domingo, 24 de novembro de 2024

quem sou eu (sem mencionar meu trabalho)?

Eu imaginava jardins secretos no quintal de casa e me trancava no quarto para escrever no diário, inventando códigos de escrita que só eu sabia (pelo menos era o que eu pensava). Choro em  espetáculos artísticos, em filmes e em museus. Me arrepio com bateria de escola de samba. Minha refeição preferida é o café da manhã em mesa posta, mesmo que eu só coma um pão na chapa e uma fruta. Minha matéria favorita na escola era História, a que eu odiava era Educação física, mas a que eu ia mal era matemática. Tenho uma família muito grande e sempre amei almoços de domingo, agora odeio domingos. 

Quando eu tinha 8 anos, sentava no chão da sala no escuro, botava fones de ouvido e escutava Leila Pinheiro no volume máximo. Tive minha fase Legião Urbana, quando tinha 15 anos, assim como todo mundo. Hoje detesto. Gosto muito de música, de muitos estilos. Me identifico mais com uns do que outros. Me emociono fácil e gosto de cantar alto (sozinha!!!), mesmo desafinada. Antigamente, aumentava o volume dentro do quarto sem ligar pra quem estava fora. Hoje, se sinto que as pessoas não estão gostando das músicas, abaixo o volume.

Sempre fui de brigar pelo que achava justo. Já corri atrás de ladrão de boné do meu irmão (e peguei de volta) e já briguei com o valentão do prédio (que nunca mais incomodou ninguém). Já fui em muita manifestação. Mas acho que comecei tarde. No Orkut, aos 14 anos, marcava a opção "não gosto de política". Com 15 anos, eu estudava num colégio militar, matei a aula da tarde pra ir na manifestação pelo passe livre. Na 2ª série do médio, estudava em uma escola estadual, fui pra rua com o Grêmio estudantil pra pedir contratação de professores, porque estávamos sem algumas aulas há bastante tempo. Apesar de não ser filiada a partido nenhum, me identifico com a esquerda e com ideais socialistas. 

Comecei a escrever um livro quando eu tinha 12 anos, com um amigo, mas eu me empolguei e escrevi sozinha 50 páginas. Não terminei de escrever o livro, virou um capítulo pela metade. Ainda tenho o manuscrito. Adoro cartas e cartões. Muitas vezes, gosto mais dos cartões do que dos presentes que ganho. Trocava cartas com colegas da escola desde o primário (sim, na minha época era primário), mas em uma mudança de casa joguei todas fora. Me arrependi e me arrependo todos os dias por isso. 

Adoro ficar sozinha. Me dou muito bem comigo mesma, sempre gostei. Sou a mais velha de 3 irmãos e tive meu primeiro quarto sozinha quando eu tinha uns 8 ou 9 anos. A partir daí, fiquei viciada em ficar sozinha com a minha mente (que é bem barulhenta e não para quieta um instante). Apesar disso, adoro festas e comemorações cheias de amigas e amigos. Amo fazer aniversário. Por muitos anos, eu achava que no meu aniversário sempre ia chover e o dia sempre começava com brigas (esse ano, a maldição foi quebrada). 

Aprendi a digitar mais rápido, porque eu conseguia visualizar mentalmente os lugares das teclas e não conseguia dormir, porque ficava digitando mentalmente a noite inteira. O bizarro é que era só com os dedos do meio (?). 

Até uns 12 ou 13 anos, minhas roupas eram extremamente coloridas (laranja quase neon, azul...) e eu mudava de estilo a cada passo, mas consigo lembrar exatamente da sensação de desajuste em qualquer lugar que eu ia. Com 14 anos comecei a me vestir só de preto. Me encontrei. A sensação de desajuste sumiu. Apesar disso, quem olhava pra mim achava que eu era uma desajustada. Eu era (quase) uma santa (naquela época).  Hoje em dia até uso cores, mas não muito. Nessa época, comecei a ouvir desde Nirvana, Scorpions, Van Halen, passando por Slipknot a Lacuna Coil. Fui até num show de Grave digger (e gostei e cantava todas as músicas).

