A primeira vez, que eu lembro, que tive que lidar com distâncias foi quando eu tinha uns 9 anos de idade e fui morar em Joinville, porque meu pai foi transferido do trabalho. Eu fiquei longe da minha família, dos meus amigos, dos lugares que eu estava acostumada. O pouco tempo, em números, em que fiquei naquela cidade, me pareceu uma eternidade, porque eu estava longe de tudo que - a princípio - me fazia ser eu. A partir daí, eu fui aprendendo a lidar com distâncias do meu jeito: ficando só eu e a escrita, seja lendo ou escrevendo.
Eu entendi que nada, nem ninguém estava impossibilitado de estar distante. A escrita, sim, poderia não ser distante. Não ser distante de mim.
Depois disso, lembro de ter lidado com distâncias de diversas formas, mas as que mais marcaram foram as distâncias que não eram físicas. Quando eu fiquei internada, eu fiquei longe da minha casa e da minha família de novo, mas não foi só fisicamente. Os relacionamentos não são os mesmos depois que as pessoas passam por problemas que não sabem explicar. A gente fica marcada. As distâncias deixam cicatrizes.
Conforme o tempo vai passando, a vida adulta vai cada vez mais dando as caras, as distâncias vão se tornando mais frequentes. As amizades vão se distanciando fisicamente, cada um toma um caminho que sonhou, planejou, ou que surgiu. As distâncias físicas, aí, se tornam também emocionais, e a gente vai conhecendo outros tipos de distâncias.
A gente vai descobrindo que uma pessoa do lado pode estar distante. A gente descobre que pode parecer distante, mesmo sem querer.
A gente descobre que as distâncias deixam tantas marcas que a gente se distancia até de si mesmo.
A gente lê o noticiário, as redes sociais, e tenta se distanciar da realidade.
A gente se distancia das ideias que um dia passaram na nossa cabeça.
Eu um dia pensei que se a gente conversasse com qualquer pessoa, as coisas poderiam se resolver.
As distâncias são tão traiçoeiras que elas não esperam muito tempo pra aparecer.
A gente vive buscando encurtar as distâncias.
Eu vivo tentando encurtar distâncias. Eu vivo querendo o amor do meu lado.
Por isso eu escrevo.