Eu imaginava jardins secretos no quintal de casa e me trancava no quarto para escrever no diário, inventando códigos de escrita que só eu sabia (pelo menos era o que eu pensava). Choro em espetáculos artísticos, em filmes e em museus. Me arrepio com bateria de escola de samba. Minha refeição preferida é o café da manhã em mesa posta, mesmo que eu só coma um pão na chapa e uma fruta. Minha matéria favorita na escola era História, a que eu odiava era Educação física, mas a que eu ia mal era matemática. Tenho uma família muito grande e sempre amei almoços de domingo, agora odeio domingos.
Quando eu tinha 8 anos, sentava no chão da sala no escuro, botava fones de ouvido e escutava Leila Pinheiro no volume máximo. Tive minha fase Legião Urbana, quando tinha 15 anos, assim como todo mundo. Hoje detesto. Gosto muito de música, de muitos estilos. Me identifico mais com uns do que outros. Me emociono fácil e gosto de cantar alto (sozinha!!!), mesmo desafinada. Antigamente, aumentava o volume dentro do quarto sem ligar pra quem estava fora. Hoje, se sinto que as pessoas não estão gostando das músicas, abaixo o volume.
Sempre fui de brigar pelo que achava justo. Já corri atrás de ladrão de boné do meu irmão (e peguei de volta) e já briguei com o valentão do prédio (que nunca mais incomodou ninguém). Já fui em muita manifestação. Mas acho que comecei tarde. No Orkut, aos 14 anos, marcava a opção "não gosto de política". Com 15 anos, eu estudava num colégio militar, matei a aula da tarde pra ir na manifestação pelo passe livre. Na 2ª série do médio, estudava em uma escola estadual, fui pra rua com o Grêmio estudantil pra pedir contratação de professores, porque estávamos sem algumas aulas há bastante tempo. Apesar de não ser filiada a partido nenhum, me identifico com a esquerda e com ideais socialistas.
Comecei a escrever um livro quando eu tinha 12 anos, com um amigo, mas eu me empolguei e escrevi sozinha 50 páginas. Não terminei de escrever o livro, virou um capítulo pela metade. Ainda tenho o manuscrito. Adoro cartas e cartões. Muitas vezes, gosto mais dos cartões do que dos presentes que ganho. Trocava cartas com colegas da escola desde o primário (sim, na minha época era primário), mas em uma mudança de casa joguei todas fora. Me arrependi e me arrependo todos os dias por isso.
Adoro ficar sozinha. Me dou muito bem comigo mesma, sempre gostei. Sou a mais velha de 3 irmãos e tive meu primeiro quarto sozinha quando eu tinha uns 8 ou 9 anos. A partir daí, fiquei viciada em ficar sozinha com a minha mente (que é bem barulhenta e não para quieta um instante). Apesar disso, adoro festas e comemorações cheias de amigas e amigos. Amo fazer aniversário. Por muitos anos, eu achava que no meu aniversário sempre ia chover e o dia sempre começava com brigas (esse ano, a maldição foi quebrada).
Aprendi a digitar mais rápido, porque eu conseguia visualizar mentalmente os lugares das teclas e não conseguia dormir, porque ficava digitando mentalmente a noite inteira. O bizarro é que era só com os dedos do meio (?).
Até uns 12 ou 13 anos, minhas roupas eram extremamente coloridas (laranja quase neon, azul...) e eu mudava de estilo a cada passo, mas consigo lembrar exatamente da sensação de desajuste em qualquer lugar que eu ia. Com 14 anos comecei a me vestir só de preto. Me encontrei. A sensação de desajuste sumiu. Apesar disso, quem olhava pra mim achava que eu era uma desajustada. Eu era (quase) uma santa (naquela época). Hoje em dia até uso cores, mas não muito. Nessa época, comecei a ouvir desde Nirvana, Scorpions, Van Halen, passando por Slipknot a Lacuna Coil. Fui até num show de Grave digger (e gostei e cantava todas as músicas).
