sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Primeiro dia de aula: uma história sem fim.

2015 e o primeiro dia de aula dos alunos. 
Novo colégio pra mim, nova professora pra eles. 
Novas turmas, novos alunos, novo programa de ensino. 
Tudo novo. 
Porém, algumas coisas continuam iguais: o novo sempre dá aquele friozinho na barriga, aquele "medinho" do desconhecido, aquela ansiedade... 
Volta de férias em plena quinta-feira pós-carnaval nem é bem uma volta de férias, é mais um reencontro dos amigos/colegas que qualquer coisa - pros alunos. 

Os alunos ainda estão naquele alvoroço, eu só dou uma aula em cada turma e, como desta vez eles são (em média) 40 ao invés de 25, estranhei um pouco este "mísero" detalhe... 
De início, aqueles 40 parecem uma "coisa" só, aqueles rostinhos ainda não foram assimilados pelo meu cérebro, os nomes, então, muito menos; eles juntos parecem um único som: o da bagunça. 
Aí aquele meu frio na barriga foi se transformando em calor no momento em que eu abri e boca e disse: bom dia. (aqueles rostinhos me diziam "bom dia pra quem, cara pálida?") 
Aquela resposta em uníssono me fez pensar nos Iskalnari, da "História sem fim" - os marinheiros da névoa, que viviam em conjunto, sempre juntos, eram iguais; mas por serem iguais não sentiam falta de um "indivíduo", a unidade não era importante. Isso me incomodou. 
Depois de uma breve dinâmica (quem diria, heim? eu fazendo dinâmicas...) pedi que eles escrevessem um pequeno texto, motivados pelo diálogo entre a Lagarta e  a Alice (previsível...), respondendo à pergunta "Quem és tu?" Aula terminada, textos escritos. Voltei pra casa.

Cheguei em casa e fui ler os textos... cada texto, uma letra diferente, uma quantidade de linhas diferente, um nome, uma identidade, algumas risadas, algumas emoções... Aquela unidade do primeiro dia de aula foi se transformando. O "uníssono" agora era "Vários". 

Segundo dia de aula.
Os alunos agora não eram apenas um som, eles eram diferentes rostos que respondiam à chamada pelos diferentes nomes que lhe foram "determinados", mas que não os definem simplesmente. 

Uma semana de aula.
Aqueles rostinhos nomeados já tem idiossincrasias perceptíveis e já me fazem sorrir há alguns dias. Os pequenos seres, que têm entre 12 e 13 anos, já fazem parte dos pensamentos de uma professora motivada por eles e para eles. E isso me faz lembrar que eu sou alguém também porque eles existem. E isso me deixa feliz.

No fim de cada dia de aula, ele sempre é o primeiro, o único, mas não por ser igual aos outros, mas porque fez parte da vida de cada um daqueles indivíduos que estão lá me olhando na frente da sala... E eles, com seus olhares curiosos, fazem eu ter vontade de continuar as aulas, essa história sem fim, sorrindo.