Sempre fui extremamente tímida. Demorava muito pra fazer amigos. Mas lembro de todas as pessoas próximas que tive. Cada época, eu tive um(a) melhor amiga ou amigo. Ou pequenos grupos de amigos. Curiosamente, acredito que hoje tenho muitos pequenos grupos de amigos e amigas, mas que formam um grupo enorme. Continuo tímida, porém. Tímida e ansiosa. Minha cabeça, desde que me lembro, sempre criou diversos cenários e eu estava pronta para qualquer um deles. Talvez venha daí minha criatividade. Consigo pensar em menus gastronômicos com qualquer coisa que tiver na geladeira, ou decoração de festas com o que tiver guardado. 

Amo mar, mas não gosto de toda a logística de chegar e ir até a praia. Mas, pra mim, um mergulho no mar cura (quase) todo sentimento. Ou pelo menos acalma. Há quem diga que eu sou como o mar. Eu costumava fazer planos de vida. Tinha uma lista mental que ia fazendo checks. Fiz check em todos os itens da lista. Atualmente, não tenho exatamente um plano pros próximos anos, só a consequência dos planos anteriores. Me sinto livre pela primeira vez na vida. É uma sensação estranha e contraditória.

Quando eu tinha cerca de 18 anos, descobri um tumor no cérebro. Isso mudou bastante o rumo da minha vida e a forma como eu via as coisas. Foi nessa época que eu, finalmente, conheci o feminismo de verdade. Costumo dizer que o feminismo me salvou. Hoje, sei que me salva todos os dias.

Desde que me conheço por gente, fui cercada por livros. Antes, eu lia muito mais que hoje. Conseguia virar a noite lendo e terminava um livro de 300 páginas em dois dias. Agora, se eu abrir um livro às 21h, durmo nas primeiras 2 linhas. Mas a leitura me ajudou em muitas fases da minha vida. Quando eu estava na 4ª série, minha família se mudou para Joinville e eu sofri muito com isso, então eu passava muito tempo dentro da biblioteca da escola lendo, sem conversar com ninguém. Levava livro pra casa toda semana. Lembro de muitos daqueles livros. Alguns nem tanto. Hoje em dia, a leitura e a literatura me faz pensar que ainda tenho muito o que ler. 

Sempre sonhei em conhecer o mundo. Adoro viajar. Achava, antigamente, que nunca conseguiria sair de Santa Catarina. Acho que me desafiei a sair pra provar o contrário. Curiosamente, quando adolescente, eu falava que queria primeiro conhecer todo o Brasil pra depois conhecer outros países. Hoje eu acho que posso tentar fazer as duas coisas (quase que) simultaneamente.

Quando eu era pequena, morria de medo de cachorros. Não sei o porquê. Pensando bem, eu não era muito próxima de nenhum animal, na verdade. Quando eu tinha uns 7 anos, ganhei de aniversário um cachorro. Um Cocker Spaniel, o Puff. Perdi o medo. Meus pais perderam muitos sapatos roídos. Hoje, eu sei que sou muito mais uma "cat person".

Nunca fiz aula de inglês, a não ser as de verbo to be da escola básica. Tudo que sei são de filmes e de letras de músicas impressas e baixadas do Kazaa. Achava impossível acompanhar "complicated" da Avril Lavigne. 

Não tive festa de 15 anos. Ganhei uma câmera fotográfica digital em vez disso. Meu primeiro aniversário grande (que eu me lembro, não quando bebê) foi o de 13 anos. Todos do prédio, da escola e dos primos foram. Teve até penetra. Lembro até hoje da minha roupa. All star cano alto azul marinho. Calça pantacourt jeans (na época não existia esse nome) e uma blusa preta (com uma estampa ridícula, mas era a única blusa preta que eu tinha). E brincos de hippie pra fechar com chave de ouro. Naquela semana, comprei uma saia xadrez num brechó e usei ela por muito tempo. Nessa época que lembro de ter mudado de estilo. Me senti eu.

