista porque teremos que sedá-la, esse procedimento é muito mais perigoso e ela não pode estar acordada porque não pode se mexer de jeito nenhum”) Ah, meus medos se intensificaram, e não era nem o medo do procedimento, era medo de ter que sair dali sem ter feito o que deveria, e ter que esperar mais pra ter algum resultado, aí virei ‘macha’ e me pronunciei “ah, não, avisa pra minha mãe que vou demorar mais e pode chamar o anestesista”, só foi a médica virar pra telefonar pra minha mãe que o médico disse “ah! não precisa, consegui!” Nossa, que alegria, quase chorei de felicidade!

Imagens parecidas com radiografias apareciam em um monitor e os introdutores e os cateteres estavam nos seus devidos lugares, tudo agora era poético... Assim que o médico estava chegando com o cateter no cérebro ele me notifica “assim que eu chegar no local certo, você vai escutar um barulho, que a maioria das pessoas diz que é parecido com uma borboleta batendo as asas numa poça d’água”, não escutei nada... de repente... “TCHIBUM” uma turbina de um avião pifa e ele cai a toda velocidade no meio do oceano do meu ouvido. Ok, o catéter está onde deveria. É uma espécie de pressão contínua no ouvido, como se eu estivesse subindo uma serra e de repente aquele estalo, só que em proporções deveras aumentadas. Agora, dois tubos de cada lado são conectados aos cateteres para a coleta do sangue a ser examinado. Cada médico fica responsável por um tubo, pois a coleta deve ser feita simultaneamente para que a análise do exame seja bem sucedida, as primeiras miligramas são desprezadas e então fazem a coleta 3 vezes (enchem 2 tubos de cada lado, a cada vez, ou seja, 4 x 3, 12 tubos ‘uau, eu sei matemática!’) , com um intervalo de tempo entre elas... Aí, as instruções “Fulano fica com o lado direito, Sicrano fica com o lado esquerdo, Beltrano colhe o desprezo” e as risadinhas e surgiam mais motivações literárias “Ah, segundo o ditado, quem colhe tempestade é porque semeia vento e agora, pra colher desprezo precisa estudar medicina”, nessa altura do campeonato eu já estava zen de novo e fiquei pensando em possíveis títulos de efeito para livros best-seller imaginem: “A colheita do desprezo”, achei o máximo... O exame acabou 16h30, mais ou menos; não podia me levantar da cama até o outro dia (noite de reflexão acerca do meu suposto determinismo, vide post anterior) Depois de todas as agonias fui liberada do hospital no outro dia mesmo e tudo era lindo, tudo agora é arte em potencial...

domingo, 2 de maio de 2010

crise dos ouvintes (ou, determinações culturais).