Sempre fui extremamente tímida. Demorava muito pra fazer amigos. Mas lembro de todas as pessoas próximas que tive. Cada época, eu tive um(a) melhor amiga ou amigo. Ou pequenos grupos de amigos. Curiosamente, acredito que hoje tenho muitos pequenos grupos de amigos e amigas, mas que formam um grupo enorme. Continuo tímida, porém. Tímida e ansiosa. Minha cabeça, desde que me lembro, sempre criou diversos cenários e eu estava pronta para qualquer um deles. Talvez venha daí minha criatividade. Consigo pensar em menus gastronômicos com qualquer coisa que tiver na geladeira, ou decoração de festas com o que tiver guardado.
Amo mar, mas não gosto de toda a logística de chegar e ir até a praia. Mas, pra mim, um mergulho no mar cura (quase) todo sentimento. Ou pelo menos acalma. Há quem diga que eu sou como o mar. Eu costumava fazer planos de vida. Tinha uma lista mental que ia fazendo checks. Fiz check em todos os itens da lista. Atualmente, não tenho exatamente um plano pros próximos anos, só a consequência dos planos anteriores. Me sinto livre pela primeira vez na vida. É uma sensação estranha e contraditória.
Quando eu tinha cerca de 18 anos, descobri um tumor no cérebro. Isso mudou bastante o rumo da minha vida e a forma como eu via as coisas. Foi nessa época que eu, finalmente, conheci o feminismo de verdade. Costumo dizer que o feminismo me salvou. Hoje, sei que me salva todos os dias.
Desde que me conheço por gente, fui cercada por livros. Antes, eu lia muito mais que hoje. Conseguia virar a noite lendo e terminava um livro de 300 páginas em dois dias. Agora, se eu abrir um livro às 21h, durmo nas primeiras 2 linhas. Mas a leitura me ajudou em muitas fases da minha vida. Quando eu estava na 4ª série, minha família se mudou para Joinville e eu sofri muito com isso, então eu passava muito tempo dentro da biblioteca da escola lendo, sem conversar com ninguém. Levava livro pra casa toda semana. Lembro de muitos daqueles livros. Alguns nem tanto. Hoje em dia, a leitura e a literatura me faz pensar que ainda tenho muito o que ler.
Sempre sonhei em conhecer o mundo. Adoro viajar. Achava, antigamente, que nunca conseguiria sair de Santa Catarina. Acho que me desafiei a sair pra provar o contrário. Curiosamente, quando adolescente, eu falava que queria primeiro conhecer todo o Brasil pra depois conhecer outros países. Hoje eu acho que posso tentar fazer as duas coisas (quase que) simultaneamente.
Quando eu era pequena, morria de medo de cachorros. Não sei o porquê. Pensando bem, eu não era muito próxima de nenhum animal, na verdade. Quando eu tinha uns 7 anos, ganhei de aniversário um cachorro. Um Cocker Spaniel, o Puff. Perdi o medo. Meus pais perderam muitos sapatos roídos. Hoje, eu sei que sou muito mais uma "cat person".
Nunca fiz aula de inglês, a não ser as de verbo to be da escola básica. Tudo que sei são de filmes e de letras de músicas impressas e baixadas do Kazaa. Achava impossível acompanhar "complicated" da Avril Lavigne.
Não tive festa de 15 anos. Ganhei uma câmera fotográfica digital em vez disso. Meu primeiro aniversário grande (que eu me lembro, não quando bebê) foi o de 13 anos. Todos do prédio, da escola e dos primos foram. Teve até penetra. Lembro até hoje da minha roupa. All star cano alto azul marinho. Calça pantacourt jeans (na época não existia esse nome) e uma blusa preta (com uma estampa ridícula, mas era a única blusa preta que eu tinha). E brincos de hippie pra fechar com chave de ouro. Naquela semana, comprei uma saia xadrez num brechó e usei ela por muito tempo. Nessa época que lembro de ter mudado de estilo. Me senti eu.
Hoje, 35 anos. Me sinto mais eu que nunca.