Eis que demorei alguns meses para reescrever aqui.
Na verdade tenho tantos rascunhos que mereciam ser postados, mas não tenho coragem de publicá-los (porque são realmente RASCUNHOS)
Acho apenas que esse post merece ser publicado, está longe de ser algo completo e explicativo e eu deveria escrever coisas maravilhosas sobre esse momento, mas como deixei criar mofo ficou um pouquinho difícil de organizar.. então acho que vou apenas ao ponto que interessa: o discurso.
Sim, o discurso de formatura.
Agora sou Licenciada em Letras Língua - Portuguesa e Literaturas Vernáculas, pela Universidade Federal de Santa Catarina, coisa chique!
Lógico que eu não parei por aí e já passei no mestrado em Educação e agora sou "mestranda", mas aí já foge do foco do post...
Continuando... eu fui oradora da turma, junto com um colega. Estávamos numa super correria para finalizar trabalhos, fazendo provas e tudo o mais e ainda a "briga pelo discurso". Precisávamos de um texto pronto num prazo ínfimo daqueles que todos os universitários conhecem... e como eu sou eu, acabei puxando a responsabilidade pra mim e fiz o texto todo (claro que mandei pro meu colega pra ele dar suas sugestões, mas a sugestão dele foi: É ISSO AÍ!)
Então como o tempo urgia e nós precisávamos nos posicionar, deu no que deu...
Eu não quis escrever palavras muito emocionantes porque se eu começasse a ler e gaguejasse e borrasse minha maquiagem eu ia achar um desastre, então as palavras vieram pra representar o que nós (formandos - mais a nossa "patotinha" que entendeu, mas ok) queríamos dizer, sem muita choradeira...
(mesmo porque choradeira a nossa professora paraninfa linda e maravilhosa já conseguiu fazer sem muitos esforços no discurso dela direcionado a nós, ainda citando nomes!)
Claro que eu tinha que colocar um "toque de Rafaella", ou melhor, de "Alice", mas tudo se encaixou. Enfim.... lá vai:
Discurso
de Formatura
ELE: Boa noite,
primeiramente gostaríamos de desejar glória a todos os formandos...
EU:
Glória? Mas o que você quer dizer com glória?
ELE: Eu quero dizer que
esse é um dia especial para todos nós, porque finalmente acabamos a graduação.
EU:
Mas glória não significa isso...
ELE: Como diria Humpty
Dumpty, uma palavra significa exatamente o que eu quero que ela signifique.
EU:
Como diria Alice, a questão é saber se você pode fazer uma palavra significar
para você coisas diferentes do que significam para outras pessoas...
ELE: Continuando com
Humpty Dumpty, a questão é... saber quem
é que manda...
EU:
Bom... É inevitável pensar em inúmeras citações para descrever o processo
pedagógico (ou talvez não tão pedagógico assim) do curso de graduação.
Inicialmente nos fazem acreditar que nossa palavra não vale nada sem que esteja
baseada em alguma teoria que a sustente, mas também há quem diga que isso é só
provocação.
O ambiente acadêmico é um local onde se aprende a
citar, a reconhecer os nossos discursos nos discursos do outro. É nesse
reconhecimento de discursos que vamos nos constituindo, encontrando concepções
que vão nos orientar (ou desorientar) em nossa vida acadêmica.
ELE: Agradecemos a todos
que fizeram parte de todo esse processo (muitas vezes no estilo kafkiano!), aos
que nos influenciaram em nossa busca pelo conhecimento, aos que nos apoiaram em
todos os momentos, aos que apenas diziam que nos apoiavam e aos que não nos
apoiaram em momento algum, desde os que nos disseram “você tem certeza que quer
continuar?” até aos que nos disseram “vamos lá, precisamos revolucionar!” .
EU:
Não foram poucas as lutas contra o tempo e os momentos em que gostaríamos de
seguir o coelho branco e ir para o país das maravilhas... Apesar de tirarem
nosso direito da “hora do chá” e as lanchonetes virarem salas de aula, ninguém
cortou nossas cabeças...
[Sim, isso foi uma sutil alfinetada, e nessa parte eu tava tão nervosa que errei a concordância e li "ninguém CORTARAM nossas cabeças". Vi jeito de pessoas gritando que iam cortar minha cabeça porque eu, uma FORMANDA DE PORTUGUÊS, errou a concordância! hahahaha]
Estamos aqui porque soubemos aproveitar as
influências positivas e as negativas serviram de desafio para que fossemos
muito melhor.
ELE: Hoje receberemos
títulos diferenciados, de Bacharel e/ou Licenciatura, mas na essência isso não
nos diferencia no exercício de nossas futuras profissões.
Afinal, trabalharemos com a
palavra, somos profissionais da
Linguagem. Quem trabalha com a Linguagem sempre estará compromissado com a
interação entre as pessoas e o conhecimento.
Passamos por tanto e quando
chegamos ao final da graduação nos vem à mente a pergunta da lagarta: “Quem és
tu?” e não sabemos como responder...
Somos todos pesquisadores E professores, pois estamos
sempre em busca de novos saberes e seja ministrando aulas, seja escrevendo
artigos, seja fazendo traduções, produzimos conhecimento!
EU:
Somos fruto das interações, feitos de infinitos “eu(s)”, somos um tecido de
citações.
Entramos na Universidade sem saber quem exatamente
éramos, terminamos a graduação e... continuamos sem saber! Mas... Como Alice
respondeu para a lagarta: “eu sei quem eu ERA
hoje pela manhã, mas já mudei muitas vezes desde então...”
é esse, portanto, nosso objetivo: continuar mudando
muitas vezes.
A graduação acabou, mas ainda temos muito pela
frente...
Feliz desaniversário a todos nós!!
E essa foi minha oração final na graduação.