Na maioria das vezes se escreve pra responder a uma pergunta, mas e quando não se sabe qual pergunta você quer responder? E quando são tantas perguntas que você não sabe por onde começar? E quando começam a surgir mais perguntas além das milhões que você já tinha? E quando você já nem sabe se a pergunta que você começou a responder é a pergunta que você realmente queria saber?
Não sei se não escrevo porque não tenho respostas ou porque não tenho a pergunta.
Douglas Adams me diria "a resposta é 42". De repente eu tenha que fazer umas viagens pelas galáxias pra encontrar a pergunta perfeita...
É claro que nessa crise da busca pela pergunta perfeita estão incluídas situações distintas da minha vida, distintas mas imbricadas, logicamente. Sim, minha saúde, minha vida social, minha dissertação, etc etc etc...
Por exemplo, a minha pergunta nesse exato momento é "por que diabos eu acordei cedo em pleno domingo e estou na frente do computador?" Esses momentos de 'vontade de escrever' chegam em horas inusitadas. Não sei se eu coloquei isso na cabeça, ou se meu organismo tá meio desregulado mesmo, ou se não tem nada a ver uma coisa com a outra. Às vezes eu fico pensando que tô muito tempo sem fazer nada e meu cérebro tá atrofiando, mas na verdade não tô sem fazer nada coisa nenhuma, é essa "maldição da dissertação" que faz todos os teus pensamentos concluírem que qualquer coisa que você faça, que não seja escrever para o mestrado, não valha nada, ou faça você se sentir culpado por não ser parte da dissertação.
E eu ainda divido essa culpa com o cushing, parece que só posso pensar em: cushing X dissertação.
MAS, me dei o direito esse mês de extravasar. E olha que o mês nem acabou. Me entupi de coisas e até que tá sendo muito bom.
Na verdade, o mês começou com algumas notícias ruins, que uma delas não sei nem se eu tenho 'direito' de falar aqui, porque não diz respeito a mim, mas foi uma das coisas que me impulsionaram a ficar pensando "por que? pra que? que pergunta eu tenho que fazer?"
Eu estou há um tempo sem rotina médica (entende-se como: comparecer ao consultório, porque fazer exame e aumentar dose de remédio e tudo o mais continua), consequência disso entendo como se estivesse tudo bem, afinal, não estou pensando muito nisso, "esqueci". O problema (nem é esse o problema) é que nós não convivemos apenas com nós mesmos. E as pessoas ao nosso redor também ficam doentes e isso nos deixa muito mal, principalmente porque não sabemos o que fazer pra ajudar. Então, nesse meio tempo, alguém muito próximo a mim foi "semi-diagnosticado" com uma doença que não tem cura, mas que um dos principais tratamentos é com corticóide. Imaginem a minha revolta com essa ironia! Se eu pudesse fazer transplante de cortisol seriam dois problemas resolvidos! Mas não. E aí vêm as perguntas "mais uma doença rara? mas por que? como isso surge? o que eu fiz pra ter isso? ..." Eu senti tudo isso quando fui diagnosticada, choramos muito, mas tem alguma coisa que eu não sei explicar que tá me tranquilizando muito e não sei dizer se é porque eu sei que essa pessoa é mais forte que eu, ou se porque eu já tô "vacinada", que tem uma espécie de certeza me circundando dizendo que vai dar tudo certo.
Tô sempre em crise e cheia das perguntas, mas às vezes eu tenho umas certezas inexplicáveis que me assustam.
Um exemplo nada a ver com esse assunto é quando eu soube que teria show do Paul Mccartney aqui em Florianópolis. Me bateu uma nóia de comprar ingresso de qualquer jeito e que eu não poderia perder esse show de jeito nenhum! Quem estava em casa comigo na hora ficou apavorado com a minha reação. Eu sempre disse que eu não era fanática por banda nenhuma e odeio essas historinhas de tiete e blablabla whiskas sachet... MAS, nesse caso tem uma história. Muitos já sabem, mas vou dar uma resumida. No casamento dos meus pais, quando minha mãe entrou na igreja, a música que tocou foi "Let it be", dos Beatles (escrita por Paul! tirando a parte triste, que foi escrita em homenagem pra mãe dele que morreu de câncer, a música é linda). Anos depois, quando eu e meu irmão tínhamos uns 5 e 4 anos, mais ou menos, tínhamos um tecladinho de brinquedo com essa música e éramos viciados, mais alguns anos depois, eu e ele fizemos uma tatuagem com a letra dessa música "Speaking words of wisdom... let it be" (meu presente de aniversário de 20 anos pra ele). Então eu pensei "em Florianópolis? Paul com 70 anos? Não posso perder!"
