terça-feira, 23 de outubro de 2012

Paradoxo da sapiência, ou, qual a moral da história?

Toda vez (que eu viajava pela estrada... ) que eu me disponho a abrir o arquivo com a minha dissertação eu travo. Então, pra não perder a viagem, dessa vez eu abri a aba de postagem do blog... não que eu tenha qualquer coisa interessante pra falar, ou alguma coisa que valha a pena ser compartilhada nesse momento, mas só pra não perder o hábito da escrita, que, na verdade, não existe. 
Ninguém tem hábito de escrita, assim como ninguém tem "hábito de leitura". Quando alguém fala que "o brasileiro precisa adquirir o hábito da leitura", eu fico pensando: "o brasileiro deveria adquirir o hábito de dar seta no trânsito, de jogar lixo no lixeiro, de ser educado com idosos, de parar de reafirmar que pra tudo existe 'o jeitinho brasileiro'... E outra coisa muito importante: parar de afirmar e se identificar com a afirmação que "brasileiro deixa tudo pra cima da hora!". 
Eu queria tirar essa coisa que me colocaram na cabeça, porque meu subconsciente assimilou isso de uma forma, que eu não dou conta de tudo que tenho que fazer "em cima da hora". Porque eu nem tenho que fazer nada em cima da hora, mas se tenho tempo pra fazer, não consigo. Já me disseram: "o segredo é a disciplina!", mas se for esse o segredo mesmo, o segredo tá muito bem guardado, porque eu não descobri como me disciplinar. 
Depois que meu último exame deu tudo ok, digamos que o Cushing não é mais desculpa pra nada, ou seja, se eu não consigo fazer qualquer coisa, a culpa é minha. Mas, sinceramente? Eu acho que o Cushing nunca foi desculpa pra nada! Até porque se foi, no período que eu descobri até a última cirurgia, eu tive tantas "conquistas" que posso até agradecer ao cushing então... Tá, nada a ver eu citar o Cushing falecido agora, o caso é: eu estou muito bem, obrigada, etc e tal... PORÉM, eu estou sofrendo com outra doença e essa doença já me acompanhava antes e às vezes eu chego a pensar se essa doença não foi o que me deixou com cushing. Lógico que é a maior viagem e parece uma teoria da conspiração, mas às vezes faz sentido (pelo menos pra mim).
A doença que eu me refiro é a "doença acadêmica": a obrigação de estar sempre produzindo, escrevendo, lendo, cumprindo horários na universidade, de pesquisa, de aulas... Tudo isso nos deixa com um nível de estresse tão elevado que acaba desregulando as produções normais de hormônio de qualquer ser humano. Em consequência disso, como o cortisol é hormônio do estresse, meu organismo endoidou e lançou um tumor na minha hipófise pra conseguir produzir tanto cortisol que meu corpo estava pedindo... mas é aquela coisa, tudo quando é demais faz mal, aí deu no que deu. 
Um monte de blablabla, mas faz sentido, vem dizer?
Pois então... agora que o cortisol foi embora e eu estou com insuficiência adrenal, meu problema da doença acadêmica tá tomando proporções maiores, acho que meu organismo tá meio idiota e não tá respondendo aos estímulos mentais que eu preciso pra escrever o que deveria... 
E daí eu me pergunto: o que eu deveria escrever? *pergunta de um milhão de dólares*
É complicadíssimo achar que deve escrever um zilhão de coisas e achar que também não dá conta de escrever nem uma mísera coisa. Há quem diga que sábio é aquele que tem consciência que não sabe praticamente nada. Paradoxo da sapiência: o sábio que sabe que não sabe. E eu digo: pqp! Se fosse assim eu era uma gênia! Posso colocar isso no meu lattes?
Eu sei que todo mundo passa por dificuldades e todo aquele blablabla de livros de autoajuda que eu sempre escrevo, mas a gente cansa de ficar empacado batendo na mesma tecla, né? Tudo bem que eu já bati em várias teclas aqui, agora, mas não são as teclas certas. Quero minha dissertação do mestrado pronta amanhã sem eu precisar pensar muito nas teclas, só ir digitando, como se fosse a coisa mais normal do mundo, como se eu tivesse o hábito da escrita (que não existe).
A minha crise dessa coisa de "hábito" do sei lá o que é pelo tema da minha dissertação, sim, lógico. Meu tema de pesquisa basicamente é literatura em sala de aula (nos anos iniciais do ensino fundamental). O que eu acho interessante é que TODO MUNDO afirma que ler literatura é muito importante, leitura faz da gente uma pessoa melhor e todo aquele papo que todo mundo que vive no mundo moderno, numa sociedade grafocêntrica, conhece. O caso é: tá, ler literatura é importante, eu também acho, mas eu acho porque eu gosto e se eu não gostasse? Será que eu acharia a mesma coisa? Será que a gente não acha importante certas coisas simplesmente porque a gente não gosta? O que faz a gente não gostar das coisas? *pronto, minha cabeça explodiu agora* 
Então... a parte da "moral da história" lá do título... é. O título (provisório, porque na dissertação tudo é provisório até que chegue o dia da impressão final) da minha dissertação é relacionado a isso. Nem sei se eu poderia ficar escrevendo aqui, vai que alguém rouba meu título genial, né? Mas não tem problema, já tá registrado no lattes e no comitê de ética mesmo, se começarem a usar pelo menos o meu é datado! (se ligaram na minha super ameaça disfarçada, né? cof cof) Qual a moral da história? Afinal, história precisa de moral? O que se considera história? Chatice, né? Eu acho o máximo. Pena que justamente o que eu acho o máximo é o que me deixa doida. 
A gente vive procurando respostas, criando perguntas, complicando a vida... pesquisas acadêmicas, pra mim, se resumem a isso: inventar problemas pra poder ter uma pesquisa. Não, eu não acho isso uma coisa ruim, pelo contrário, acho que esse é um dos objetivos do ser humano: investigar. Talvez todo mundo tenha um pouquinho de detetive dentro de si, (vulgarmente conhecido como: síndrome de fofoqueiro) mas isso não quer dizer que toda investigação seja relevante... Daí que volto pro lance da moral da história... será que tudo precisa de um sentindo? Talvez eu conclua o mestrado e descubra que tô na área errada... ou talvez não exista essa coisa de certo e errado. Ou talvez esteja tudo errado. AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH...