Que loucura. Depois de um ano sem escrever, estou eu aqui de volta, em meio a uma pandemia. Muita coisa mudou nesse ínterim: o mundo inteiro está em quarentena, as aulas agora são online, as pessoas vão ao mercado de máscara, os antigos e famosos "motoboys" (que podem ser girls e podem não estar usando moto, e sim bicicleta, carro, a pé...) agora são os mais procurados e, também, explorados por nós e pelo capitalismo.
Hoje, em uma aula online com oitavos anos, resolvi parar pra conversar com estudantes sobre o que estavam sentindo, pensando, ou como estavam agindo e transformando suas rotinas nesse período. É incrível como a falta de interação presencial afeta a gente e todas as coisas que estávamos acostumados.
Muita gente afirma que, agora em tempos de isolamento social, as pessoas têm muito mais tempo para fazer coisas que não faziam antes. Temos mesmo? Ou estamos atolados em trabalho, em tarefas, em culpa por não estarmos sendo "produtivos" o suficiente de acordo com... quem? Me incomoda muito esse discurso de "não te faltava tempo, faltava disciplina" bla bla bla bla! Mais uma baboseira capitalista que exige de nós, em meio a uma pandemia, sermos máquinas de produzir conteúdo, máquinas de criação de ideias supostamente geniais, ou até "oportunistas". Estamos em crise. Crise de saúde. Crise emocional. Crise ambiental. São tantas crises que é difícil saber quais crises vêm primeiro. Inclusive, na atualidade, as pessoas podem ser divididas pelas suas prioridades nas crises. Há quem ache que o que vem primeiro é a crise financeira. Esses, normalmente, exigem dos que estão mais preocupados com a crise de fome que eles trabalhem pra manter o capitalismo girando.
É tanta crise que eu até esqueci da minha antiga crise da escrita e lembrei que esse blog existia.
Vendo os posts antigos, eu iniciei esse diário virtual em abril de 2010. DEZ anos atrás. É tempo. É mudança. Quem imaginaria que aquela Rafaella isolada em um quarto de hospital, que estava internada fazendo exames e que depois descobriria um tumor no cérebro, iria estar viva e saudável, passando uma crise mundial de saúde pra contar história...
Quando eu era bem mais nova, lembro de pensar que nada importante ou emocionante acontecia na minha vida. Nunca tinha quebrado um braço. Nunca tinha visto uma revolução. Nunca tinha tido um grande amor. Eis que um tumor no cérebro começou a mudar tudo que eu conhecia e sabia. Depois disso, veio o feminismo. Que baita revolução que o feminismo fez na minha vida! Fez eu entender relações de gênero, fez eu empoderar meninas, fez eu me envolver e me interessar por política. O feminismo fez eu entender que a sociedade é política. Eu me formei. Eu me tornei mestre. Eu descobri que minha mãe tinha uma doença autoimune. Eu casei. Eu trabalhei muito. Eu fui demitida. Eu sofri injustiças. Eu me recuperei. Tudo isso aconteceu pra eu morder a língua da Rafaella do passado que queria emoção. Agora estou eu aqui, há um mês em isolamento social dentro de casa, passando por uma pandemia mundial que daqui a muitos anos estará nos livros de História (junto com várias análises críticas sobre um líder de Estado completamente incompetente).
Lição disso tudo: a gente tem que cuidar com o que deseja.
Mas a gente tem que aprender a viver, também. Tem que aprender a aproveitar os momentos "pequenos" e ver que isso também importa. Eu tô dentro de casa há um mês, tentando inovar em conteúdos online, morta de dor nas costas de ficar na cadeira em frente ao computador e corrigindo redações. Mas eu também tô vendo minha enteada começar a gostar de ler e ler livros inteiros em pouco tempo, eu tô conseguindo cozinhar com calma, eu não tô perdendo tempo dentro de um ônibus 4 horas por dia, eu tô vivendo bem (dentro do possível e dos meus muitos privilégios, por ter onde morar e ser uma pessoa com emprego) e eu quero lembrar disso daqui uns anos como um aviso pra todos mudarem seus hábitos, sua forma de ver o mundo.
Acho que, embora eu esteja surtando com pressão psicológica, emocional e tudo o mais por causa de uma pandemia, eu vejo que é o momento da gente refletir, nem que seja 5 minutos, sobre como queremos ser daqui pra frente. Se queremos aceitar toda essa pressão do capitalismo acima de nossa saúde física e mental. Se vamos aceitar tanta gente não podendo escolher entre ficar em casa e correr riscos na rua indo trabalhar. Se vamos tentar mudar.
Sei que normalmente eu escrevia e sempre finalizava com uma baita reflexão ou tinha um fechamento que me agradava, mas esse texto não tem um fim, porque eu ainda estou no meio de todo esse furacão e não sei quando vai ser o fim. Espero que os livros, ou e-books, de história daqui uns anos falem sobre como essa pandemia foi um divisor de águas.
Falando em água, é o que eu queria agora: um mergulho na água do mar, bem limpinha, depois de não ter ninguém nas ruas sujando...
E o que vocês querem agora? E pro futuro?