Walter Benjamin que me desculpe, mas estou revendo meus conceitos... o “narrador” não está em crise, a crise é dos ouvintes. Acho que existem muitas pessoas que querem falar, mas as aptas a ouvir é que estão extintas. E não é um simples “ouvir”, é ter que estar aberto a suportar opiniões e pontos de vista e críticas e relatos e preconceitos e culturas e um turbilhão de coisas. Como diria Goethe, falar é uma necessidade, escutar é uma arte. Essa moda de blog, twitter e o escambal, por exemplo, se eu (e mais um milhão de pessoas) não tivesse o que “narrar” não teria porque criar essas ferramentas... tudo bem que a invenção da imprensa (livro, etc) foi mais ou menos uma nova forma daquela tradição dos mais velhos contarem histórias e etc e agora a internet é a “próxima geração” e estamos nessa correria da modernidade em que não conseguimos dar conta de todas as “(in)formações” que estão ao nosso alcance... mas é justamente esse o ponto, por não conseguirmos dar conta do que ouvir, nossos relatos acabam se tornando fluxos de consciência, opiniões e pontos de vista jogados em algum lugar, coisas que nem todos estão dispostos e/ou tem habilidade pra absorver... ou seja, volto a dizer que a crise é dos ouvintes. Não sabemos ouvir (ou ler, no caso). Mas quando se está no hospital, a gente (eu, pelo menos) aprende a ouvir tudo, e entender o tempo, e percebe ele e enquanto isso as coisas vão passando e você consegue perceber muito mais do que está passando junto com o tempo, inclusive as palavras das pessoas que vão passando... É, exatamente, bem assim confuso. O que eu percebo nesse meio tempo? Percebo que o que nós percebemos é cultural, que vivemos praticando rituais, que várias coisas que eu percebo já foram percebidas por outras pessoas, mas é incrível quando eu constato isso sozinha. Lá vou eu para relatos conectados à suposta teoria... Após o cateterismo – sim, finalmente o último exame! – fiz uma constatação durante a recuperação do exame, no hospital: a maneira como fazemos nossas necessidades fisiológicas é cultural. Parece ridículo, mas é verdade. Antigamente, as pessoas faziam xixi em penicos que ficavam no meio do quarto, depois criaram umas casinhas com buracos, depois de um bom tempo que criaram os banheiros e o vaso sanitário e papel higiênico e todas essas coisas maravilhosas; ou seja, aos poucos os costumes vão mudando porque a cultura vai mudando, novas invenções vão surgindo, novos valores vão surgindo, mas aí me deparo com a situação: feito o cateterismo você não pode sair da cama até o outro dia, traduzindo: faça xixi na “cumadre” (uma espécie de penico de alumínio) deitada na cama. Olha, admiro quem consegue... mas eu, travei completamente, a minha cultura, a minha época, os valores e a forma que fui criada simplesmente me condicionaram a fazer xixi no banheiro, é inexplicável o bloqueio da minha mente em relação a prática de fazer xixi num penico no meio do quarto. E eu fico me perguntando, “será que se eu tivesse nascido em algum outro lugar que as pessoas ainda façam xixi no penico eu talvez não tivesse ficado quase explodindo de vontade até o outro dia? esse bloqueio são questões psicológicas? meu cérebro é assim tão determinado?” Não sei, só sei que a sensação de alivio no outro dia quando fui no banheiro foi uma coisa tão boa que eu até esqueci que poucos minutos depois eu teria que tirar o curativo (leia-se: pedaços de esparadrapo superultramegapower aderente envolta das minhas pernas, fazendo uma pressão imensa para que os belos buraquinhos do cateterismo não sangrassem de jeito nenhum, quase trancando minha circulação de tão bem presos). Pior do que depilação com cera quente! Que diga-se de passagem, é mais um ritual meio idiota que nós fazemos por uma questão cultural, porque antigamente isso também não acontecia, mulheres tinham os “apêndices filamentosos da pele” bem compridinhos, barbear-se era coisa de homem... Mas eu também não sei como as criaturas conseguiam viver desse jeito, acho tão mais higiênico, sinto-me tão mais limpa sem “excessos”, assim como tomar banho, é um habito condicionado culturalmente, que pra mim é quase uma coisa catártica. Higiene é cultural, e nesse ponto sou extremamente etnocêntrica, adoro a sensação de um banho e agradeço por ter aprendido esses costumes, mas como não sou de outro jeito, não sei se talvez eu também não gostaria de tomar banho somente uma vez no mês, ou coisa parecida... Talvez Bakhtin me entenderia, somos presos a costumes e nem nos damos conta disso, às vezes nem sabemos quem foi que nos passou tais hábitos, é uma forma de ser que está implícita...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

seguindo a estrada dos tijolos amarelos.

Vivemos em uma cultura grafocêntrica que torna oficial apenas aquilo que está registrado, apesar de que mesmo as coisas escritas às vezes precisam ser confirmadas com falas repetidas...

Por exemplo, vôos domésticos; as instruções de segurança que são encenadas pelos comissários de bordo estão todas desenhadinhas e descritas em cartões de papelão atrás dos assentos, mas sempre são repetidas e ainda fazem questão de dizer no final “cartões com informações de segurança encontram-se nas bolsas a sua frente...” Estou ouvindo bastante essas instruções ultimamente... e toda vez que sento leio “use seat bottom cushion for flotation” e fico imaginando o avião caindo na água e eu tentando desprender a parte de baixo do assento pra usar de boinha... É toda uma questão teatral, tem o roteiro, as falas, as encenações, o cenário e o figurino (lógico!) Dizem que o curso de comissário(a) é difícil, mas só consigo pensar num curso de maquiagem e mímica. Será mesmo que existe uma avaliação pra repetir aquelas frases prontas das instruções, com aquele inglês típico “lê como se escreve”? Essa "Era da tecnicidade"... tem que ter diploma pra tudo, até pra fazer “ceninha”.

O pior é saber que essas coisas são necessárias, e existem pessoas despreparadas pra lidar com coisas básicas. Tá certo que o que parece básico pra mim, pode não ser básico pra outra pessoa, porque a vivência dela é diferente da minha e ela pode nunca ter precisado de determinadas informações (como as instruções de vôo), mas aí me deparo com a minha situação (que é a de inúmeras pessoas) quando se está num hospital, o mínimo que se espera é que as pessoas que dão informações saibam lidar com pessoas, saibam dar as informações! Não, doce ilusão... É por termos o hábito de perguntar, que as informações escritas não são suficientes, percebe-se que as orientações são mal-formuladas e “quem não se comunica....” se perde mesmo. Se alguma informação quer ser transmitida de maneira eficiente, deve-se SEMPRE pensar em como o outro receberia aquela mensagem, primeiro de tudo pensar “quem é o outro?” É lógico que não somos analistas, ninguém tem poder de ler pensamento ou coisa parecida, pelo menos eu não tenho, mas não precisa ser um gênio pra conseguir se comunicar, aliás, acho até que gênios devem ter até um pouquinho mais de dificuldade... o ponto é: adaptar a maneira como as coisas são ditas para serem compreendidas facilmente e não só isso, serem também “absorvidas”, que as pessoas leiam determinada informação e que aquilo fique claro e ela consiga agir por si mesma, que não precise perguntar nada a ninguém...