Hoje, 35 anos. Me sinto mais eu que nunca.


quinta-feira, 8 de agosto de 2024

antes dos 35

antes dos 30

eu era mais esperançosa 

e emocionada

eu via as coisas com olhar de novidade

antes dos 30

eu me preocupava um pouco mais com minha aparência 

antes dos 30

a gente tem a vida inteira pela frente

aos 30, a gente já ta atrasado pra tudo que não conseguimos conquistar

antes dos 30

ainda somos adolescentes 

aos 30, já somos velhos e cansados

nos sentindo ainda mais perdidos que antes dos 30

aos 30, já andei de avião

já fiz 2 cirurgias no cérebro 

já fui a muitos shows

já escrevi vários textos e fui publicada

já fiz e fui a várias festas

já fiz muitos amigos e amigas

já perdi familiares

já fui madrinha (de casamento e de criança)

já entrei no doutorado

já moro sozinha

já casei

já separei

antes dos 30

era livre e ingênua

aos 30, entendi que a liberdade é limitada (no capitalismo) e complexa

a ingenuidade já foi pelo ralo

aos 30, sei que não sei tudo (nem nada)

antes dos 30

achava que sabia o que queria da vida

aos 30, não sei nem o que vou comer amanhã 

preciso lembrar de aprender com meus antes

tentar me emocionar mais com meu agora

também estar aberta a viver o depois e o que vêm pela frente: 

os 35 e os tantos outros números...

segunda-feira, 29 de julho de 2024

histórias não contadas

quem vai contar a minha história?

ser sozinha, viver sozinha

vivo muito, sinto muito

pra quê?

nos momentos de felicidade, tristeza

nos momentos de tristeza, tristeza

compartilhar a vida 

multiplica alegrias 

diminui tristezas

não compartilhar a vida

multiplica a tristeza 

divide a alegria

a ambiguidade dos sentimentos

uma vida pela metade? 

ou uma vida inteira sem conseguir transbordar?

uma vida sufocando com os vividos

escrever pra não sufocar com a vida

poetizar o sentimento 

pra não esquecer a dor, 

pra não apagar a alegria

um momento feliz e triste

um momento em crise

uma crise em momentos

uma história não contada

o esquecimento.

sábado, 20 de julho de 2024

um abraço

um abraço é como

chegar em casa


dias ordinários 

são os que fazem falta 

são os mais sentidos


a sensação de chegar em casa 

num segundo

num abraço 

num cheiro

num beijo no rosto


a vontade de ficar ali

naquele segundo 

naquele abraço 

naquele cheiro


mas o segundo se esvai

junto com a lembrança

do porquê tudo acabou 


o gato parou em frente a porta

esperando o retorno

daquilo que não volta mais


a dor reapareceu


junto com o abraço 

o cheiro

o beijo no rosto,

a despedida

mais uma vez.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

não é fácil

se não escrevi, 

não foi por que não sofri

foi porque o tempo me atropelou

porque a vida se antecipou

sofri calada

acumulando gritos

mais uma madrugada

mais um dia

no outro e no outro

até sofrer de novo

e voltar à escrita

talvez

até mais bonita

é bem verdade o que dizem:

todo sofrimento de amor 

já foi letra de música,

basta procurar 

a que se encaixa melhor

no momento, 

não é fácil (marisa monte)

não adianta deixar pra depois 

o sofrimento é agora

eu proibo a lágrima,

mas ela tá sempre ali

esperando pra cair,

basta um descuido

o pensamento foge

à revelia 

da razão,

a emoção.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

maré

quando eu era mais nova, achava que usava minha ansiedade a meu favor.

talvez eu nem soubesse bem que era ansiedade ali no comando, mas eu inventava as mais bizarras e horrendas possibilidades de situações só pra estar preparada pro que viesse.

por outro lado, eu nunca esperava absolutamente nada de nenhuma situação. ou seja, se nada acontecesse, nada ia acontecer. mas se algo acontecesse, seria muito bom. 

era uma espécie de controle de expectativas baixas.

hoje em dia, acho que perdi essas habilidades de controle das expectativas ou da ansiedade.

virei toda ansiedade, ela que me controla. 

por causa disso, as expectativas me decepcionam noite e dia. numa maré de descontrole de emoções.

de vez em quando, porém, eu sinto que tenho as coisas um pouco controladas, que entendo o que tá acontecendo dentro de mim. 

mas aí vem uma emoção de fora e atinge a de dentro num piscar de olhos.

