sexta-feira, 27 de abril de 2012

sou manezinha e com muito orgulho, ixtePaul!

Quando acordei no dia 25 de abril - que não era de 1985, mas sim - de 2012, eu me preparava para um inesquecível day in the life!
Pela manhã - chovendo bastante - I've gotta a feeling que o trânsito estaria caótico. Ficava olhando pela janela e pensando "alguém can drive my car, eu chegaria mais rápido", mas não, fui de ônibus para a faculdade, como todos os outros dias.
No caminho, a fila era a habitual, fiquei pensando nos afazeres da universidade, nas crises da pós-graduação e até em ser uma Paperback writer...
Finalmente cheguei na UFSC, na reunião com a orientadora do mestrado e I saw her standing there, esperando pra começar a me passar "tarefas de organização pós-evento de literatura".
Esse evento foi um seminário de literatura infantil e juvenil, que foi divulgado inicialmente pela internet (por mim!) e teve uma repercussão tão grande que tivemos que encerrar as inscrições antes do prazo previsto, pois a procura foi maior que a esperada. Tinham inscrições de todos os lugares do Brasil (e em princípio eu imaginava que seriam só os próprios alunos da UFSC!). A responsabilidade crescia, porque, querendo ou não, quando algo tem visibilidade um pouco maior, a gente sente que tem que superar expectativas e não apenas "satisfazer".
Passado o evento deu tudo certo, mas ainda temos muito o que fazer e sabemos que precisamos de muita coisa pra melhorar, mesmo com os infinitos elogios. Ainda discuti com minhas colegas sobre as coisas que os participantes do evento criticam e não sabem a trabalheira que é "estar por trás das cortinas". Temos que pensar em tudo que pode acontecer e, principalmente, no que não pode acontecer de jeito nenhum!
Acabou a reunião, fui pra casa... Chegando em casa eu já podia parar de pensar em dissertação e certificados do seminário e podia começar a pensar em me preparar pra Magical Mystery Tour! Sim! Pra quem ainda não entendeu, pela primeira vez na história um beatle tocaria (e tocou!) em Florianópolis!
E será que não poderia ser mais especial do que o Sir Paul McCartney!?
Não encontrei explicações pra esse fenômeno, uma espécie de adoração momentânea compartilhada por um número interminável de pessoas (como se eu tivesse encontrado explicação pra algum fenômeno! mas enfim... what's the use of anything?).
Lembro de eu sempre falar "ah, eu não sou fanática por nada, acho que nunca ficaria esperando nessas filas desde cedo pra comprar um ingresso, ou coisas relacionadas", mas a primeira vez que ouvi rumores que o ex-beatle vinha pra minha cidade eu pensei "isso é histórico, eu não posso perder!" E ainda tem um detalhe muito "djugo djugo", uma música dele faz parte da minha história. Meus pais casaram com words of wisdom sendo pronunciadas até o momento do 'SIM' definitivo. Anos mais tarde, no Birthay de meu irmão, eu e o Junior (que não tem uma fazenda) escrevemos esse refrão em nossa pele - ambos fizemos a mesma tatuagem, em homenagem aos nossos pais e à clássica canção beatleniana, escrita por Paul.
Essa admiração por um ícone é cultural. Os Beatles fazem parte da nossa cultura. Quando pensei em Paul, pensei "vou deixar passar a oportunidade de contar pros meus netos que fui num show de uma lenda viva (lenda viva Here today, né) da década de 1960?"
Vou poder passar minha experiência vivida pros meus netos e eles vão adquirir a experiência narrada, isso é lindo (ou, isso é teoria literária!), seria como se o tiozinho do submarino tivesse contando suas histórias e sentíssemos como se we all live in a yellow submarine.
Há quem diga que a antiga geração era melhor, há quem defenda que as coisas novas são melhores, eu digo que não existiríamos se não fosse o passado. Não somos quem somos se outras pessoas não tivessem nos ensinado o que sabemos (tanto para reproduzir ou para transformar). Paul foi um dos pioneiros na sua época, faz parte da história, é um clássico, atravessa os tempos e ninguém consegue Carry that weight como ele. Por isso, independente de gostar da música ou não, as pessoas tem que saber quem ele foi, isso é história. Se, por exemplo, alguém fosse fazer um carro e não soubesse que já inventaram a roda, essa pessoa perderia um tempão com isso e perderia a oportunidade de fazer uma nova descoberta, algo que aprimorasse a "antiga roda"... Com os Beatles (e com qualquer coisa na história humana) é mais ou menos por aí. Ver (e ouvir, principalmente!) um beatle é uma experiência emocionante pra quem vivencia, porque o ser humano quer "fazer parte da história".
Clássico é clássico. E isso não é tautológico, esses devaneios não são só Ob-la-di ob-la-da, Ítalo Calvino me entenderia...
Enfim, agora chega a parte de falar sobre the Night before (no caso, a noite do show!)
O "Portal" que nos levaria (eu, amigos e meu irmão) até nossos Golden slumbers, ironicamente ou não, era o vão entre a porta do banheiro feminino e o banheiro masculino do terminal central de ônibus. Começava nossa jornada com alguns "sinais"... Entramos em nosso meio de locomoção, todos em pé, na expectativa, e em cada parada, tentávamos descobrir se as placas de "Estasionamento" eram do pessoal "credenciado" da organização do show. Maybe I'm amazed, achei que o trânsito estava fluindo muito bem, a pista só para ônibus funcionou maravilhosamente.
Chegamos em nosso destino, estádio da Ressacada (que é só apelido, mas eu não sei o nome original, porque... porque eu não sei.), mais uma (?) fila (se é que poderíamos chamar aquilo de UMA fila). Mal sabíamos que aquela seria só uma prévia do que estava por vir. Sentamos no chão, tempo bom, tinha parado de chover, mas olhamos pro céu e um BlackBird voava (para alguma direção que eu não sei qual era) e meu irmão, manezinho que é, concluiu que ventaria bastante mais tarde. Abrem-se os portões, chegou a hora de entrarmos, aquela fila toda sentada se levanta, aquela lerdesa toda. Todo mundo preocupado com os pacotes de bolacha e com as garrafas de água que tínhamos na bolsa, que seriam jogados fora na hora da revista, esperamos chegar nos portões e... TCHANAN! Não houve revista! Não pediram documento, nem passaram detector de metais e nós simplesmente entramos! (pensando: e aquela "rigorosidade" toda que afirmaram que aconteceria e por isso meio mundo não pôde comprar meia-entrada e talvez por isso - e por mais um monte de coisas - não esgotaram os ingressos?)
Passada a aventura para entrar, só mais algumas horinhas de espera pro início do show... então, em sua pontualidade britânica, às 21h30: "Oi, manezinhox". E assim se iniciava a histeria coletiva!
Cada música acompanhada por muitos gritos e muitas lágrimas, até quem jurava de pés juntos que nunca choraria em shows musicais foi tomado por something sem explicação e deixou a emoção comandar! Ouvir "na na na, hey Jude" em coro arrepiou a multidão! Paul "se enturmando" e incentivando os manezinhos a cantarem junto, com seu vocativo "Ixtepôu", arrombou!
Toda vez que penso que essa multidão que estava lá com um único propósito, se se juntasse SEMPRE em coro pra falar coisas boas seria tudo tão lindo! Continuo me arrepiando.
Gritei aquecida com os fogos em "Live and let die", gaguejei cantando alucinadamente "léribiiiiii" e me afoguei no choro olhando pro lado vendo meu irmão secando os olhos... naquelas horas todos estavam doloridos, encharcados, mas ninguém pensava nisso porque a energia era tão boa que não tinha porque se deixar abater, era só "Let it be"!
Ainda sou jovem e meu coração um livro aberto, acho que por isso cada momento do show foi significativo e escreveu alguma palavrinha na minha história.
Mas aquela magia toda tinha que ter um The end... e teve.
A fila no final do show era The Long and winding road... após todos aqueles encantamentos do Sir Paul, vinha a realidade da Sra. Fila que enfrentamos para sair do estádio - que eu relacionei o apelido de Ressacada por deixar as pessoas de ressaca, mesmo sem terem consumido bebida alcoólica. - Foi um pesadelo: uma saída, (quase) 30 mil pessoas, muita chuva, crianças, idosos, cansaço, frio e o fim de um momento de encantamento. Entramos na fila sem saber pra onde iríamos, todos deveriam pegar os ônibus que estavam aguardando seus passageiros. A ideia era genial, mas a prática não foi.
O labirinto era feito de cavaletes de metal que davam voltas quilométricas e desnecessárias, a imagem lembrava campos de concentração da segunda guerra, garanto que nesse caso ninguém gostaria de estar Back in the USSR, várias pessoas caminhando sem saber para onde, sofrendo, sem poder fazer nada para mudar. Os ônibus saíam um a um e as pessoas (tanto os fãs quanto os trabalhadores do evento) já estavam exaustas, todos queriam ir embora e ninguém sabia o que estava fazendo, para onde estava indo. Só pensávamos "If we ever get out of here eu quereria uma sopa, um banho quente e minha cama!". Em certo momento dos 130 minutos que eu e meu irmão (só nós 2, pois nos perdemos dos outros em meio àquela confusão) estávamos na fila, de repente abrem-se alguns cavaletes e grupos de pessoas (que entraram na fila depois de nós e de muitos outros) começaram a encher os ônibus, isso transformou a espera em mais revolta e aos nossos olhos mostrava o despreparo dos seguranças que, em tese, estariam ali para organizar e orientar. Depois de ver crianças, mulheres, idosos e homens sendo desrespeitados naquele ambiente, se sentindo humilhados naquela situação, as lágrimas que antes eram de alegria agora escorriam pelos olhos de todos, mas de tristeza, repletas de um sentimento de impotência, do desespero da violação do nosso direito de ir e vir. Quando finalmente visualizamos a Hope of deliverance e então conseguimos entrar no ônibus para sair dali, apesar de tremendo de frio e "acabados", estávamos felizes, estávamos juntos e queríamos que as coisas boas prevalecessem, mas ainda outro episódio nos aguardava. O ônibus que nos levava parava nos pontos de estacionamento (dessa vez tanto faz o s ou c, porque a chuva era tanta que não víamos nada), quando parou no suposto último ponto perguntamos (todos que estavam no ônibus) para o motorista se iria para o centro ou se teríamos que descer ali, a resposta foi "vai pro centro", confiamos, ficamos dentro do carro. Ao invés de seguir em direção ao túnel (rumo ao centro, que seria o caminho correto) o motorista faz o retorno em direção ao estádio! Todos começaram a gritar e o motorista a rir! Perguntamos novamente se ia pro centro e ele, após ter atravessado a via expressa sul, e voltando, nos diz "se vocês querem ir pro centro agora têm que descer aqui e atravessar a rua pra onde vocês tavam e pegar outro ônibus!". Todos desceram e foram se arriscar atravessando a rua com carros que vinham a 100km por hora. Quando atravessamos, informamos uns policiais, que estavam no local, do ocorrido e eles se puseram a rir, da mesma maneira que o motorista. E a decepção de ter presenciado essa atitude só me fez pensar What's the use of worrying? Vale a pena perguntar por que esse motorista fez isso? Não. Então... when I find myself in times of trouble eu só preciso pensar em words of wisdom e "Let it be"!
Cheguei em casa e, no fim das contas, a aventura foi maior que a esperada. Passei por todas as emoções e sentimentos num dia só. Desde alegria, histeria, nostalgia à tristeza, raiva, decepção... mas a parte das coisas ruins eu quero Let me roll it pra bem longe.
Prefiro lembrar apenas dos momentos lindos do show (todos!), e agora até Because the sky is blue, it makes me cry! Mas não são lágrimas de tristeza, são lágrimas de reflexão. Não condeno ninguém da organização do evento e nem as pessoas que queriam "quebrar tudo", não temos como voltar pra Yesterday...
Me entristece todas as vezes que ouvi moradores falando "isso é Floripa, esperava mais?" Eu sempre respondo mentalmente: LÓGICO QUE SIM! E aos que não são daqui e reclamam do lugar e obtém respostas do tipo "get back to where you once belonged" me entristecem mais ainda. Porque na realidade isso não é resposta, é uma defesa, e eu, como manezinha (ou, florianopolitana, como preferirem) penso que não deveríamos nos defender, porque não somos culpados de nada.
O que se pode fazer é Sing the changes e sempre querer melhorar! Resignação não leva a lugar algum.
Eu acho que o desejo do Paul, quando terminou a passagem dele pela América do sul aqui em Florianópolis, era só: Everybody gonna dance tonight, Everybody gonna feel alright!
Mas, if this ever-changing world in which we live in makes you give in and cry... Say live and let die!
E eu ainda digo outra coisa: a gente supera, esquece, seleciona lembranças, então... Let it be, ixtepô!