Exemplificando... a primeira vez que vim pra cá, entramos no Prédio dos Ambulatórios, tinhamos que encontrar um elevador e ir até o sétimo andar, ok, simples... mas não! Existem vários elevadores e cada um pára em determinados andares, isso não está escrito em lugar nenhum, ouvimos alguém dando essa informação pra um outro alguém, agora mais um impasse qual elevador pegar? Paramos pra perguntar “siga a faixa verde e amarela”, Não tinha faixa verde e amarela, só tinha faixa amarela, “deve ser essa”, chega até o final da faixa amarela, nada, pergunta pra mais alguém, “ah, vai até o final do corredor que vai começar a faixa verde e amarela”, ou seja, primeiro era só amarela e chegar até a verde e amarela implicaria primeiro passar somente pela amarela, informação corrompida, me senti a Dorothy do Mágico de Oz... Enfim, encontramos, mas somente porque perguntamos, pois as informações (plaquinhas, faixas e etc) não eram suficientes, num lugar imenso desse, seria plausível que informações de localização básicas fossem mais claras. O ditado “quem tem boca vai à Roma”, inicialmente era “quem tem boca vaia Roma”, nessas horas penso em como explicar essa transformação... (acho que tô viajando, mas faz sentido!) Então, somente quando você tem discernimento de como as coisas deveriam ser, você consegue chegar em algum lugar, metendo a boca no trombone.

Orientações são boas se forem simples, completas e práticas... Mais um exemplo... Vim pra cá com a minha mãe, ficaram três homens em casa, ah! e mais um gato, não posso esquecer dele. Em condições normais de temperatura e pressão, homem já é desprendido de tarefas domésticas, imaginem sozinhos e com um gato, então imaginem as condições de um apartamento nessa situação em 20 dias. Precisei tomar providências preventivas, fiz uma lista de orientações básicas, sempre pensando em pra quem eu faria, ou seja, a escolha das palavras e dos exemplos tem que fazer sentido pra eles... eis a lista:

Dicas e Regras básicas para manter a casa organizada e habitável!

- É expressamente proibida a entrada de ANIMAIS no quarto da Rafaella.

- Manter as portas fechadas para o Abreu [o gato] não demarcar território.

- Checar as caixas do gato (de areia e de comida), para ter certeza de que ele não se confundiu. Mantê-las limpas para que ele não use a SUA CAMA como banheiro.

- Não deixar toalhas acumulando no cesto de roupas, pois em pouco tempo todas ficarão pretas!

- Verificar se o nível da água (+ sabão em pó e amaciante) está compatível com a quantidade de roupas na máquina (antes de lavar!)

- A limpeza do banheiro implica: (não jogar papel no vaso sanitário!) dar descarga até desaparecerem os fluidos; deixar os azulejos e o piso do Box livre de larvas e mofo; varrer o chão e passar pano (e LAVAR os panos logo após o uso!)

- LAVAR os copos logo após o uso. Pois, caso contrário, em pouco tempo todos os copos do mundo estarão na pia e você terá que tomar água fazendo conchinha com a mão.

- Abrir o congelador de vez em quando, para não deixar um urso polar se criar lá dentro.

- Dar uma geral na geladeira, pelo menos, uma vez na semana. Comida guardada muito tempo fica verde, cria pêlo e dá medo!

- Tirar e LEVAR o lixo TODOS os dias (mais de uma vez por dia se estiver transbordando ou fedendo!)

- Quando algum produto estiver acabando anote para comprar ANTES que acabe. Pois você pode acabar tendo que usar a mão como papel higiênico, por exemplo.

- Computador, videogame e CIA LTDA não são carentes! Podem esperar você fazer suas tarefas PRIMORDIAIS e não vão ficar depressivos...

- Passar aspirador e tirar o pó, pelo menos três vezes na semana, ou, a qualquer momento em que se perceba que os móveis e o chão, na realidade, NÃO são de veludo.

- Não faça armadilhas nos armários! Arrume de maneira que as coisas não se joguem em cima do primeiro sortudo que abrir a porta.

- Cada coisa tem o seu lugar, preste atenção no seu local de origem e coloque-a novamente no MESMO lugar a qual pertence, após ser usada!

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Fui clara? Não exatamente. Mas pra quem eu escrevi, sei que me fiz entender. Num primeiro momento deram risadas, fizeram piada, mas pelo menos eles pegaram a essência da coisa e sabem o que deve ser feito, não que tenham seguido tudo lindamente, mas agora têm consciência do que fazer (simplesmente porque está registrado!). E sei ainda que entenderam todos os “duplos-sentidos” implícitos...

Não que eu seja a “senhora informada” (talvez muito pelo contrário... hahaha), mas sei que um pouquinho de senso todos têm, só falta colocar pra funcionar...

A doença mais comum entre as pessoas é a dificuldade de serem autônomas; o pior é que ninguém pode ser curado completamente disso...