é difícil tudo isso. é como surfar em ondas de confusão e sofrimento.

eu nem sei surfar.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

presença-ausência

mar

dor 

choro

soluços 

dor na garganta 

peso no peito

vazio

falta

memórias 

domingos

manhãs de sábado 

fins de tarde

barulho de chave na porta

gato miando

uma mensagem 

uma playlist 

dor

choro

soluços 

comprimidos

sono

manhã 

dor

choro

...

domingo, 9 de junho de 2024

eu fico segurando um eu te amo

minha garganta arde

meu peito dói, pesa

todo meu corpo estremece

a lágrima não se acanha de chegar 

tudo por que eu fico segurando um

eu te amo

ouvi algo que dizia que cada um ama sozinho,

eu amei sozinha, eu senti muito

e sinto muito

mas ainda tem um eu te amo aqui 

pronto pra sair

ficar segurando esse eu te amo

me dói, me prende, 

me transforma inteira nesse eu te amo

amando sozinha

esperando sozinha 

por algo ou alguém que talvez nunca existiu 

então eu olho no espelho e solto o eu te amo

pra eu poder viver e me soltar

me desprender, me libertar do

eu te amo.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

sinto muito

eu sinto muito

descobri o desconforto

apesar do não conforto

a falta é muito

preencho vazios

sentindo muito

a palavra me escapa

dom ou maldição?

eu sinto muito 

o peso do mundo 

limitei, disse não

quis a liberdade  

eu sinto muito

todas as lembranças

passado e futuro

eu sinto muito

sinto arte

sinto escrita

sinto sentimentos

sinto muito

senti música,

chorei

a lágrima me fez

sentir muito

me afoguei nos sentidos

anestesiei conexões 

sinto muito,

eu senti muito.

domingo, 19 de maio de 2024

segredo

parece uma palavra tão infantil 

guarda tanta coisa e ao mesmo tempo nada

segredo parece uma grande mentira

porque segredos parecem coisas compartilhadas, 

mas que aí já não são mais segredos

e se não forem compartilhados,

os segredos são outra coisa 

são apenas pensamentos 

são coisas internas

são não-ditos

a verdade é que segredos não existem

se existem, quem sabe?

quarta-feira, 15 de maio de 2024

o frio

mesmo sem bater, acabou entrando

veio pelas frestas das portas

foi subindo pelas paredes 

e impregnou toda a casa

não sei exatamente 

desde quando o frio se tornou presente

alguns dias mais, outros menos 

alguns dias, o frio foi motivo pra um abraço durante a noite

outros dias, o calafrio foi motivo de cuidado

depois, o frio só foi motivo

e sendo motivo, o frio se tornou consequência 

agora o frio está aqui, mais uma vez

e eu sinto falta do dia que o frio me esquentava.

domingo, 21 de abril de 2024

músicas

meus pensamentos vêm e vão 

como se duma partitura, saltassem melodias

ouvi uma música ontem e lembrei de ti, minha pequena

vi crianças correndo e não aguentei as lágrimas 

cantei a música

como aquela vez que dançamos em frente a tv da sala 

cada nota musical que me faz pensar em ti é uma lágrima a mais no meu potinho de saudade

que já transbordou

e virou um mar de saudade

que vem e vai como as ondas

num dia de ressaca

parece que vai tranquilizar

mas é mar revolto

meus olhos não te esquecem

meu abraço não te esquece

as músicas me fazem nunca te esquecer

era uma vez...

sexta-feira, 19 de abril de 2024

comidas

não gosto de nata no leite, quando está quente

não gosto do restinho de café no fundo da xícara, quando está frio 

não gosto de banana, da textura, do cheiro, do gosto, 

mas gosto de banana frita 

tem gosto de casa de vó

e minha vó também não gosta de banana

gosto de sopas, de letrinhas, de legumes, de cappelletti (que eu nunca sei quantas letras repetidas têm, então eu repito todas)

minha mãe adora sopa de feijão com macarrão, eu também 

gosto de ovo mexido doce, que a mãe fazia pra nós 3 quando éramos minúsculos 

não gosto de cheiro de ovo que fica no copo, de quando estou comendo ovo

não gostava de sushi, comi a primeira vez quando eu devia ter uns 8 anos, numa festa do trabalho do meu pai, mas lembro que me senti chique comendo

aprendi a gostar de sushi depois da terceira ou quarta vez que comi, 

mas se eu ultrapasso o limite de peças que consigo comer (que são poucas), tenho ânsia de vômito 

adoro o cozido cheio de legumes e verduras de quando chega o frio,

também tem gosto de casa de vó 

apesar de também ter gosto de casa de vó, eu não gosto de bolos enfeitados com chantilly e outros ingredientes que eu nem sei descrever

não sei desde quando eu comecei a ser uma pessoa "do salgado" e não "do doce"

na minha cabeça é desde sempre,

mas tem um doce que tem gosto de mãe que eu adoro: rabanada

talvez porque seja feito de pão e eu adoro pão 

eu adoro massas e lasanha me lembra meus irmãos 

gosto também de macarrão com frango ensopado, que me lembra outra fase marcante da minha vida, aos domingos 

pizza me lembra minha tia e tooooodos meus primos, porque eu adorava o verão na pizzaria da tia "gringa" 

picolé me faz lembrar de toda a primarada reunida na sorveteria da vó, durante o verão, depois de ter vindo da praia da nossa "competição de bodyboard", mas era só um pra cada um

eu também adoro ervas e temperos

tomilho me lembra meu pai, talvez porque seja um tempero bastante utilizado em carnes,

mas eu uso em quase tudo

do alecrim, eu amo o cheiro, não tanto o gosto

de açafrão, eu gosto misturado com outras especiarias formando o curry,

que me lembra uma amiga e de sua receita de frango com abacaxi em cubos, ao curry e leite de coco, 

parece estranho, mas é uma delícia

inclusive, abacaxi e coco me lembra minha avó e meu pai, que um dia caiu na besteira de dizer que gostava de bolo de abacaxi com coco e ela fez em todos os aniversários dele pelos próximos anos durante um bom tempo

ah! e nessa de traumas, chuchu me lembra minha outra vó, que não sabia que eu não gostava, e mandou um monte de chuchu na minha marmita da escolinha de quando eu era pequena

e meu avô, coitado, que teve que cuidar sozinho de 3 irmãos (no caso eu e os meus) e queimou o arroz, enquanto a gente gritava pedindo pra ir à praia e perguntando quando a mãe e o pai voltavam

das frutas, eu adoro uva, congelada ou no vinho, que me lembra meu padrinho, que hoje em dia até faz vinhos e são maravilhosos!

carambola eu também adoro, me lembra minha madrinha, 

num dia quando eu era bem pequena, nós viajamos pra um lugar bem longe cheio de carambolas que era a casa de uma tia dela

lembro pouco de todo o resto, lembro só das carambolas

maçã, a mais básica das frutas, é a que eu mais gosto, prática, saborosa, não precisa nem descascar... me faz lembrar da minha prima, que, na versão maçã descascada, faz uma cuca maravilhosa de maçã 

das comidas, das lembranças e dos abraços, eu gosto de pensar que vou me construindo e me refazendo

com os novos-velhos cheiros

cheiros de tomilho

de alecrim

de canela

de açafrão 

cheiros que são absorvidos

e percorrem todo meu ser

me fortalecem

me acalmam

me transformam

cheiros que sempre estiveram ali

que retornam

e que permanecem.

domingo, 14 de abril de 2024

mais um domingo

um dia chuvoso acompanha meu tédio 
eu redescubro essa sensação 
me vejo em um contexto novo, velho conhecido
me vejo no vazio, que já não machuca tanto
vejo a luz fraca em frente ao sofá 
penso nesse aconchego do silêncio 
esse aconchego que voltou depois de tanto tempo 
o silêncio tem barulho de chuva
tem barulho do suspiro do gato
tem barulho de carros passando na rua
o silêncio é uma noite escura 
mas também é um dia cinza
a velocidade dos dias da semana escorrem pelas gotas da chuva de hoje, paralisando o tempo
paralisando todos meus pensamentos angustiantes
talvez os céus tenham escutado minha mente e pensado 'o silêncio da chuva vai te libertar'
e mandaram logo uma tempestade, vários dias de chuva
porque é tanto barulho na minha mente que só assim pra abafar
os domingos não me assustam mais
eu sou uma boa companhia pra mim.

