quarta-feira, 9 de novembro de 2011

oração da graduação


Eis que demorei alguns meses para reescrever aqui. 
Na verdade  tenho tantos rascunhos que mereciam ser postados, mas  não tenho coragem de publicá-los (porque são realmente RASCUNHOS) 
Acho apenas que esse post merece ser publicado, está longe de ser algo completo e explicativo e eu deveria escrever coisas maravilhosas sobre esse momento, mas como deixei criar mofo ficou um pouquinho difícil de organizar.. então acho que vou apenas ao ponto que interessa: o discurso.
Sim, o discurso de formatura
Agora sou Licenciada em Letras Língua - Portuguesa e Literaturas Vernáculas, pela Universidade Federal de Santa Catarina, coisa chique! 
Lógico que eu não parei por aí e já passei no mestrado em Educação e agora sou "mestranda", mas aí já foge do foco do post...
Continuando... eu fui oradora da turma, junto com um colega. Estávamos numa super correria para finalizar trabalhos, fazendo provas e tudo o mais e ainda a "briga pelo discurso". Precisávamos de um texto pronto num prazo ínfimo daqueles que todos os universitários conhecem... e como eu sou eu, acabei puxando a responsabilidade pra mim e fiz o texto todo (claro que mandei pro meu colega pra ele dar suas sugestões, mas a sugestão dele foi: É ISSO AÍ!)
Então como o tempo urgia e nós precisávamos nos posicionar, deu no que deu...
Eu não quis escrever palavras muito emocionantes porque se eu começasse a ler e gaguejasse e borrasse minha maquiagem eu ia achar um desastre, então as palavras vieram pra representar o que nós (formandos - mais a nossa "patotinha" que entendeu, mas ok) queríamos dizer, sem muita choradeira... 
(mesmo porque choradeira a nossa professora paraninfa linda e maravilhosa já conseguiu fazer sem muitos esforços no discurso dela direcionado a nós, ainda citando nomes!)
Claro que eu tinha que colocar um "toque de Rafaella", ou melhor, de "Alice", mas tudo se encaixou.  Enfim.... lá vai:


Discurso de Formatura

ELE: Boa noite, primeiramente gostaríamos de desejar glória a todos os formandos...

EU: Glória? Mas o que você quer dizer com glória?

ELE: Eu quero dizer que esse é um dia especial para todos nós, porque finalmente acabamos a graduação.

EU: Mas glória não significa isso...

ELE: Como diria Humpty Dumpty, uma palavra significa exatamente o que eu quero que ela signifique.

EU: Como diria Alice, a questão é saber se você pode fazer uma palavra significar para você coisas diferentes do que significam para outras pessoas...

ELE: Continuando com Humpty Dumpty, a questão é... saber quem é que manda...

EU: Bom... É inevitável pensar em inúmeras citações para descrever o processo pedagógico (ou talvez não tão pedagógico assim) do curso de graduação.
Inicialmente nos fazem acreditar que nossa palavra não vale nada sem que esteja baseada em alguma teoria que a sustente, mas também há quem diga que isso é só provocação.
O ambiente acadêmico é um local onde se aprende a citar, a reconhecer os nossos discursos nos discursos do outro. É nesse reconhecimento de discursos que vamos nos constituindo, encontrando concepções que vão nos orientar (ou desorientar) em nossa vida acadêmica.

ELE: Agradecemos a todos que fizeram parte de todo esse processo (muitas vezes no estilo kafkiano!), aos que nos influenciaram em nossa busca pelo conhecimento, aos que nos apoiaram em todos os momentos, aos que apenas diziam que nos apoiavam e aos que não nos apoiaram em momento algum, desde os que nos disseram “você tem certeza que quer continuar?” até aos que nos disseram “vamos lá, precisamos revolucionar!” .

EU: Não foram poucas as lutas contra o tempo e os momentos em que gostaríamos de seguir o coelho branco e ir para o país das maravilhas... Apesar de tirarem nosso direito da “hora do chá” e as lanchonetes virarem salas de aula, ninguém cortou nossas cabeças... 
[Sim, isso foi uma sutil alfinetada, e nessa parte eu tava tão nervosa que errei a concordância e li "ninguém CORTARAM nossas cabeças". Vi jeito de pessoas gritando que iam cortar minha cabeça porque eu, uma FORMANDA DE PORTUGUÊS, errou a concordância! hahahaha]
Estamos aqui porque soubemos aproveitar as influências positivas e as negativas serviram de desafio para que fossemos muito melhor.

ELE: Hoje receberemos títulos diferenciados, de Bacharel e/ou Licenciatura, mas na essência isso não nos diferencia no exercício de nossas futuras profissões.
Afinal, trabalharemos com a palavra, somos profissionais da Linguagem. Quem trabalha com a Linguagem sempre estará compromissado com a interação entre as pessoas e o conhecimento.
Passamos por tanto e quando chegamos ao final da graduação nos vem à mente a pergunta da lagarta: “Quem és tu?” e não sabemos como responder...
Somos todos pesquisadores E professores, pois estamos sempre em busca de novos saberes e seja ministrando aulas, seja escrevendo artigos, seja fazendo traduções, produzimos conhecimento!

EU: Somos fruto das interações, feitos de infinitos “eu(s)”, somos um tecido de citações.
Entramos na Universidade sem saber quem exatamente éramos, terminamos a graduação e... continuamos sem saber! Mas... Como Alice respondeu para a lagarta: “eu sei quem eu ERA hoje pela manhã, mas já mudei muitas vezes desde então...” 
é esse, portanto, nosso objetivo: continuar mudando muitas vezes.
A graduação acabou, mas ainda temos muito pela frente...

Feliz desaniversário a todos nós!!


E essa foi minha oração final na graduação.