Várias notícias dizendo que os outros shows os ingressos esgotaram em poucas horas, e que os fãs ficaram na fila desde o dia anterior. Eu não sou dessas, mas uma certeza inexplicável me disse que eu conseguiria o ingresso. Acho que deixei todo mundo mais nervoso que eu. Cheguei no local pra comprar, foi tranquilíssimo, conseguimos (eu e meu irmão) os ingressos e viemos pra casa alegres e saltitantes, tirando a parte do saltitantes e trocando por "mais endividados".
Foi um exemplo meio aleatório, mas já é difícil explicar o meu tema da dissertação, imagina um"sentimento de certeza".
Continuando com a parte das peripécias e extravagâncias... estou há um tempo sem ir na médica porque ela aumentou a dose do remédio (aquele que foi negado pelo posto de saúde) e disse pra eu voltar só depois de um tempo pra vermos o resultado. O aumento da dose foi em consequência de reclamações minhas, de sintomas clínicos. Ultimamente quem anda comigo já sabe que meu lema é "Don't le me down", mas tradução literal mesmo, pra não me deixar cair no chão, porque eu já estou toda roxa de tanto que caio.
Um desses meus encontros com o chão foi em uma batalha com uma cigarra mutante, meu irmão gritou "está no seu ombro!" e eu: "AHN?" puuuuufffttt!
Outro encontro foi na entrada de um festival de música, em São Paulo.
(que, graças ao deus do Rock, não fui pra lá pra ir ao Hospital! Sim, essa foi mais uma de minhas extravagâncias do mês, que por sinal minha mãe estava preocupadíssima, e, confesso, até eu estava, mas aguentei como uma guerreira! cheia de cicatrizes hahahaha)
Descendo uma rampa, guardando coisas na bolsa, puuuffft[2], aí lá vieram bombeiros e me levaram pra enfermaria, chegando lá a enfermeira olha pra minha perna e diz "Meu Deus! Como você caiu? Foi tão feio assim o tombo?" e eu "Ah, não, é só esse ralado no joelho, todos esses outros roxos foram outras quedas." A enfermeira não entendeu nada, mas pelo menos eu fiquei alguns minutinhos no ar condicionado.
Depois da minha volta de SP, voltei para a rotina UFSC, estava (estou, na verdade.) na organização de um Seminário de Literatura Infantil e Juvenil, 3 dias de correria, sem contar com todos os outros anteriores (e, agora, posteriores). Fiquei na secretaria e não vi muita coisa do evento, mas apresentei um trabalho e adivinhem só o título dele! "Em busca da pergunta perfeita: a questão do ensino de literatura". A apresentação foi ótima, deu tudo certo, mas eu voltei com mais perguntas do que eu tinha colocado no trabalho... Ou seja, não tem 'ou seja', porque não concluí nada, só que continuo com essa busca da pergunta, ou da resposta, ou sei lá... Mas há quem diga que "o que não tem solução, solucionado está" ou, "tudo acaba bem, se não está bem, é porque não acabou". Sigo tentando me convencer disso.
Agora um "causo" que preciso compartilhar: - e que se minha orientadora ler (e com certeza ela vai!), provavelmente vai querer me dar um puxão de orelha, ou vai rir (eu chorei primeiro, pra depois rir, mas enfim.) - Naquela angústia de comprar ingressos pro show do Paul, depois que eu consegui, esqueci de tudo, inclusive de uma reunião que eu tinha no dia, me senti a pessoa mais fútil do mundo e queria pular da ponte Hercílio Luz quando lembrei (ou pior, fui lembrada, pela orientadora!), mas jurei pra mim mesma que nunca mais isso aconteceria. E quando cheguei em casa fui olhar a data da próxima reunião e... ERA NO DIA DO SHOW! Imaginem meu desespero! Fiquei me remoendo, com uma enxaqueca infindável, pensando em como eu falaria isso pra minha orientadora, já tinha pensado até em vender meu ingresso e deixar de ser irresponsável e mais um monte de coisas... Fiquei protelando, deixei passar o seminário, que deu tudo certo, fiz minha apresentação, que deu tudo certo... Mas ainda com aquela pergunta na cabeça "Como eu vou contar?". Num belo dia eu (que nunca faço isso) vou olhar o site relacionado a essas reuniões que eu deveria ir, e... TCHANÃN! A reunião tinha sido adiada! Pro dia seguinte! Minha felicidade foi tanta que deu vontade de sair gritando pela ponte Hercílio Luz! Mas e agora, me respondam, o universo conspira ou não em meu favor?!
Não sei a pergunta perfeita ainda, nem sei se vou encontrar, mas por enquanto só me dá vontade de sair cantando:
♫ What's the use of worrying?
What's the use of hurrying?
What's the use of anything?
Ho, hey ho, ho, hey ho
Ho, hey ho, ho, hey ho... ♫