domingo, 7 de abril de 2024

os domingos me destroem

todas as dores vêm numa avalanche

eu sento no sofá e ele diminuiu

não cabem mais 3 pessoas

eu me esparramo nele

com toda a minha solidão 

com toda a minha saudade

sinto claustrofobia de estar aqui

sufocada com meu vazio

o mundo parece tão grande

e eu me perdi completamente 

abandonei o que existia

fiquei só com o inexistente 

com o inesperado 

com o vazio, com o eco

as cores do céu parecem doloridas

azuis acinzentados

um tempo embaçado

como meus olhos 

um futuro incerto

de um passado incompleto

de uma vida não vivida

fecho os olhos e ouço uma melodia triste

tenho medo. muito medo.

sacadas

pontes de conexão com o mundo
lugar pra respirar
pra olhar o céu 
pra chorar
pra desejar
pra conversar com o universo
pra suspirar e lembrar
aqui não tem sacadas
tem janelas com redes
que parecem grades
que me deixam presa
presa num passado que me arrasta
que não me deixa respirar
nem conversar com o universo
por vezes precisei correr 
sair porta afora 
pra poder absorver um pouco 
do ar da rua
e tentar lembrar de quem eu sou.

terça-feira, 2 de abril de 2024

preciso comprar lâmpadas

como saber se ainda é amor?

como viver todos os dias pensando em ti?

como continuar seguindo em frente se olho sempre pra trás?

teria como ser mais difícil?

eu sei que na tua mente eu irei por onde tu fores

e tu sabes que tu também vai me acompanhar

como seria uma vida sem ter te conhecido?

eu penso todo dia que eu não queria conhecer essa vida

mas eu também queria outra vida

talvez eu tenha criado uma ideia na minha cabeça

talvez a ideia seja quem tu és

e talvez eu também seja apenas uma ideia

mas essas ideias iluminaram nossos caminhos por um tempo

e agora os caminhos estão na penumbra

como eu vou conseguir seguir em frente, se tudo que eu vejo é escuridão?

como eu vou encontrar meu caminho, se agora eu vivo na sombra?

quando eu vou ter uma ideia pra iluminar o meu próprio caminho?

a lâmpada do corredor queimou.

quarta-feira, 20 de março de 2024

karukasy

 descobri que aquele sentimento que tenho nos fins de tarde tem um nome específico em tupi. karukasy.
mas ainda não sei o nome pra sensação de que tu ainda vai chegar em casa.
não sei o nome do sentimento da confusão que tem dentro do meu peito, quando eu te digo não.
não sei o nome que se dá pro vazio que eu sinto por saber que a coisa certa é a que dói.
às vezes, eu penso que é saudade.
às vezes, eu penso que é tristeza.
mas eu acho mesmo que a angústia de não saber o nome faz parte do processo que me destroça por dentro.
talvez se eu descobrir é porque não importa mais.

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virei metáfora 


ontem, a casa era grande

eu cabia sempre nos mesmos lugares: 

sentada no mesmo lugar do sofá, 

deitada no mesmo lugar da cama

eu não sentava, 

ou deitava, 

ou ficava em pé 

em outros lugares, 

não tinha espaço 

hoje, a casa diminuiu 

ficou pequenina

mas agora tem mais espaço

e, curiosamente, 

eu me expandi

abro as portas e caminho 

por todos os cômodos, 

eu caibo em todos eles

nesse paradoxo de poder 

se expandir num 

espaço pequeno...

agora, 

eu me sinto a casa.

terça-feira, 19 de março de 2024

cheiros


abri o perfume que quase não foi usado
lembrei que esse é cheiro da noite, das noites
anoiteceu
lavei os cheiros antes de dormir
agora, o que mais me falta é o cheiro
aquele cheiro, o outro
o cheiro do abraço
o cheiro do sono
o cheiro do cafuné
o cheiro da pele
adormeço
e acordando é que eu vejo o tempo passar
o cheiro de choro

domingo, 10 de março de 2024

domingo

segunda-feira, recomeço 
terça-feira, não lembro das escolhas
quarta-feira, as lágrimas lavam a dor
quinta-feira, eu esqueço de comer
sexta-feira, eu esqueço de pensar
sábado, acordo sem ter pra onde olhar
domingo... o domingo é o vazio crescendo.